No domingo, acordei como se tivesse passado a noite no paraíso. A sensação que
tinha era do tipo 'estou com a alma lavada'. Não tinha nem vontade de levantar da cama.
Tudo estava calmo, eu estava calmo. Aquela sensação de 'turbilhão' que me
acompanhava tinha ido embora. Acho que foi a primeira vez em que pude ser eu mesmo.
Sem mentiras, sem cuidados, sem teatro. E o Renato? Como será que está? Neste
momento, minha mãe bateu à porta:
- Marcus?
- Fala, mãe?
- O Renato está no telefone. Você fala com ele ou peço para ligar mais tarde?
- Não, mãe. Eu falo com ele agora.
O 'turbilhão' ressurgiu dentro do meu peito. Só que, dessa vez, bom.
- Renato? Aqui é o Marcus. Tudo bem?
- Tudo bem, Marcus. Eu acho que a gente precisa falar.
- Tá legal. Como você quer fazer?
- Eu passo aí para apanhá-lo daqui a meia hora, ok?
- Meia hora é pouco tempo. Eu acabei de acordar e ainda nem tomei banho. Que
tal daqui a duas horas?
- Fechado, Marcus. Em duas horas eu passo aí.
- Ele estava muito frio ao telefone e, além de não perguntar como eu estava,
desligou o aparelho logo após a confirmação do horário.
Tomei um banho super demorado e me contive várias vezes debaixo do chuveiro
para não me masturbar. Coloquei camiseta, meia, tênis, o short vinho, que era um dos
meus prediletos, e desci para o café.
Meus pais ainda estavam à mesa e, antes que eu pudesse dar bom-dia, meu pai
falou sorrindo:
- Só você filho!
- Só eu o quê, pai?
- De não perguntar o nome da moça.
- O senhor ainda está lembrando disso?
Ele sorriu e, enquanto minha mãe me servia o café, ele perguntou:
- Sua mãe e eu vamos almoçar em Embu. Você quer vir com a gente?
- Não dá, pai. Eu e o Renato vamos sair.
- Aonde vocês vão?
- Nós vamos dar um giro pela cidade.
Me passando o queijo, minha mãe falou:
- E aonde vocês irão almoçar, Marcus?
- Sei lá, mãe, mas lugar é o que não falta.
Eu havia dado a primeira mordida no lanche, quando a buzina tocou e, em meio
aos protestos para que terminasse de tomar o café da manhã, me levantei da mesa.
Apesar de o Renato já ter vindo me buscar mais de mil vezes para sairmos, era a
primeira vez que isso acontecia nessa circunstância, ou melhor, era o meu namorado que
estava buzinando e não mais o meu melhor amigo, e isso me deixava excitado e nervoso
ao mesmo tempo.
Como é gostoso a gente estar apaixonado por alguém e poder curtir essa! Esse
contato de pele, de corpo, de cheiro, é um negócio fantástico.
Respirei fundo antes de sair de casa. Ele estava dentro do carro, de óculos escuros,
e não tirou o olhar de mim por um instante sequer. Fiquei tão sem-graça que quase não
consegui andar em linha reta da casa até o carro. Mas cheguei:
- Tudo bem, Renato?
- Tudo bem, Marcus.
Ele estava muito estranho, tanto que, após colocar o carro em movimento, não
falou mais nada. Então perguntei:
- Aonde vamos?
Sem olhar para mim, ele disse:
- Pensei em irmos até Mairiporã.
- Que lugar em Mairiporã, Renato?
- É uma cachoeira num trecho da serrinha que pouca gente conhece. Lá será
possível conversarmos à vontade.
- Como você conheceu esse lugar?
- Essa cachoeira fica próxima ao clube de campo de que minha família é sócia. Eu
ia muito com o meu pai para lá.
Daí para frente, e até chegarmos à cachoeira, não trocamos uma palavra sequer.
Chegando lá é que pude perceber o porquê de a cachoeira ser pouco conhecida.
Nós deixamos o carro num trecho da estrada e andamos por uns dez minutos numa trilha
mato adentro. O lugar era muito bonito e tinha até um pequeno lago que se formava com
a queda-d'água.
Sentamos numa pedra próxima ao lago, esperei pacientemente que ele começasse
a falar. Como isso não aconteceu, eu mesmo puxei o assunto.
- O que está acontecendo, Renato?
Ele não me respondeu, e eu continuei:
- Você está chateado comigo?
A resposta dele não passou de um 'não', e então comecei a falar:
- Sabe, Renato, eu gosto de você há pelo menos dois anos. No começo, não sabia
definir direito esse sentimento e por causa disso muita confusão rolou na minha cabeça.
Na verdade, você me dava muito tesão, só que eu não queria aceitar isso; mas a vida fez
com que esse sentimento crescesse dentro de mim de uma tal maneira que, querendo ou
não, você á fazia parte da minha vida, mesmo sem saber.
Ele respirou fundo e perguntou:
- Como você conseguiu controlar esse desejo por tanto tempo?
- Nem sempre consegui. No começo, bastava bater uma punheta pensando em
você, mas depois...
- Mas depois, o quê?
- Mas depois só a punheta não bastava, e aí comecei a forçar certas situações no
nosso dia-a-dia a fim de poder te sentir mais.
- Não entendi, Marcus.
- Estou falando de contato físico, Renato.
- Como assim, Marcus?
O futebol de salão é uma delas. Eu sempre quis jogar no time adversário ao seu,
só para poder entrar em dividida com você.
Ele me olhou admirado, e então expliquei:
- De que outra maneira eu poderia encontrar o seu corpo no meu com tamanha
intensidade? Sem contar que na dividida é um 'vale-tudo'.
Ele continuava me olhando, quando comecei a rir.
- Do que você está rindo?
- Lembra da sua cueca que sumiu no acampamento?
- Não, você não fez isso...
- Fiz, Renato. Fui eu quem a pegou.
Ele começou a rir.
- E eu achei que tivesse sido a Beatriz. E o que você fez com a minha cueca?
- Nada de mais, eu só queria ter alguma coisa sua.
Renato já se sentia bem mais à vontade, e então eu perguntei:
- Vamos falar um pouco de você?
Sorrindo, ele disse:
- Como são as coisas, não? A gente tem amizade há tanto tempo, e a impressão
que eu tenho é a de que estamos nos conhecendo agora.
Ele acendeu um cigarro e começou a falar:
- O meu caso é um pouco diferente do seu. Você sabe que eu curti bastante o que
rolou ontem entre a gente, só que eu nunca associei esses sentimento a alguém do sexo
masculino.
Percebendo que eu estava confuso, explicou:
- Eu não sei se é normal, acho que não é, mas numa relação sexual, eu tenho tesão
na frente, como atrás. Eu adoro quando uma mulher me chupa o pau, mas também adoro
quando sou chupado atrás. A diferença entre a gente, Marcus, é que eu nunca imaginei
ser chupado por um homem.
- Isso quer dizer que eu dancei, Renato?
- Não, Marcus. Isso quer dizer que você me deixou uma confusão enorme na
minha cabeça, pois mesmo tendo tesão atrás, nunca me senti homossexual por isso.
- Renato, se ontem fosse a Beatriz que tivesse te chupado, seria a mesma coisa?
- Não, não seria a mesma coisa. Eu gostei de ficar com você.
- Como você poderia ter tanta certeza disso?
- Porque o que você e eu fizemos ontem, eu já fiz inúmeras vezes com a Beatriz, e
pode ter certeza de que é diferente.
Confesso que fiquei chocado com a resposta dele. Nunca poderia imaginar os dois
fazendo aquilo, ainda mais a Beatriz, que é toda cheia de frescura.
Levantando-se ele falou:
- Vou até o carro buscar um maço de cigarros que deixei no porta-luvas e já volto.
- Tá legal.
Ele já estava a caminho, quando eu gritei:
- Renato? Tem algum lugar aqui perto que venda cerveja?
- Perto não, mas tem uma garrafa de vodca no carro. Vamos encarar?
- Vamos, traga a garrafa.
