Era uma noite com uma brisa gélida. A Lua não estava cheia, era uma noite de lua minguante, onde algumas nuvens de chuva cobriam sua luz e as estrelas. Podíamos ver aquele demônio de pelos negros e ouriçados nos caçando. Aquilo andava de uma forma muito bizarra, ora sobre duas patas, ora de quatro como um animal. Porém, quando ia andar de quatro, seus cotovelos arrastavam no chão, e a bizarrice era tanta, que por muitas vezes eu cobria meus olhos, tremendo de medo ao ver aquele diabo peludo nós procurando. A besta fera entrou dentro da casinha onde Cecília estava amarrada, e ao ver que não tinha nada lá dentro, podíamos ouvir seus uivos sombrios, sons insurdecedores que faziam qualquer pessoa congelar de pavor."Não façam barulho, e nem se movam, fiquem quietos pelo amor de Deus". Diz José aos sussurros para não chamar atenção da coisa medonha que estava a alguns metros de nós próximo ao silo. Lentamente, nos abaixamos ainda mais no mato e ficamos apreensivos morrendo de medo que algo nos acontecesse. Cecília estava desesperada suando frio e chorando baixinho. "Não quero morrer, eu não quero, vamos sair daqui", ela dizia trêmula com a imagem da criatura infernal que parecia nos farejar no ar toda vez que emitimos algum som, ficando sobre duas patas e soltando grunhidos como de um porco selvagem. Aquela coisa voltou a ficar de quatro, e correu para o lado oposto do nosso, o que nos trouxe um certo alívio, pois aquilo que parecia nos caçar, agora estava indo embora. "É a nossa chance, vamos sair daqui, corram pra camionete", diz José se levantando num pulo e nos guiando até a sua caminhonete vermelha que estava logo a alguns metros de nós.
Cecília ainda estava em estado de choque, meu irmão Pedro com o olhar longe como se ainda não estivesse acreditando, soltou um longo suspiro e finalmente voltou seu olhar para nós enquanto José dirigia na estrada de terra cercada pela escuridão e por um terrível matagal. "Eu acho que não há mais dúvidas sobre as suposições dos cidadãos, não é mais algo criado pelos grupos no Whatsapp, é de fato um..." Enquanto falava, o som da voz de Pedro foi interrompida por uma brusca freada da caminhonete, e logo a frente de nós, algo terrível. A besta da noite estava ali no meio da estrada, pronta para atacar nós três. Sua aparência era grotesca, os faróis iluminavam aquele maldito monstro, que soltava grunhidos altos, antes era algo apenas negro como um vulto no mato, mas agora podíamos ver aquela cara horrenda com focinho de porco e orelhas de cachorro, afiando suas garras as raspando no chão levantando poeira. O desespero tomou conta da cabine, e mesmo em meio aos nossos berros, José agiu rápido e arrancou com tudo para cima da besta fera, que sem exitar, saltou em cima da cabine.
"EU NÃO QUERO MORRER, EU NÃO QUERO MORRER" gritava cecília com as mãos na cabeça tentando evitar contato visual com o que estava ali agarrado aos vidros da frente tentando quebrá-los para entrar. Somente um milagre poderia nos livrar daquilo, e incrédulo quanto a nossa sobrevivência, apenas fechei meus olhos e abracei Cecília na patética intenção de protegê-la, mas no fim ambos sabíamos que não haveria como se defender daquele ser infernal.
"Deixem de desespero e peguem as armas, rápido" Gritou José. Estava tão desesperado que esqueci que as armas de fogo estavam no malote atrás do banco da caminhonete. Pedro pegou o 38 do meu pai, o mesmo que usei na noite em que o protegi da besta.
Eu rapidamente peguei a espingarda que estava descarregada. Enquanto isso Pedro dava tirou no vidro bem no rumo da coisa, que subiu acima do capô do veículo, onde dava patadas fortes, fazendo amassados na lataria.
"Josué, atira!" Gritou Pedro, enquanto José fazia movimentos bruscos no volante em Zig e Zag. "Eu tô tentando porra, eu tô tentando" Gritei enquanto estava trêmulo tentando recarregar a arma. Assim que coloquei a bala na espingarda, me veio um breve filme na cabeça, quando eu saía para caçar com o Francisco e o Rogério. Com 13 anos o próprio Rogério me ensinou a atirar, sentindo como se estivesse ali comigo como naquelas férias de verão na fazenda, em que eu não consegui segurar a arma por causa do peso, e ele correu e me ajudou a segurar. Fechei meus olhos por alguns segundos, e apertei o gatilho.
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A BESTA
HorrorJosué Fernandes vive uma vida super comum em uma pequena cidade no interior de Goiás, onde começa receber relatos de animais mortos de maneira sinistra levando as pessoas a se questionarem oque pode estar acontecendo. A curiosidade de Josué e seus a...