Na semana seguinte, comprei flores

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Na semana seguinte, comprei flores.

Entramos no ônibus, com o destino à estação Butantã, de lá ele iria para casa, e eu voltaria para minha. O percurso duraria quarenta minutos. O que fazer em quarenta minutos? Um nó se formou em minha garganta, estava me sufocando. Sentamos no fundo do ônibus, sentei ao lado da janela, e ele ao meu. Cruzamos nossos dedos, e conversamos. Sobre nossas vidas, sobre trabalho, sobre sonhos.

Às pessoas nos olhavam, mas eu não me importava. Da minha casa até a estação, foi o trajeto mais rápido que já percorri. Tomamos café em uma pequena lanchonete, continuamos nossa conversa, dessa vez falamos sobre nossos antigos relacionamentos, jantares, sexo casual. E então, seguimos caminhando em passos curtos até a entrada principal da estação. O seu Uber chegou, e nos despedimos.

A minha última lembrança foram seus lábios frios. O beijo, que se eu pudesse, sentiria o seu gosto por longos anos, eu não me importaria se durassem até o fim da eternidade.

Eu nunca fui beijado em público, me senti em uma cena de filme de amor, sentir a sua mão passeando pelas minhas costas, percorrendo um curto caminho até minha nuca, me arrepiava. Um arrepio tão bom, um frio na barriga, fazendo-me, flutuar.

O moço, no banco do motorista nos admirava, com um leve sorriso.
"Se cuida" você disse, assim que abriu a porta do passageiro. Olhei para você com meus olhos cheios de lágrimas, sorri, como resposta.

O motorista ligou o motor, e saiu. Assisti o carro desaparecer na multidão causada pela metrópole. Atravessei a rua, seguindo direção oposta. Enquanto caminhava em direção ao ponto de ônibus, passei a mão em meus lábios, limpando os vestígios de seus beijos, enquanto chorava sua partida. Mas eu chorava por causa da sua partida, ou da minha? Pois quem decidiu partir foi eu.

Sim, fui embora. Aquele beijo era o último. A decisão foi tomada, na noite passada, quando me dissestes, para usar outra roupa. No dia anterior, criticou meu corte de cabelo. Na nossa última festa, não me deixou dançar, com a desculpa de que iria chamar à atenção, com o meu jeito de ser. 
Lembro-me de eventos casuais, no qual você me controlava, e me exibiu como prêmio para seus amigos.
Quando era para sair com meus amigos você se recusava, e quando ia, ficava sem interagir com eles, causando-lhes constrangimentos. Quando foi que parei de ser quem eu realmente era?

NÃO ERA AMOR, quando percebi que meu corpo tremia sempre quando estava com você, minhas mãos soavam, um frio na barriga. Eu achava que era sintomas de amor. Mas na verdade, era medo de cometer alguma gafe, e ter minha atenção chamada por você, por fazer algo que tu não aprovasse.

Chegamos ao limite, quando meu rosto ardeu, ao sentir o peso de sua mão. Quando chorei sentado no chão do banheiro, quando você veio até mim, pedindo desculpas, que havia perdido a cabeça. Quando nos beijamos, senti o seu gosto, e o gosto salgado das minhas lágrimas. Quando fizemos loucuras no chuveiro, e repetimos a mesma dose na cama. Quando você dormiu ao som de Lana Del Rey, e eu permaneci olhando para o teto.

Me segurando para não chorar, me levantei, caminhei pelo corredor da minha casa, derramando lágrimas que deveriam ser de alegria. No espelho não vi o meu reflexo. Eu não estava ali. Foi aí que percebi que tinha que partir. Não de mim, e sim de você.

Na semana seguinte, comprei flores. Pintei o quarto de outra cor, mudei a decoração da sala, nossas fotos foram substituídas pelas minhas, registro de momento em família, amigos, viagens. Um recomeço, e então suas lembranças foram indo embora.

Amo você, mas não gosto de você com a mesma intensidade que gosto de mim. Por isso que decidi partir, e sem você um recomeço eu vivi.

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