— Tia Be!
Tiro os olhos dos trabalhos individuais que estou corrigindo, e me deparo com um pequeno rosto brilhando em lágrimas.
O que houve pequena?
Me levanto e vou ao seu encontro, ela continua parada na porta do meu escritório e funga limpando seu rostinho com as duas mãos pequenas.
— Eu quero ir pra casa. — Liga para o meu pai vim me buscar?
— Oh, espera ai mocinha, não é assim que funciona as coisas, primeiro você me fala o que está acontecendo, e juntas resolveremos. — Tudo bem?
— Eu não quero falar.
Ela sai de perto de mim e senta no sofá escuro na minha sala, cruza seus braços parecendo gente grande, o que tira um pequeno sorriso dos meus lábios.
— Porque você não quer falar? — Eu pensei que era sua amiga.
Pego um lenço de papel na minha mesa, me sento ao seu lado e bem carinhosamente limpo seu pequeno rosto.
— Porque você quê ser minha amiga, se ninguém gosta de mim aqui na escola.
Lívia me olha com seus olhos escuros, e mais uma vez brilham enchendo com as lágrimas.
Fico sem palavras, fecho os olhos e respiro fundo.
— Como não? — Você é uma criança linda, feliz e inteligente, suas ideias são maravilhosas na sala de aula. Todos te aplaudem.
Pego nas pequenas mãos e dou um pequeno aperto.
— Isso porque a senhora está lá, mas quando não está...
Ela dá de ombros e levanta seu rosto me encarando.
— O que acontece quando eu não estou por perto? — Você precisa me dizer Lívia, para que possamos resolver isso.
— Eu preciso voltar, o horário do intervalo está acabando, e a senhorita Rose vai ficar brava comigo.
Me levanto, pego meu celular na minha mesa e mando uma mensagem para Rose, a resposta vem no minuto seguinte, dizendo que está tudo bem.
— Pronto, a Rose já sabe que você está comigo, agora me fala o que anda acontecendo pelas minhas costas.
— São muitas coisas tia Be, mas hoje eu fiquei mais triste ainda...
Ela abaixa a cabeça e aperta suas mãos em cima do seu colo.
— Me fala de hoje, depois conversamos dos outro dias, está bem?
Ela acena com a cabeça e suspira alto, sua luta interna me deixa entristecida.
— Hoje o Breno me xingou e disse que não gostava de gente que tem a minha cor... - Ela mastiga seus lábios cheios.
— Ele te disse isso?
Ele disse e eu não quero mais ficar aqui. - Lívia passa as mão pelo seus braços e olha pra eles.
Cristo, são crianças de apenas seis anos de idade, como eu não vi isso bem debaixo do meu nariz.
Eu me doou por inteira para essas crianças, e não tem nada que eu não faça por elas.
Esse colégio é minha vida, foi presente do meu pai quando me formei.
Esse é o primeiro ano da Lívia aqui, ela veio de outro estado de mudança com sua família.
— Tem algo mais que você precisa me dizer?
Respiro fundo, mandando embora minhas próprias lágrimas.
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