Em poucos meses, meus pais puderam finalmente perceber que o filho deles
continuava sendo o mesmo garoto de sempre; que a minha nova opção sexual não havia
me transformado em nenhum Frankenstein. Mesmo com toda a limitação que o meu
mundo continha - várias foram as vezes em que contornamos situações um tanto quanto
delicadas - , felicidade era um estado de espírito quase constante no meu dia-a-dia.
Uma dessas situações aconteceu no meu aniversário de dezessete anos quando, a
pedido de meus avós, foi feita uma grande festa na casa deles em Jundiaí. Por tradição de
família - meu avô acreditava nisso -, uma boa comemoração tinha que durar no mínimo
três dias. O que mais chamava a atenção neste tipo de festa é que, a certas horas da noite,
os convidados - exceto parentes - iam embora para suas casas e voltavam no dia seguinte
para prosseguir com a festa, e assim sucessivamente até acabar.
Por um problema na editora, meu pai iria se atrasar e só poderíamos seguir para
Jundiaí às nove horas da noite. Eu curtia um CD do Caetano Veloso e minha mãe
arrumava a cozinha quando a campainha tocou:
- Deve ser o Renato. Eu atendo, mãe!
Ele entrou rindo. Perguntei:
- O que foi?
- Você não vai acreditar no que aconteceu. Parece até mentira.
Respirou fundo:
- Lembra-se do meu tio Pedro?
- Tio Pedro?
- Aquele que tem o cotovelo alongado por causa da 'gota'.
- Ah, já sei quem é.
- Ele está internado para tratamento. Os médicos dizem que esse tipo de gota é
rara e querem estudar melhor.
- E?
- Pelos remédios fortes que está tomando, às vezes ele não diz coisa com coisa.
Para você ter uma idéia, outro dia pediu à enfermeira que fosse buscar a carruagem que
havia comprado na noite anterior.
- E?
- Pare de falar 'e', Marcus.
- É que até agora não achei nada engraçado.
- Mas não é mesmo. Posso continuar?
- Desculpe!
- Na Segunda-feira, três tios foram visitá-lo. Eles pertencem à parte pré-histórica
da família. O tio Alfredo com quase noventa anos; o tio Paulo com seus oitenta e tantos e
a tia Carlota, que é a mais nova deles, beirando a casa dos oitenta...
Renato começou a rir.
- Conta logo!
Da porta da cozinha, minha mãe também ouvia a história.
- Os três entraram no quarto e quando se aproximaram da cama, o tio Pedro
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Eterno Amor (romance bissexual)
RomansaEterno Amor, fala de amor, de paixão e de liberdade. Reflexivo no final, acredito que sua leitura, indicada para todo segmento da sociedade venha contribuir de forma positiva para o fortalecimento do respeito a que todo ser humano tem direito.