CAPÍTULO 11: RITUAL PARTE 2

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Santa Helena de Goiás, 23 de Agosto de 2014.

"Rogério, você realmente gosta desse jogo, cara? Ele é muito sem graça, prefiro continuar jogando Street Fighter mesmo então". Disse eu a Rogério naquele enorme quarto dele, cheio de bonecos de ação incríveis que estavam nas estantes, e vários posters de bandas de Rock que eu e ele amávamos. "Você quem manda mano, bora por o Street Fighter então, pra você levar uma surra". Disse Rogério dando um leve soco no meu ombro.

"Ah, mano, acho que de todos, esse foi seu melhor presente de aniversário, bem que eu queria ganhar um PS3 também". Disse eu admirando o novo presente de Rogério.

"Qualé, Josué, o que é meu é seu mano, lembra? Você é meu irmão, cara! Enquanto estivermos juntos você não deve sentir falta de nada". Respondeu Rogério me entregando o outro controle para jogarmos.

Rogério era um rapaz muito bonito, e olha que eu não costumo dizer isso sobre outros caras, mas em especial, meu amigo tinha um certo charme, e mesmo com 14 anos já era bem maduro, se dava bem com as garotas e era habilidoso com quase tudo o que fazia. Seus olhos azuis quase acendiam na luz de tão belos, e seus cabelos castanhos meio lisos fazia com que as meninas da escola ficassem sempre de cima, passando a mão nele. Esse era Rogério, o meu melhor amigo, que me passava segurança quando estávamos juntos, que sempre me dava bons conselhos, melhores do que os que Pedro me dava, onde só falava de transar com garotas e sobre o quão bom o álcool era.

"Amanhã eu vou com meu pai pra outra cidade, eu to sentindo muita dor de cabeça ultimamente, e lá onde vamos tem uma dessas pessoas que faz cura espiritual". Fiz Rogério enquanto apertava os botões do controle do vídeo game.

"Você sempre tá com dor de cabeça, só não sei se acredito nessas coisas, acho que seria melhor ir num médico". Disse eu. "Eu já fui lembra, só que meus pais me disseram que não era nada, mas eu vi o médico cochichando algo para eles, então não sei se posso confiar nesses dois". Disse Rogério vidrado na tela da TV.

Naquele momento me veio uma leve preocupação, mas ignorei o assunto e continuamos a jogar.

"Assim que eu chegar, te chamo para irmos na cachoeira o que você acha?" Perguntou Rogério. "Perfeito, nesse calorão que já tá fazendo, vai ser bom". Respondi. "Combinado então, mano!" Disse Rogério me dando um abraço de lado, passando seus braços atrás de minha nuca e me aproximando dele.

Eu e Rogério dávamos tão bem, justamente por ambos conhecerem a solidão, a ausência de pessoas ao seu lado que te completam, mas ele me completava. Mas depois daquele último dia em que jogamos tudo mudou.

2 DIAS DEPOIS.

"Está proibido de sair viu, Josué! Essa espirração sua ai é por causa dessa mudança de clima, tá todo mundo gripado". Disse meu pai.

"Ah, mas eu queria muito ir com o Rogério pra cachoeira pai". Resmunguei. "Não senhor, não vai, vai ficar em casa tomando remédio. Quer morrer garoto?" Disse meu pai me repreendendo.

Naquela mesma noite, a notícia já havia se espalhado. Rogério estava desaparecido. Passou dias, semanas, e nada. Então as buscas cessaram, e eu estava sozinho de novo. Meu amigo se foi.

O RITUAL PARTE 2

Francisco estava fazendo uma espécie de pentagrama no chão, com um rastelo, demarcando a grama para formar o desenho no chão. Velas foram acesas, e então Chico começa a falar algumas coisas estranhas em uma língua que não conheço.

"Precisamos dar um jeito". disse eu cochichando para José. "Tínhamos que dar um jeito no filho dele, e nos capangas, mas a arma ficou na caminhonete". Respondeu José. "Eu gostaria de ter um plano nessas horas, como nos filmes, mas eu não tenho, acho que teremos que lidar com isso, e aceitar nosso fim". Respondi sem uma gota de esperança.

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