capítulo 10

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Na semana logo após o Natal, agitamos com os nossos pais uma viagem para o

litoral norte de São Paulo. Eu e Renato queríamos passar o Ano Novo sozinhos num

hotel. Mas para isso precisaríamos de grana, e eu não queria mexer na minha poupança

novamente. Também minha mãe teria que deixar o carro dela com a gente. No início, eles

hesitaram um pouco. Primeiro disseram que os meus avós ficariam chateados. Depois,

que não conseguiríamos reservas num hotel em cima da hora. E, por último, como

faríamos no hotel para que ninguém percebesse nada? Respondi a eles que nós ficaríamos

num apartamento com duas camas de solteiro, ou seja, dois amigos passando o Ano Novo

juntos. Disse, também que já havíamos feito contato com um hotel em Boiçucanga, e que

ainda era possível reservar um apartamento pagando um pouco a mais pela diária. Na

verdade esse 'um pouco a mais' representava quase o dobro da diária, mas achei melhor

não contar nada a eles.

Antecipando-se a meu pai, minha mãe disse:

- Você pensou em tudo, não é Marcus? E quanto aos seus avós? Você sabe que

eles gostam de ver a família toda reunida em Jundiaí para a passagem de ano.

Meu pai quase não deixou minha mãe terminar de falar dizendo que o problema é

com o seu Francesco eles resolveriam. Percebi que ela ficou surpresa com a atitude dele.

Acho que era a primeira vez que meu pai não estava ligando muito para o que meu avô

iria pensar.

Antes de sair da sala, ela disse que eu poderia fazer as reservas e depois dissesse a

ele quanto em dinheiro iria precisar.

Meio inconformada com a decisão do meu pai, minha mãe subiu as escadas logo

atrás dele, mas esperou que chegasse à suíte para questioná-lo. Eu também subi e, com o

ouvido na porta, escutei o que eles diziam:

- Ana, nós sabemos que o problema maior não é o seu pai. Nada na vida é eterno.

Este ano é o Marcus que não poderá estar presente na festa. No ano que vem, poderá ser

outra pessoa, e assim a vida continua. Eu mesmo me encarrego de inventar uma história

qualquer para o seu Francesco.

- Sei que você está certo, Giorgio. Mas me incomoda saber que o nosso filho, que

só tem dezesseis anos, vai ficar com um rapaz alguns dias num hotel. Já parou para

pensar no que pode acontecer?

Ligeiramente alterado, mas com a voz firme, meu pai disse:

- É óbvio que já pensei, Ana. Só que é impossível querer controlar uma situação

como essa. É como tentar impedir que as ondas se quebrem na praia. No fundo, Ana,

estou tentando ser digno dentro da lama.

Minha mãe suspirou fundo, e meu pai continuou a falar:

- Outra coisa, Ana. O Marcus já vai fazer dezessete anos e o rapaz com quem ele

Eterno Amor (romance bissexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora