capitulo 18

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Na manhã seguinte, acordei com o sol me queimando o rosto. A cortina mal fechada da sala deixava uma maldita fresta por onde entrava uma claridade enorme. Era tanta luz, que por pouco não imaginei um ovni estacionado na frente de casa. Apenas com o movimento dos olhos verifiquei o horário no cuco. Os ponteiros marcavam nove horas.
Muito cedo para quem havia conseguido dormir lá pelas três horas da manhã.
Completamente imóvel sobre o sofá, decidi que nem a maldita fresta na cortina me faria me levantar. Protegido pelo cobertor, me livrei de boa parte da luz, solução que só não foi perfeita por causa do calor. Mesmo que Beatriz descesse naquele momento, eu fingiria estar dormindo.
Por instantes pensei na loucura que estava acontecendo comigo: uma garota grávida dormindo no meu quarto: o meu noivo para chegar e um primo que havia descoberto a minha bissexualidade. Estava cada vez mais insuportável ficar com a cabeça coberta. O calor era demais.
Resolvi levantar e tomar um banho, mas antes fechei aquela droga de cortina.
- É assim que você deveria estar! Tá vendo? Tá vendo? Filha da puta!
De verdade mesmo, só acordei embaixo do chuveiro e, com uma toalha enrolada na cintura, fui ao meu quarto para me trocar. A porta estava aberta e Beatriz - já vestida - mexia na mala. Ela estava com uma roupa do tipo 'macaquinho'. Aliás, por que será que tem esse nome? Deixa pra lá. - Bom dia, Beatriz.
- Bom dia, gatinho.
Ganhei um abraço gostoso.
- Você está bem melhor agora, Beatriz.
- É que ontem eu estava muito cansada.
- Entendo.
Eu procurava uma cueca quando Beatriz, por trás, me abraçou, não sem antes fazer com que minha toalha caísse.
- Nós não podemos, Beatriz.
- É difícil resistir a você, Marcus. Sua pele… é tão macia.
- Pare, por favor. Abaixando-se, ela começou a passar a língua sobre a minha bunda e coxas.
Enquanto sua mão direita começava lentamente a bater uma punheta para mim, a esquerda fazia com que a sua língua fosse cada vez mais fundo. Ela até gemia. Foi demais! De pé, esporrei com tudo. Pior, gozei sobre a gaveta aberta do guarda-roupa.
- Você me deixa louca, sabia?
Ela continuava abaixada atrás de mim, só que em vez de beijos, seus lábios davam leves mordidas.
- Gostou, gatinho?
- Gostei, só que não podíamos ter feito isso.
Ignorando minhas palavras - dava até a impressão que nunca foram ditas -, Beatriz, ainda por trás, me abraçou.
- Eu gosto muito de você, Marcus.
Naquele momento, o remorso já se fazia presente. Por que será que não consigo resistir aos carinhos dessa garota? - O café já está na mesa, Beatriz. Se você quiser ir descendo, tudo bem. Estamos sozinhos. - Eu sei. Ouvi seus pais conversando hoje cedo. Eles só devem voltar no fim da tarde. Você acha que se eles estivessem aqui, eu estaria com a porta aberta?
- Acho que não.
Nos beijamos e descemos juntos para a cozinha.
- Em casa eu não tenho essa mordomia toda, Marcus.
Sorri e, puxando a cadeira para ela sentar, falei:
- Na garrafa térmica azul tem café amargo, na bege, café com açúcar e na branca, leite fervido. Antes de me sentar, fui até a geladeira pegar a jarra com suco de laranja. - Posso pedir uma coisa, Marcus?
Disse que sim apenas com o movimento da cabeça.
- Eu gostaria que você começasse a me chamar de Bia.
- Bia?
- Hã, hã.
- Quem te chama assim, Beatriz?
- De vez em quando, o Renato. Tudo bem?
- Tudo bem, Bia.
Rimos.
- Vou fazer um sanduíche de queijo quente. Você quer um, Bia?
Novamente rimos.
- Quero.
Sexualmente, a Beatriz me dava muito tesão. Aquele jeito de menina que ela tinha me agradava muito. Quem visse tão comportadamente tomando café, não imaginaria do que aquela garota é capaz de fazer na cama.
- Seus pais falaram alguma coisa, Marcus?
- Ainda não pude conversar direito, mas deu para saber que eles estão muito contentes com tudo isso.
- Contentes?
- É. Entre um filho bissexual e um heterossexual, eles preferem o segundo.
Ela quase derrubou a xícara na mesa.
- Eles sabem de alguma coisa?
- Sabem de tudo. Eu contei a eles.
- Inclusive do Renato?
- Hã, hã.
- E eles aceitaram tudo isso numa boa?
- Não foi tão simples assim, Beatriz, mas… aceitaram.
- E o seu Júlio e a dona Inês?
- Também sabem.
Ela estava completamente chocada, tanto que nem conseguia falar direito.
- Nossa! Não sei nem o que pensar, Marcus! Tudo isso é tão incrível! - Troque a palavra 'incrível' por 'difícil'.

