Após o almoço, fiquei no meu quarto tentando analisar toda a situação. Achei
absurda a visita do padre Antônio, que apenas repetiu parte daquilo que eu já sabia, só
que com palavras um milhão de vezes mais complicadas: que a sociedade não aceitava o
meu gosto sexual e que, na insistência desse desejo, seria condenado por Deus.
No fundo, a visita dele me serviu para duas coisas. Primeiro, foi conversando com
ele que percebi que o aparelho de som da sala - presente dos meus pais no último Natal -
havia se quebrado. Segundo, eu não sabia que era proibido a um homossexual receber a
hóstia.
Novamente pensei nos meus pais. Seria certo colocar os meus sentimento acima
de tudo? Mas então não adiantaria mais nada. Já tinha falado. Era um caminho sem volta.
E meu pai? Como será que ele estava? Será que iria querer me bater de novo?
Acho que não. Ele estava muito nervoso.
E o Renato? Como será que ele estava? E na casa dele, será que tinha dado tudo
certo? Como será que tinha sido? Eu não podia telefonar para ele de casa. Minha mãe
poderia ouvir na extensão e não gostar. Aliás, nem de um orelhão poderia ligar, pois se a
mãe dele atendesse, eu nem sabia o que iria falar. Que merda!
As horas foram passando e eu não agüentava mais ficar trancado no quarto.
Resolvi descer. Eu precisava de ar para respirar. Minha mãe estava lavando a louça na
cozinha com o rádio ligado e nem me ouviu descer.
Fui para o quintal, que ficava ao lado da cozinha. Sentei-me no chão e, encostado
na parede, fiquei pensando no Renato e nas loucuras que havíamos feito no último fim-
de-semana.
Da cozinha já não se ouvia barulho nenhum. Pelo arrastar de uma cadeira, dava
para imaginar que minha mãe estava sentada à mesa. O silêncio da casa só foi quebrado
quando meu pai chegou, e foi aí que me toquei que não deveria ter descido. Voltar para o
quarto sem que eles me vissem seria impossível, pois a velha escada de madeira iria me
delatar. Meu pai chegou calmo, beijou minha mãe e também sentou-se à mesa. Nessa
hora eu tinha medo até de respirar para não fazer barulho. Então meu pai perguntou para
minha mãe:
- E aí, Ana, como está o rapaz?
Minha mãe respondeu que eu estava bem e que não tinha ido ao colégio.
Imediatamente meu pai exclamou: Graças a Deus ele não fugiu! Fiquei espantado com a
afirmação dele. Nunca me passou pela cabeça fugir de casa. Eu não teria para onde ir.
Nesse momento, meu pai começou a desabafar com minha mãe:
- Sabe, Ana, eu tenho muito medo de toda essa história. O mundo não foi feito
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Eterno Amor (romance bissexual)
RomanceEterno Amor, fala de amor, de paixão e de liberdade. Reflexivo no final, acredito que sua leitura, indicada para todo segmento da sociedade venha contribuir de forma positiva para o fortalecimento do respeito a que todo ser humano tem direito.