CAPITULO 2: UM RELATO ASSUSTADOR

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"Então o gatinho caipira que vi mais cedo é filho do Francisco?" Perguntei a Ceci com tom de deboche. "Sim" ela disse, e continuou, "ele mora no mato grosso, mesma cidade onde eu nasci e cresci, fomos amigos até os 12 anos de idade, já que a mãe dele separou do Francisco depois de estar com 3 meses de gravidez dele, o Léo é legal, ele que me mandou as fotos, embora já esteja em todos os grupos do whats." Quando eu ia falar alguma coisa, meu patrão chega e nos chama para dentro da cozinha onde começamos uma oração matinal, admito que odeio isso, na verdade eu nem acreditava muito em Deus ou coisas do tipo, mas era um dos poucos momentos em que eu podia pegar na mão de Ceci, mesmo que por alguns minutos ali, pois fazíamos um círculo de mãos dadas e eu sempre ficava ao lado de Cecília, que sempre reclamava de minhas mãos suadas, mas eu sempre a respondia sorrindo, porém era impossível segurar aquelas mãos macias sem suar. Eu sei, estar apaixonado por sua melhor amiga é foda, mas eu não podia evitar.

Os motivos de oração naquela manhã foram todos direcionados para Francisco (mais conhecido por todo mundo ali por Chico Silva), meu patrão dizia, "meus queridos, oremos intensamente por nosso querido Chico, acabei de chegar da casa dele e vi as fotos horríveis de seus pobres animais, eles não sabem o que fez isso já que aqui na região não tem onça e nem animais que façam isso, por tanto oremos por ele". Admito que senti medo e pena ao ouvir isso, pena por ver o Francisco com uma perda tão grande, ele pode parecer aqueles velhos carrancudos caipiras, mas é um bom homem, que por ter sido patrão do meu pai por tantos anos, acabamos nos tornando amigos. Eu sempre ia para fazenda dele nos finais de semana, Gostava de dormir lá, mesmo morrendo de medo das histórias de terror que eles contavam, mas em todo esse tempo eu não sabia que Francisco tinha outro filho além de seu outro que desapareceu a 5 anos, o Rogério. Quando eu tinha 14 anos, eu tinha o Rogério como melhor amigo, pois tínhamos a mesma idade, mas certo dia, Rogério foi sozinho tomar banho de rio na fazenda, e desde então nunca mais foi visto, nenhum sinal sequer do corpo ou pistas, simplesmente sumiu. Chico (vou chamá-lo assim) ficou desesperado, juntamente com sua atual esposa, Rosana. Mas até hoje não se tem notícias de seu paradeiro. Obviamente fiquei sem meu amigo, e então me entristecia muito voltar aquela fazenda com meu pai e não encontrar Rogério me esperando para brincar.

Era muito sofrimento, um homem com tanto dinheiro não podia pagar por seu filho de volta, e mesmo que possa comprar novos animais, ele não poderia arrancar a tristeza de seu peito.

Enquanto me dirigia ao balcão cochichei baixinho perto de Ceci, "Vou passar no meu almoço na casa do Chico, vou ver o que está acontecendo", "quero ir com você então!" Disse Ceci enquanto colocava uns trocados no caixa. "Ok, meio dia quando sairmos passamos lá" respondi. Aquela manhã foi agitada, todos que entravam ali falavam sobre isso, o WhatsApp das pessoas já estavam lotados de mensagens sobre isso, e por ser uma cidade pequena com apenas 20 mil habitantes, tudo era espalhado muito rápido.

Mas um comentário me deixou perplexo, um senhor entrou ali para comprar um pão na chapa e tomar seu café com leite, e ao sentar com seu amigo do lado, começou a dizer: "Esse negócio ai do Chico ó cumpadi, tá medonho demais, essa nossa região num tem bicho que faz um estrago desse não, eu já vimos isso acontecer no meu tempo de mais moço, lembra?Lá no Tocantins num sítio que eu vivia, isso aí tá parecendo sabe?" "Oque cumpadi, cê acha que é...?" Respondeu o amigo do senhor enquanto tomava seu café. "Isso aí é a besta fera, é o bicho da lua cheia, certeza que é lobisomen". O assunto me interessava, embora comecei a rir baixinho do eu havia ouvido, então demorei um pouco mais ali ajudando Ceci a atender no balcão para tentar ouvir a conversa.

O senhor que contava a história parecia ter percebido minha risadinha de incredulidade, e se virou pra mim dizendo: "ê rapaz, vocês jovens não acreditam nos mais velhos né?" Fiquei sem graça mas sorri novamente e respondi, "Não senhor, tô rindo é porque você disse lobisomem, fazia tempo que eu não ouvia falar dessa lenda". "Quem dera fosse uma lenda" respondeu o senhor. "Você parece gostar de história meu rapaz, deixa eu contar pra ocê o que eu vivi aos 26 anos de idade lá na década de 78 na cidade de Palmas Tocantins" disse o velho se aproximando do balcão. Ceci ouviu o mesmo que eu mas não deu muita bola, porém, quando o velho se aproximou de nós dois, ela parou o que estava fazendo, e aproveitou a calmaria do momento para ouvir também o senhor.

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