18. John Pendleton

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Uma semana antes do Natal, Pollyanna enviou a sua história, impecavelmente dactilografada, para o concurso. Os vencedores dos prémios não seriam anunciados antes de Abril, segundo dizia a revista, de modo que Pollyanna preparou-se para a longa espera com a sua característica paciência. "Não sei porquê, mas não desespero por ainda demorar", dizia para si própria. "Assim, tenho todo o Inverno para pensar que posso ganhar o primeiro pré mio. Se pensar que o vou ganhar, e o ganhar mesmo, nunca me terei sentido infeliz. Por outro lado, se o não ganhar, não terei passado todas estas semanas infeliz e poderei até ficar contente com um prémio menor. " Nos planos de Pollyanna não cabia a possibilidade de não ganhar qualquer prémio . A história, tão bem dactilografada por Millie Snow até parecia já estar impressa. Esse ano, o Natal não foi uma época feliz no solar dos Harrington apesar dos esforços de Pollyanna. A tia Polly recusou-se em absoluto a autorizar qualquer tipo de festa, mostrando-se tão determinada que Pollyanna nem conseguiu oferecer-lhe um pequeno presente. Na véspera de Natal, John Pendleton veio visitá-las. Mrs. Chilton não apareceu, mas Pollyanna, cansada de um dia inteiro com a tia, recebeu-o alegremente. Porém, isto não trouxe maior satisfação a Pollyanna pois John Pendleton trouxe consigo uma carta de Jimmy, e a carta pormenorizava os planos que ele e Mrs. Carew faziam para preparar os festejos de Natal num lar para raparigas trabalhadoras. De facto, Pollyanna não estava com disposição para ouvir falar das festas dos outros e muito menos da de Jimmy. John Pendleton, porém, insistiu no assunto, mesmo depois de lhe ter lido entusiasticamente a carta.- Que grandes proezas - exclamou ele enquanto dobrava a carta.- Sim, ótimo ! - murmurou Pollyanna tentando falar com algum entusiasmo.- E é esta noite. Gostava de lá estar.- Sim, sim - murmurou Pollyanna, tentando parecer entusiasmada.- Mrs. Carew sabia o que fazia quando pediu a Jimmy para a ajudar. Mas gostava de saber se lhe agrada fazer de Pai-Natal para tantos jovens!.- Claro que vai gostar imenso! - disse Pollyanna.- Talvez. No entanto, e concordarás comigo, não tem nada com o aprender a construir pontes.- Ah sim!- Mas acredito que essas jovens nunca tenham uma noite tão agradável como a que vão passar hoje. - Sim, claro! - respondeu Pollyanna, tentando evitar que a voz lhe tremesse e esforçando-se intensamente por não comparar a sua infeliz noite de Natal, em Beldingsville, com a das raparigas, em Boston, com Jimmy. Fez-se um breve silêncio, com John Pendleton a fitar a lareira com ar sonhador.- Mrs. Carew é uma mulher maravilhosa! - disse ele por fim.- É verdade! - desta vez, o entusiasmo na voz de Pollyanna era sincero.- O Jimmy já me descreveu algumas das coisas que ela tem feito por essas raparigas - disse John Pendleton, continuando a olhar para o fogo. - Na carta anterior, para além das coisas, falou-me mais sobre ela, confessando-se admirado com a sua real maneira de ser e estar na vida.- É verdade, Mrs. Carew é muito querida! declarou Pollyanna com calor. - É mesmo muito querida sob todos os aspectos. Eu gosto muito dela. John Pendleton agitou-se. Virou-se para Pollyanna mostrando uma expressão estranha nos olhos. E insistiu ainda:- Eu sei que gostas dela. E também sei que existem outras pessoas que gostam dela. O coração de Pollyanna parou de bater. Uma ideia súbita ocorreu-lhe. Seria que John Pendleton queria dizer daquela maneira que Jimmy gostava de Mrs. Carew?- Que quer dizer? Com um gesto nervoso que lhe era peculiar, John Pendleton pôs-se de pé.