20. Jimmy e John

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Naquela noite de domingo foi um jovem muito determinado e de expressão muito séria que desceu na estação de Beldingsville. E foi um jovem ainda mais determinado que, antes das dez horas da manhã seguinte, atravessou as ruas calmas da cidade e subiu a colina em direção ao solar dos Harrington. Ao ver aparecer uma figura familiar e querida na estufa, o jovem ignorou a campainha, atravessou o relvado e o jardim e apareceu inopinadamente a Pollyanna.- Jimmy! - exclamou ela, quase caindo para trás, de olhos muito abertos.- De onde surgiu?- De Boston... a noite passada! Tinha de a ver, Pollyanna.- Ver-me? Pollyanna procurava recompor-se. Jimmy parecia tão grande, forte e querido, ali inesperadamente à sua frente, que ela temeu que os seus olhos denunciassem a grande admiração que tinha por ele.- Sim, Pollyanna. Eu queria... Bem, isto é, pensei que. Melhor, eu receava. Pronto, não aguento mais, Pollyanna. Tenho de ir direito ao assunto. É, tenho-me mantido de parte, mas acabou-se. Deixou de ser um caso de lealdade. Ele não é aleijado como o Jamie. Tem pés, mãos e cabeça como eu. Portanto, se ele ganhar, terá de ser de uma forma justa. Eu também tenho os meus direitos! Pollyanna olhou boquiaberta.- Jimmy Pendleton, de que está você a falar?- perguntou ela. O jovem sorriu, envergonhado.- Não admira que não saiba. Fui pouco claro, não fui? Sabe, eu próprio tenho estado perturbado desde ontem, quando descobri através do próprio Jamie.- Descobriu. do Jamie?- Sim. Quando ele me contou do prémio é que eu soube. Disse-me que tinha acabado de ganhar um, e...- Oh, eu sei! - interrompeu-o Pollyanna, ansiosa.- Não foi esplêndido? Logo o primeiro prémio de três mil dólares! Escrevi-lhe uma carta a noite passada. Quando vi aquele nome compreendi que era o Jamie, o nosso Jamie. Fiquei tão entusiasmada que até me esqueci de procurar o meu nome. E mesmo depois de o não encontrar, e, portanto, ficar a saber que não recebia nicles, nem sequer o prémio mais pequeno, continuei tão entusiasmada e satisfeita pelo Jamie, que esqueci tudo. Jimmy, porém, estava demasiado obcecado pelo seu problema e insistiu.- Sim, foi óptimo. Também fiquei contente. Mas, Pollyanna, o que ele me disse a seguir é que foi importante. Até aí eu pensara que vocês gostavam um do outro. Afinal.- Pensava que Jamie e eu gostávamos um do outro? - atalhou Pollyanna, empalidecendo.- É verdade. Mas afinal, ele gosta é de Sadie Dean. E penso que ela também gosta dele.- Ainda bem. Sinceramente, não sabia. Pollyanna parou de repente e apanhou uma folha do chão. Quando se ergueu, virara-se ostensivamente para o outro lado.- Não conseguia sentir-me bem a competir com um adversário que estava em desvantagem. - continuou Jimmy. - Assim, pus-me de parte e dei-lhe uma oportunidade, apesar de quase ter desfeito o meu coração. Foi então que ontem de manhã descobri. E descobri mais outra coisa, pois Jamie diz que existe outra pessoa envolvida. Mas eu não posso concordar com ele, Pollyanna. Mesmo pensando em tudo quanto ele fez por mim. John Pendleton é homem e tem duas pernas como eu para entrar na corrida. Ele terá que competir comigo. Entretanto, Pollyanna já se virara para ele, meio enfurecida.- John Pendleton? Jimmy, que quer dizer, que está a dizer de John Pendleton? O rosto de Jimmy transfigurou-se de alegria. Estendeu ambas as mãos para Pollyanna.- Então não é verdade, pois não? Vejo nos seusolhos que não é dele que gosta, estou certo? Pollyanna retraiu-se. Estava pálida e trémula. - Jimmy, que quer dizer? Que quer dizer? - insistia ela, confusa.- Quero dizer que não é dessa maneira que gosta do tio John. Compreende? O Jamie pensa que gosta dele e que ele gosta de si. Eu, desesperado, até cheguei a pensar que talvez. Ele está sempre a falar de si. Pollyanna murmurou em voz baixa e cobriu o rosto com as mãos. Jimmy aproximou-se e, com ternura, colocou o braço sobre os ombros dela. Mas Pollyanna retraiu-se de novo.- Pollyanna! Não me destroce o coração! - pediu ele. - Não gosta nem um pouco de mim? É isso que não me quer dizer? Ela deixou cair as mãos e olhou-o. O seu olhar tinha uma expressão assustada.- Jimmy, acha mesmo que ele gosta de mim dessa maneira? perguntou baixinho. Jimmy sacudiu impacientemente a cabeça.- Isso já não interessa, Pollyanna. Claro que não sei. Como poderia eu saber? Isso, porém, não importa, querida. O que importa somos nós. Se não gosta dele e se me der ao menos uma oportunidade para que lhe faça gostar de mim. - agarrou na mão dela, tentando puxá-la para si.- Não, Jimmy. Não devo! Não posso! - disse ela, empurrando-o com as duas mãos.- Pollyanna, isso não quer dizer que não gosta de mim, pois não? reagiu Jimmy.- Não, não é isso - disse Pollyanna hesitante. Mas, bem vê, se ele gosta de mim, tenho de. - Pollyanna!- Não, não me olhe assim, Jimmy!- Quer dizer que casa com ele, Pollyanna?- Não. Quero dizer. Sim. acho que sim admitiu, em voz baixa.- Pollyanna, não pode ser! Destroçar-me-ia o coração! Pollyanna soluçou. Tinha escondido o rosto nas mãos outra vez. Depois, num gesto trágico, levantou a cabeça e olhou a direito para

os olhos reprovadores e angustiados de Jimmy.- Eu sei, eu sei... - balbuciou Pollyanna. - Eu também despedaçarei o meu coração. Despedaço o seu e despedaço o meu coração, mas nunca o coração dele! Jimmy levantou a cabeça. Nos seus olhos brilhava um fulgor intenso. Toda a sua aparência se modificou. Com uma exclamação triunfante e cheia de ternura, envolveu Pollyanna nos braços estreitando-a contra si.- Agora sei que gosta de mim! - suspirou ele ao ouvido, em voz baixa.- Disse que também despedaçaria o seu coração. Pensa que agora desistirei de si? Ah, querida, se pensa que agora vou desistir de si é porque não compreende um amor como o meu. Pollyanna, diga que me ama, diga-o com os seus queridos lábios! Durante um longo minuto, Pollyanna abandonou-se ao abraço terno que a envolvia. Depois, com um suspiro, que era meio de contentamento meio de renúncia, começou a afastar-se.- Sim, Jimmy, amo-o. - Os braços de Jimmy voltaram a apertar-se e tê-la-iam cingido muito mais se não houvesse algo no rosto dela que o reteve. - Eu gosto muito de si, mas não poderia nunca ser feliz consigo sabendo que. Jimmy, não vê querido? Primeiro tenho de saber se sou livre.- Que disparate, Pollyanna! Claro que é livre! disse Jimmy outra vez enfurecido. Pollyanna abanou a cabeça.- Com isto suspenso sobre mim, não, Jimmy. Não vê? Foi a minha mãe, há muitos anos, que lhe despedaçou o coração, a minha mãe! E durante todo este tempo ele passou uma vida solitária, sem amor, por causa dela. Se ele agora vier ter comigo e me pedir para casar com ele, tenho de lhe dizer que sim, Jimmy. Tem de ser. Não lho posso recusar! Não vê? Jimmy não via, não podia ver nada. Não podia compreender, por mais que Pollyanna argumentasse e insistisse chorosa. Mas, é verdade, também Pollyanna se mostrava renitente.- Querido Jimmy - disse Pollyanna finalmente.- Temos de esperar. É tudo quanto posso dizer agora. Espero que ele não me ame e. não creio que me ame. Mas tenho de saber. Tenho de ter a certeza. Temos de esperar um pouco até descobrirmos, Jimmy... Até descobrirmos E Jimmy teve que se sujeitar a este plano, embora de coração revoltado.

Pollyanna MoçaOnde histórias criam vida. Descubra agora