capítulo 15

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Em poucos meses, meus pais puderam finalmente perceber que o filho deles

continuava sendo o mesmo garoto de sempre; que a minha nova opção sexual não havia

me transformado em nenhum Frankenstein. Mesmo com toda a limitação que o meu

mundo continha - várias foram as vezes em que contornamos situações um tanto quanto

delicadas - , felicidade era um estado de espírito quase constante no meu dia-a-dia.

Uma dessas situações aconteceu no meu aniversário de dezessete anos quando, a

pedido de meus avós, foi feita uma grande festa na casa deles em Jundiaí. Por tradição de

família - meu avô acreditava nisso -, uma boa comemoração tinha que durar no mínimo

três dias. O que mais chamava a atenção neste tipo de festa é que, a certas horas da noite,

os convidados - exceto parentes - iam embora para suas casas e voltavam no dia seguinte

para prosseguir com a festa, e assim sucessivamente até acabar.

Por um problema na editora, meu pai iria se atrasar e só poderíamos seguir para

Jundiaí às nove horas da noite. Eu curtia um CD do Caetano Veloso e minha mãe

arrumava a cozinha quando a campainha tocou:

- Deve ser o Renato. Eu atendo, mãe!

Ele entrou rindo. Perguntei:

- O que foi?

- Você não vai acreditar no que aconteceu. Parece até mentira.

Respirou fundo:

- Lembra-se do meu tio Pedro?

- Tio Pedro?

- Aquele que tem o cotovelo alongado por causa da 'gota'.

- Ah, já sei quem é.

- Ele está internado para tratamento. Os médicos dizem que esse tipo de gota é

rara e querem estudar melhor.

- E?

- Pelos remédios fortes que está tomando, às vezes ele não diz coisa com coisa.

Para você ter uma idéia, outro dia pediu à enfermeira que fosse buscar a carruagem que

havia comprado na noite anterior.

- E?

- Pare de falar 'e', Marcus.

- É que até agora não achei nada engraçado.

- Mas não é mesmo. Posso continuar?

- Desculpe!

- Na Segunda-feira, três tios foram visitá-lo. Eles pertencem à parte pré-histórica

da família. O tio Alfredo com quase noventa anos; o tio Paulo com seus oitenta e tantos e

a tia Carlota, que é a mais nova deles, beirando a casa dos oitenta...

Renato começou a rir.

- Conta logo!

Da porta da cozinha, minha mãe também ouvia a história.

- Os três entraram no quarto e quando se aproximaram da cama, o tio Pedro

Eterno Amor (romance bissexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora