21 - A Fuga

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Com um combatente ferido o trio buscava proteger a prisioneira e finalizar a fuga com sucesso, Daniel ajudava Manuel a se levantar para enfim saírem da delegacia, depois que Léo voltou para ajudar a tarefa ficou mais fácil. Um pouco distante a senhora apenas observava aquela cena, por um instante ela paralisou, os olhos reviravam, parecia estar distante dali, isso durou apenas alguns segundos e logo a mulher voltou a si, e falou eufórica:

— Temos que sair logo daqui, tem um batalhão de policia vindo.

Mesmo sendo óbvio, eles se questionavam como ela poderia saber de tal informação e afirmar com tanta certeza, Daniel buscava pistas para comprovar se o que a senhora havia falado era realmente verdade, Manuel então passou a caminhar vagarosamente em direção a saída, ele comentou:

— De fato toda a polícia já deve estar sabendo sobre a invasão, devemos nos apressar. — frase seguida de passos rastejados.

— Se apoie em mim. — Léo cedeu seu obro para que a caminhada fosse mais rápida.

Com Manuel sendo ajudado por Léo, restou a Daniel ficar de olho nos arredores e proteger a senhora de possíveis inimigos. Saíram da delegacia e agora buscavam se distanciar rapidamente dali, escondidos atrás de uma parede, aguardavam que Daniel confirmasse a situação do perímetro, eis que o garoto relata:

— Não há sinais de movimentação, por aqui vejo apenas corpos sem vida.

— Devemos sair o quanto antes daqui, um grande batalhão se aproxima, e eu pressinto morte. — Comentou a senhora enquanto abarcava as duas mãos tremulas.

Adiantaram as passadas, Manuel pega em seu bolso o que parecia ser um sinalizador, o homem aciona o equipamento enquanto diz:

— Essa é a sinalização para que todos os homens em volta possam iniciar a fuga.

No céu a luz intensa brilhou, e dos esconderijos começaram a sair vários Ciclopes, a fuga começou, mas não contavam que nesse exato momento um carro de combate da policia chegaria no local para impedir a ação. Tentando impedir a fuga dos mascarados, os policiais dispararam diversos tiros, os mascarados revidaram com mais balas.

O som da fuzilaria fez o trio de mascarados e a senhora correrem para o lado de trás da delegacia fugindo assim do grande combate, usando tiros para derrubar as travas das grades, ao findar com o empecilho que estava os impedindo de sair dali, finalmente puderam se distanciar da delegacia.

Os tiros disparados para se livrarem das grades chamaram atenção de um policial, no qual seguiu os rastros e rapidamente encurralou os fugitivos, sob a mira de uma arma, Daniel esboçou uma reação rápida e também ameaçava o policial sob a mira de seu revolver. O medo de Daniel e a inexperiência transpareciam em sua imagem, o policial então tentou controlar com palavras:

— Garoto deve estar perdido no mundo do crime, a forma como segura a arma demonstra sua inexperiência, se entregue ainda terá muitas chances pela frente.

Nesse momento tanto Léo quanto Manuel também mirava o policial com suas armas, mas o que agravou a situação foi a reação de Daniel, as palavras sobre estar perdido, sobre as chances que a vida lhe ofereceriam frustraram o garoto, pois desde criança tem buscado se encontrar, mas a vida nunca colaborou e resolveu dificultar tudo o que ele tentava, havia uma grande complexidade impedindo-o sempre de alcançar seus objetivos, Daniel discordou:

— Mentira! — o garoto se enfureceu com as falsas esperanças que o policial lhe relatou, e apontou a arma com ferocidade.

Um olhar ameaçador, expressões de fúria e uma gesticulação inconstante foram o suficiente para despertar os sentidos de proteção do policial, com um movimento automático realizou um disparo certeiro. A defesa veio em seguida, Manuel e Léo dispararam simultaneamente no policial, o mesmo caiu ali respirava abafado o chão que usava de leito aos poucos se molhava de sangue.