Ele não demorou a voltar e, me dando a vodca que já estava aberta, disse:
Vamos tomar na garrafa mesmo. Essa aqui é da boa.
- Foi você quem comprou?
- Não. Esta vodca é do Carlos, mas depois eu falo com ele.
- Após alguns minutos de silêncio, eu retomei o assunto:
- Renato, você sempre me viu como amigo? Quero dizer, você nunca pensou em
nada diferente?
- Eu sempre o achei um cara bonito, Marcus, mas até ontem nada de diferente
entre nós passava pela minha cabeça.
- E hoje?
Ele sorriu antes de responder.
- Hoje já passa.
Ele acendeu um cigarro, deu uma tragada e disse:
- Sabe o que eu acho, Marcus? No fundo, nós dois somos exatamente iguais.
Ontem à noite eu também tive vontade de tocar em você, e só não fiz isso porque me
faltou coragem.
Começamos a nos beijar lentamente, enquanto as nossas mãos corriam, também
de forma lenta, em descoberta pelos nossos corpos. Nós estávamos namorando.
Com as mãos, ele explorou cada detalhe do meu corpo, até me deixar
completamente nu, de roupa e de alma.
Dessa vez fui totalmente conduzido por ele, que, colocando o seu pinto entre as
minhas pernas, mas sem penetração, cavalgou sobre mim diversas vezes.
É difícil encontrar palavras que descrevam o que senti naqueles momentos que me
lembravam uma cavalgada.
O instante maior aconteceu quando ele jorrou todo aquele esperma quente em
cima de mim. Foi nessa hora que me senti totalmente dele.
Continuamos nas pedras, só que dessa vez deitados um do lado do outro, nus e
olhando para o céu.
Ficamos em silêncio por um bom tempo, até que ele falou:
- Você está legal?
- Muito.
- Você gozou, Marcus?
- Não, mas eu já estou acostumado.
- Como está acostumado?
- É a Segunda vez que a gente sai e que eu não gozo.
Nós dois rimos muito e, depois de um breve silêncio, eu perguntei:
- Você quer ser meu namorado?
- Eu só vou responder se você fizer essa pergunta olhando para mim e não para o
céu, Marcus.
Me virei para ele, que continuava deitado, e quase boca a boca perguntei:
- Você quer ou não?
- Quero, lógico que quero. Agora você é meu, só meu.
Nos abraçamos e fiquei com a cabeça encostada sobre o seu peito por um bom
tempo. Nessa hora, me senti um menino que enquanto tinha os cabelos afagados pelo cara
que amava, viajava em pensamentos, de tanta felicidade que sentia.
Eu ainda curtia tudo aquilo quanto ele perguntou:
O que nós vamos fazer agora, Marcus?
Já que você não me fez gozar, eu iria sugerir que nadássemos um pouco. Isso, se a água
não estivesse tão gelada.
- Eu estou falando sério, Marcus.
- Eu também, Renato.
- Caímos na risada. Então falei seriamente:
- Agora que estamos juntos, nós temos o mundo todo pela frente e ninguém
precisa saber o que rola entre a gente.
- Mas e se as pessoas desconfiarem de alguma coisa, Marcus?
- Desconfiar do quê? Nós somos grandes amigos. Sempre fomos.
- Talvez você...
Interrompi as palavras dele:
- E tem mais, Renato, nós não somos afeminados e nunca seremos.
- Talvez você tenha razão, Marcus, mas será que a gente consegue levar tudo isso
numa boa?
- Eu não tenho dúvida e acho que você está se preocupando demais.
- Você está certo, Marcus. Esqueça o que eu falei.
Saímos de lá pouco antes de escurecer com um desejo não realizado, o de nadar
no pequeno lago. A água estava muito fria.Amores os comentários e ia votos de vocês são super importantes, então conto com vocês....
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Eterno Amor (romance bissexual)
RomanceEterno Amor, fala de amor, de paixão e de liberdade. Reflexivo no final, acredito que sua leitura, indicada para todo segmento da sociedade venha contribuir de forma positiva para o fortalecimento do respeito a que todo ser humano tem direito.