- Referia-me às raparigas, evidentemente - respondeu ele com o seu sorriso curioso. - Não achas que aquelas cinquenta raparigas devem adorá-la?- Sim, claro -, respondeu Pollyanna que murmurou mais alguma coisa apropriada em resposta à observação de John Pendleton. Os seus pensamentos estavam em tumulto e durante o resto da noite deixou o senhor falar durante quase todo o tempo. E John Pendleton pareceu não se ralar muito com isso. Inquieto, deu uma ou duas voltas à sala, voltando depois a sentar-se no seu antigo lugar, retomando a conversa sobre o mesmo assunto.- Curiosa a questão do Jamie, não é? Será que ele é mesmo sobrinho de Mrs. Carew? Como Pollyanna anna não respondeu o senhor continuou após um breve silêncio.- É um ótimo rapaz. Gosto dele. Tem algo de bom e genuíno. Ela está muito ligada a ele. Gostava de saber se será de facto sobrinho dela. Fez-se nova pausa. Depois, com a voz ligeiramente alterada, John Pendleton disse:- Quando penso nisso, não deixa de me parecer estranho que ela não tenha voltado a casar. Continua a ser uma bela mulher, não achas?- Sim, é verdade. Na voz de Pollyanna registou-se uma ligeira quebra. Tinha acabado de ver o seu próprio rosto no espelho e nunca se achara a si própria "uma bela mulher". John Pendleton continuava com os olhos postos na lareira. O facto de ter ou não respostas ao que era de responder, parecia ser-lhe indiferente. Aparentemente, parecia apenas querer conversar. Até que, finalmente, se levantou, sem grande vontade, e despediu-se. Há algum tempo que Pollyanna desejava que ele se fosse embora, para estar só, mas depois de ele ter partido já achava que teria sido melhor ele ter ficado mais tempo. Percebera afinal que não queria ficar sozinha com os seus pensamentos. Para Pollyanna, era agora claríssimo que Jimmy gostava de Mrs. Carew. Isso explicava o facto de ele ter estado tão triste e inquieto após a partida dela. E seria também a razão pela qual ele a visitara tão poucas vezes a partir daí. Pollyanna associou igualmente uma série de outras circunstâncias ocorridas no Verão, de que bem se lembrava e que reforçavam inegavelmente essa sua convicção. Tendo agora a certeza de que Jimmy e Mrs. Carew gostavam um do outro, Pollyanna tornou-se especialmente sensível em relação a tudo quanto pudesse fortalecer essa crença. Em breve descobriu o que esperava. Primeiro, nas cartas de Mrs. Carew. "Tenho estado muito com o seu jovem amigo Pendleton e cada vez gosto mais dele. Porém, gostava, só por curiosidade, de conhecer a fonte deste sentimento estranho de já o ter visto algures. Depois dessa carta, ela passou a referi-lo frequentemente e Pollyanna achava que a presença de Jimmy se tornara para Mrs. Carew uma coisa perfeitamente natural. Noutras fontes, Pollyanna veio ainda a encontrar combustível para o fogo das suas suspeitas. John Pendleton, aparecia cada vez mais frequentemente com as suas histórias sobre o Jimmy e aquilo que ele estava a fazer, sem omitir as referências a Mrs. Carew. A pobre Pollyanna chegava por vezes a pensar se John Pendleton não sabia falar de mais nada que não fosse de Mrs. Carew e do Jimmy. Havia também as cartas de Sadie Dean que lhe falavam de Jimmy e do que ele fazia com Mrs. Carew. Até Jamie, que de vez em quando escrevia, contribuiu para fortalecer tal ideia. São dez horas. Estou aqui sentado, sozinho, à espera de Mrs. Carew. Ela e Pendleton foram a uma das reuniões no lar. Claro, do Jimmy propriamente dito, Pollyanna não tinha quase notícias, de modo que pensava tristemente que devia ficar contente com isso, pois "se ele não sabe falar de mais nada senão de Mrs. Carew e das suas raparigas, fico contente por não me escrever muitas vezes! ", desabafou.

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