Na véspera de Natal acordei cedo. Minha mãe já havia me chamado pelo menos
umas cinco vezes. Desci, tomei um banho superdemorado - o chuveiro do banheiro de
baixo tem o jato de água mais forte - daqueles que fazem a gente despertar, e fui para a
cozinha.
Sobre a mesa encontrei um dos famosos bilhetes da minha mãe, que só serviam
para me dar ordens - 'Marcus faça isso, Marcus faça aquilo' - ser filho único nessas horas
era muito ruim, pois qualquer atividade especial acabava sempre sobrando para mim.
Das tarefas que ela havia deixado, a principal delas era a de levar a mesa da
cozinha para o barracão dos fundos e a pior era a de arrumar o barracão, que quase sua
totalidade era ocupado com minhas coisas. Eu sempre fui de guardar coisas velhas e
quebradas. Minha mãe dizia que eu havia puxado ao meu avó Francesco, que também era
mestre em guardar porcarias.
Com um sanduíche de queijo na mão esquerda e um copo de leite gelado na mão
direita, fui para o barracão, quando ouvi meus pais chegando. Devagarinho e sem fazer
barulho fui a cozinha para surpreendê-los. Na verdade, eu sempre brincava de dar sustos
na minha mãe. Quando cheguei perto da porta, percebi que eles estavam falando de mim
e apesar de não ser correto, resolvi ficar ouvindo.
Eles estavam conversando numa boa e meu pai dizia:
- Sabe, Ana, eu me sinto cúmplice de tudo isso ao apoiá-lo. E nada disso me faz
bem. Mas o que a gente pode fazer? Se nós virarmos as costas, nós vamos deixá-lo
sozinho. E isso eu acho pior. Sozinho, ele vai encontrar gente de toda espécie. Algumas
pessoas vão querer se aproveitar dele, seja em sexo ou em drogas. Nós sabemos como é o
mundo lá fora. Quando você foi consultar a Sílvia, que trabalhou com jovens
problemáticos na cidade... Como era mesmo o programa social?
- 'Vamos tirar os jovens das ruas'
- É esse mesmo, Ana. Você lembra que ela falou que meninos na idade do Marcus
estavam vendendo o corpo em troca de dinheiro para sobreviver? Sabe, Ana, se alguém
tem que passar por algo que não gosta, acho que tem que ser a gente e não ele. Vamos
fazer com que as coisas aconteçam com a maior dignidade possível.
Sem fazer barulho, resolvi voltar para o barracão. Me arrependi de ter ouvido esta
conversa. Eu não faria nada disso. Comecei a pensar num jeito de mostrar que eu estava
lá, mas que nada tinha ouvido. Comecei então a cantar e em poucos minutos eles vieram.
Quando os vi, disse:
- Vocês já chegaram?
Eles não perceberam nada e minha mãe disse para me apressar, pois logo os
convidados chegariam.
À noite, minha casa já estava cheia de gente. Por parte de meu pai, estavam seus
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Eterno Amor (romance bissexual)
RomanceEterno Amor, fala de amor, de paixão e de liberdade. Reflexivo no final, acredito que sua leitura, indicada para todo segmento da sociedade venha contribuir de forma positiva para o fortalecimento do respeito a que todo ser humano tem direito.