- Eu não teria a coragem que vocês tiveram.
- Entre viver e morrer, nós optamos por viver, Beatriz.
- Como assim, Marcus?
- Viver uma vida mentirosa só para agradar aos outros é estar morto em vida, você não acha?
Não sei por quê, mas me lembrei de quando transamos os três na pousada. Ela é toda raspadinha na frente, quase não tem pêlos. É uma gracinha. Dá para ver o pau entrando direitinho. - Posso perguntar uma coisa, Marcus?
- O que é?
- Eu gostaria que você fosse muito sincero na sua resposta.
- Fale, Beatriz, o que é?
- Bia, Marcus.
- Desculpe, é que ainda não me acostumei.
- O que você sente por mim, Marcus?
- Eu gosto de estar com você… Me servi de um pouco de suco antes de continuar a falar. Seu olhar acompanhava cada movimento meu.
- Não sei direito o que sinto por você, Beatriz, mas sei que sem o Renato, eu não vivo.
Ela começou a chorar.
- Desculpe, Beatriz. Eu não pretendia te ofender.
- Você não gosta nem um pouquinho de mim, Marcus?
- Gosto, Beatriz, mas… é diferente.
Ela continuava a chorar e eu, sem saber o que fazer, me levantei da mesa e, encostado no gabinete da pia, tentava pensar em alguma coisa, quando ela disse:
- Eu viveria… com vocês dois.
Confesso que também já havia pensado nisso, mas seria muito complicado. O Renato não aceitaria essa relação a três, nunca! Mesmo eu tinha dúvidas se isso seria bom ou ruim para nós.
- É melhor você tentar se acalmar, Beatriz. Tome um pouco de suco - Eu não quero, Marcus.
- Tome. Vai te fazer bem.
Derrubei o copo de suco da mesa.
- Droga!
- Me abrace, Marcus.
Abraçando a ela, eu não conseguia deixar de pensar que Renato poderia chegar a qualquer momento. Conversávamos, quando a campainha tocou:
- Beatriz! Deve ser o Renato! - E agora, Marcus? Eu ainda não estou preparada para falar com ele. Me sinto insegura.
- Eu sei disso. Por isso mesmo, acho melhor você subir e esperar lá em cima.
Respirei fundo antes de abrir a porta:
- Você deve ser o Marcus!
Sem cerimônia, o rapaz foi entrando. Ele devia Ter a minha idade.
Onde está a minha irmã? E não minta para mim! O carro dela está estacionado na porta.
Eu nem sabia que a Beatriz tinha um irmão.
- Sua irmã está descansando lá em cima. O que você quer com ela?
- Como o que eu quero com ela? É minha irmã, cara!
Sozinho, ele foi subindo as escadas.
- Beatriz? Beatriz? Beatriz?
- Você não pode ir entrando na casa dos outros desse jeito, cara!
- Por quê? Você vai me impedir?
- Se você não parar, vou!
- Então venha! Estou louco de vontade de encher a sua cara de porrada!
Beatriz apareceu na escada.
- Leonardo!
Como se não existissem degraus, ele a puxava fortemente pelo braço.
- Vamos para casa, Beatriz!
- Pára com isso, cara! Tentando impedi-lo, levei um soco na boca. Nervoso, me levantei e revidei em seguida. Estávamos a ponto de resolver o problema no braço, quando Beatriz, entre nós, começou a gritar:
- Parem! Parem! Parem!
Parei, mas ele não. Pego de surpresa, e pelas costas, tive o pescoço preso pelo seu braço. Foi tão forte a chave de braço, que caímos os dois no chão. Beatriz aos gritos tentava fazê-lo parar, mas ele continuava a apertar. Só me livrei quando, com o cotovelo, acertei seu estômago. O cara parou! Beatriz, com medo de que a briga recomeçasse, Abraçou-se a ele. Chorando, ela disse:
- Vocês… não podem brigar. Vamos embora… Leonardo.
No outro canto da sala, não agüentei e falei:
- Se você não quiser ir, não precisa, Beatriz!
Nervoso, ele gritou:
- Está vendo como ele provoca? Só porque é rico, acha que tem direito de azarar a irmã dos outros! Mas comigo não! Ela é de família! Tem pai, tem mãe! Não é sozinha, viu?
- Eu não estou querendo provocar você! Só acho que você tem que respeitar um pouco mais a sua irmã!
- Quem é o irmão? Sou eu ou é você?
- É você!
Beatriz interveio:
- Não comecem tudo de novo! Vamos embora, Leonardo!
O cara era um completo revoltado e, como diria o meu avô Duílio: com um carcamano, não adianta conversar. A pedido de Beatriz, peguei a mala e as chaves do Fusca no quarto.
- Mais tarde eu ligo, Marcus.
- Falou, Beatriz.
Me senti bem mais leve depois que saíram e, antes de colocar ordem na casa, me servi de uma dose de uísque com gelo e subi para um banho. Meu pescoço incomodava demais e um pequeno corte na gengiva doía muito, mas, acima de tudo, o que precisava mesmo era relaxar. No chuveiro, enquanto a água quente caía sobre os meus ombros, de olhos fechados eu tentava imaginar a forma mais suave possível de contar toda a confusão da gravidez para o Renato. Com certeza ele ia ficar puto da vida comigo, mas nada que duas pessoas apaixonadas não pudessem resolver. Iria esperá-lo do jeito que ele mais gostava de me ver: de short, sem camiseta e descalço.

Eterno Amor (romance bissexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora