9. Uma surpresa para Mrs. Carew

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Tendo a questão das reparações e dos melhoramentos sido eficientemente resolvida, Mrs. Carew disse a si própria que tinha cumprido o seu dever e que o assunto estava encerrado. Havia de esquecer. O rapaz não era o Jamie, nem o podia ser. Aquele rapaz doente, ignorante e aleijado ser o filho da sua falecida irmã? Impossível! Tinha de afastar essa ideia da cabeça. Foi aí, porém, que Mrs. Carew se encontrou perante uma barreira inultrapassável. Tudo aquilo persistia em não lhe sair da cabeça. Diante dos olhos via sempre a imagem daquele quartinho húmido e do rapazinho triste. Aos seus ouvidos soava constantemente aquela frase comovedora: "E se fosse o Jamie?". Além disso, estava sempre ali Pollyanna, e mesmo que Mrs. Carew mandasse calar as queixas e as perguntas da menina, não havia maneira de lhe acabar com o olhar reprovador. Outras duas vezes, desesperada, Mrs. Carew foi ver o rapaz, dizendo a si própria que apenas precisava de mais uma visita para se convencer de que ele não era quem suspeitava. Quando estava na presença do rapaz, ela dizia a si própria estar convencida, mas, depois de se afastar dele, as mesmas dúvidas voltavam a assaltá-la. Finalmente, em estado de grande desespero, escreveu à irmã e contou-lhe a história toda. " Querida Della "Não tencionava contar-te, pois achava que não valia a pena entusiasmar-te nem suscitar falsas esperanças. Tenho a certeza de que não é ele e, no entanto, ao escrever estas palavras, sei que não estou certa. Épor isso que quero que venhas cá. Tens que vir depressa. Quero que o vejas. "Estou desejosa de saber o que vais dizer. É claro que não vemos o nosso Jamie desde os quatro anos. Teria agora doze. Este rapaz tem Tendo a questão das reparações e dos melhoramentos sido eficientemente resolvida, Mrs. Carew disse a si própria que tinha cumprido o seu dever e que o assunto estava encerrado. Havia de esquecer. O rapaz não era o Jamie, nem o podia ser. Aquele rapaz doente, ignorante e aleijado ser o filho da sua falecida irmã? Impossível! Tinha de afastar essa ideia da cabeça. Foi aí, porém, que Mrs. Carew se encontrou perante uma barreira inultrapassável. Tudo aquilo persistia em não lhe sair da cabeça. Diante dos olhos via sempre a imagem daquele quartinho húmido e do rapazinho triste. Aos seus ouvidos soava constantemente aquela frase comovedora: "E se fosse o Jamie?". Além disso, estava sempre ali Pollyanna, e mesmo que Mrs. Carew mandasse calar as queixas e as perguntas da menina, não havia maneira de lhe acabar com o olhar reprovador. Outras duas vezes, desesperada, Mrs. Carew foi ver o rapaz, dizendo a si própria que apenas precisava de mais uma visita para se convencer de que ele não era quem suspeitava. Quando estava na presença do rapaz, ela dizia a si própria estar convencida, mas, depois de se afastar dele, as mesmas dúvidas voltavam a assaltá-la. Finalmente, em estado de grande desespero, escreveu à irmã e contou-lhe a história toda. " Querida Della "Não tencionava contar-te, pois achava que não valia a pena entusiasmar-te nem suscitar falsas esperanças. Tenho a certeza de que não é ele e, no entanto, ao escrever estas palavras, sei que não estou certa. Épor isso que quero que venhas cá. Tens que vir depressa. Quero que o vejas. "Estou desejosa de saber o que vais dizer. É claro que não vemos o nosso Jamie desde os quatro anos. Teria agora doze. Este rapaz tem doze, creio eu (ele não sabe a sua idade ao certo). Os olhos e os cabelos não são diferentes dos do nosso Jamie. É aleijado, mas ficou assim depois de uma queda, há seis anos, e ficou ainda pior a seguir a outra queda quatro anos mais tarde. É impossível obter uma descrição completa do pai, mas, daquilo que sei, não há nada de conclusivo a favor ou contra ofacto de ele ser o marido da Doris. Chamavam-lhe professor, era um homem