CAPITULO 7: O LIVRO DA CAPA PRETA

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RELATO DO PEDRO.

SANTA HELENA DE GOIÁS, 28 DE JULHO, 10h53min

"Pedro, hoje preciso de você para me ajudar a fazer a contagem de uns sacos de grão de milho lá na fazenda do Chico. A gente fazia isso a noite com os peões que trabalham de noite aqui, mas com essa história de um animal selvagem atacando por lá, melhor irmos agora." Disse Fagner, o meu patrão da empresa de grãos que se chamava Montanna Grãos e Rações.

"Ah sim tudo bem, ficarei apenas na contagem ou precisa de algo mais?" perguntei. "não, apenas na contagem, deixa pros peões lá o trabalho braçal, você é melhor com números e em administrar o trabalho deles. Acho que até meio dia terminamos tudo." Disse Fagner. "Ok, vamos lá." Respondi já me preparando para irmos até a fazenda do Francisco.

Muitos na cidade achavam que de fato era um lobisomem atacando a fazenda de Chico, outros já achavam que era mais uma estratégia política barata do Chico porque ele queria se candidatar a prefeito da cidade, aproveitando sua fama toda. Na última noite eu e meu irmão Josué ficamos face a face com a besta, mas isso não tirou da minha cabeça algo que eu já tinha visto semana passada, porém, eu ignorei como se nem tivesse visto.

Eu estava voltando de uma festa que estava tendo num sítio a uns 10km daqui de Santa Helena. Lá, eu e uns amigos bebemos muito, fizemos sexo com umas garotas bem gostosas que estavam loucas no álcool lá também, foi uma noite e tanto, e às 4h da manhã voltei para a cidade por uma estrada de terra com mato pra todo lado. Peguei esse caminho deserto justamente por ser um atalho que cortava a estrada e eu poderia chegar mais rápido em casa, e evitaria ainda por cima pegar alguma polícia, já que eu estava bêbado. No meio do caminho já, eu pude ver uma luz de farol, vinda do meio do mato. Era a D20 do Chico. Conheci de longe por estar acostumado a ver ela, e foi aí que vi algo bizarro. Vi um cara muito mal arrumado, cabeludo e sujo, amarrado inconsciente na traseira da caminhonete velha. Ele não estava andando pela estrada e sim pelo mato mesmo, que não era tão alto. Foi neste momento que ele me viu, e eu ignorei, apenas acelerei minha moto e fui embora. Jurei que eu não iria falar nada para ninguém, pois meus sentidos podiam estar falhando que eu estava bêbado ali no escuro, então poderia estar vendo coisas. Mas, desde este dia, eu não confiava mais no Francisco, porque mesmo que não tivesse alguém atrás na carroceria da velha D20, porque diabos alguém estaria ali por aquelas bandas? Era algo ilógico, porém, como não ligo muito pra essas coisas, apenas ignorei. Mas, agora com esses fatos assombrosos acontecendo, justamente na fazenda do Chico, minha dúvida e desconfiança estavam de volta. E eu precisava fazer algo, precisava saber o que estava acontecendo e dar um jeito nisso tudo. Nunca tive medo de nada. Era muito mais do que pela queda da moto, era pela minha vida, pois a criatura veio para me matar, se não fosse Josué, eu estaria em pedaços, e provavelmente não estaria contribuindo em relatar essas coisas.

Era a oportunidade perfeita para mim esta breve ida na fazenda a trabalho, porém eu teria pouco tempo para a investigação. Depois que fui atacado pelo tal lobisomem, nada mais me surpreendia, e o que era uma piada para mim, agora era algo real e ameaçador, mas nada me tirava da cabeça que Chico tinha algo a ver com isso, pois desde que tudo isso aconteceu, ele está estranho e ausente. Agora era minha chance de fazer uma pequena vasculha assim que eu encontrasse uma brecha durante o trabalho, pelo menos ouvir alguma conversa, achar algo suspeito, não sabia como o fazer, mas eu disse para Josué que de alguma forma eu iria descobrir algo desse lobisomem, e pelo jeito eu teria que brincar de Scooby-Doo sozinho ali.

Dada a hora de partimos, Fagner e eu entramos em sua caminhonete prateada S10 com seus grandes pneus cheios de lama em direção a fazenda do Chico. Minha cabeça pensava apenas em alguma forma de conseguir investigar talvez o quarto de Chico lá no seu casarão, ou qualquer outro lugar lá na fazenda.

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