estranho e parecia não ter mais nada senão livros. Isto, pode ou não significar nada. O Kent, era decerto estranho e boémio nos seus gostos. Se ele se preocupava ou não com livros, não me lembro. Lembras-te? E, é claro, que o trtulo de professor pode ter sido assumido por ele, ou apenas ter-lhe sido dado por outras pessoas. Quanto a este rapaz, não sei. Mas tenho esperanças que tu con sigas descobrir. Ruth. " Della veio imediatamente e foi logo ver o rapaz. Mas também ela ficou indecisa. Achou que não devia ser o Jamie, mas, ao mesmo tempo, havia a possibilidade de ser ele. Tal como Pollyanna, porém, ela tinha uma saída bastante satisfatória para o dilema.- Porque não tomas conta dele, querida? - propôs à irmã. - Até o poderias adoptar? Seria bom para ele, pobre pequeno, e... Mrs. Carew não a deixou concluir.- Não, não posso - lastimou- se. - Quero é o meu Jamie. O meu Jamie e mais ninguém. Della em nada contribuiu e regressou ao seu trabalho. Se Mrs. Carew pensou que o assunto tinha ficado encerrado, voltou de novo a enganar-se. Realmente, os dias e as noites continuavam a ser-lhe penosos. Além disso, estava em dificuldades com Pollyanna, cada vez mais perturbada, face à verdadeira pobreza que enfrentara pela primeira vez. Ela conhecera pessoas que não tinham comida, que vestiam roupas esfarrapadas e que viviam em quartos minúsculos, escuros e sujos. O seu primeiro impulso foi, evidentemente, ajudar. Com Mrs. Carew fez duas visitas a Jamie e ficou muito contente com a alteração das condições da casa depois de o tal Dodgge ter feito as melhorias. Mas, para Pollyanna, isso era apenas uma gota de água no oceano. Havia naquele local muito mais miséria. Confiadamente, ela esperava que Mrs. Carew ajudasse também todos os outros infelizes.- Ah sim? - exclamou Mrs. Carew ao ouvir o que Pollyanna esperava dela. - Quer então toda a rua com pinturas e escadas novas! Não quer mais nada?- Sim, mais coisas! - disse Pollyanna contente.- Tanto que eles precisam! E que divertido era dar-lhas! Ai, como eu gostava de ser rica para os poder ajudar! Nem calcula como fico contente por poder estar consigo quando os ajudar. Mrs. Carew quase gaguejou, tal o seu espanto. Mas não perdeu tempo a explicar que não tinha intenção de fazer mais nada no pátio dos Murphys. Já tinha sido bastante generosa com o que fizera no andar onde vivia o Jamie com os Murphys (entendera não precisar de dizer a ninguém que era dona do prédio inteiro). Explicou, sim, a Pollyanna, que existiam numerosas instituições de caridade que tinham exactamente por actividade ajudar as pessoas pobres, e que ela já doava bastante dinheiro a essas instituições. Mesmo assim, porém, Pollyanna não ficou convencida.- Mas não percebo por que razão é melhor uma série de pessoas juntarem-se e fazer aquilo que toda a gente gostaria de fazer por si própria. Acho que preferia ser eu a dar a Jamie um livro bonito do que ser uma sociedade qualquer a fazê-lo. Ele, com certeza, gostaria muito mais que fosse eu.- É provável - respondeu Mrs. Carew, com indiferença, mas um tanto irritada. - Mas também é pro vável que esse livro não fosse tão bom para Jamie, como o seria se o livro fosse oferecido por um conjunto de pessoas habilitadas a escolher o livro mais conveniente. Isto levou-a a dizer também outras coisas que Pollyanna não percebeu bem sobre "a pauperização dos pobres", "os malefícios da oferta indiscriminada" e "o pernicioso efeito da caridade desorganizada". Além disso, também acrescentou, em resposta à expressão de perplexidade de Pollyanna:- É muito possível que, se me oferecesse para ajudar essas pessoas, elas não aceitassem. Lembra- se de Mrs. Murphy ter recusado deixar-me enviar-lhe comida e roupas?- Se lembro! - respondeu Pollyanna, com um suspiro. - Mas há outra coisa que não compreendo. Não me parece certo que nós tenhamos

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