Os olhos de Daniel lacrimejavam, em seu colo estava à senhora que havia sido resgatada, a mulher havia se postado na frente de Daniel assim que sentiu a ameaça do disparo, sacrificou sua vida para salvar aquele garoto, com um tiro do tórax a senhora sentia fortes dores, Daniel tentava estancar o sangue com a mão, em meio ao desespero do garoto, a senhora falou com uma voz abafada:

— Vai ficar tudo bem! — Em seguida tossiu, isso desmentia suas palavras.

— Não vai ficar não, as coisas nunca ficam bem! — Daniel falou com uma voz embargada pelo choro.

— Tenha fé e um dia as coisas ficarão, eu sei das suas lutas e posso ter feito muito mal a você, mas aquilo foi para o seu bem. — A senhora falou essas palavras sob os olhares duvidosos de Daniel, e em seguida revelou. — Verena, talvez com isso você se lembre de mim.

— Madre Verena, como? Por quê? — Daniel olhava intensamente para a face da senhora em busca respostas.

— A vida foi muito injusta comigo, eu me dediquei a realizar boas causas, mas quando eu descobri que estava doente e sem o tratamento adequado morreria em breve, eu me senti desamparada por Deus, uma vida dedicada à fé e esse foi o meu pagamento. Desde esse dia eu abandonei minhas doutrinas e busquei outros meios de vida e os pontos me levaram até o Comando Ciclope, há muito tempo eu percebi que o caminho que trilhei foi errado, mas não conseguia mais voltar.

O arrependimento das suas palavras era sincero, e depois de uma curta pausa, Verena continuou:

— Até hoje me arrependo de ter te mandado para o sanatório, mas eu sentia que você não poderia ficar por ali, tinha um mal muito grande te procurando, e se você ficasse a vista seria um alvo fácil, eu peço que me perdoe para enfim minha consciência ficar em paz com isso.

— Eu sei que estou envolvido em coisas que não compreendo bem, mas depois de ter se sacrificado por mim acredito que tenha feito o melhor por mim, mas isso não era necessário, pois se você morrer sentirei culpa pelo resto da vida. — Daniel comprimia com mais força o ferimento como se aquela vida dependesse disso.

— Sei exatamente pelo que esta passando. — Informou Verena. — No inicio eu não tinha capacidade de compreender isso e decidi te distanciar e não me envolver nesse conflito, pensei que assim você fosse ficar seguro, mas agora vejo que o destino te trouxe novamente para esta guerra.

— Não sabia no que estava me envolvendo e acabei nessas circunstâncias. — Daniel demonstrava culpa ao falar. — Mas agora temos que salva-la não posso carregar essa culpa.

— Não se preocupe, meu fim estava próximo eu sabia disso apenas adiantei um pouco, isso não é culpa sua, na verdade eu até mereço isso por todos os erros que eu tenho cometido nos últimos tempos. — Uma respiração ofegante, Verena continua apesar da dificuldade — Espero que consiga vencer essa guerra, tome conta da Clara, ela corre um grande perigo, e guarde sua fé nas coisas boas pelo resto da vida. — lentamente os olhos se fechavam era o fim de mais uma vida.

Desesperado, Daniel tentava chamar Verena de volta a vida, ele chorava, mas um clamor não era o suficiente para devolver uma vida, a morte parecia inaceitável, descrer na vida era algo vivido naquele momento, aos prantos Daniel foi amparado por Léo, o garoto tentava reconfortá-lo, mas parecia impossível. Depois de alguns minutos, o choro parou e no lugar restou um soluço inconformado.

O resgate apareceu, mascarados saíram de um carro forte vieram resgatar Verena, quando viram que a missão havia falhado um dos mascarados resmungou:

— O líder Ciclope vai surtar com esse fracasso, cabeças vão rolar.

— Quem realizou o disparo foi aquele policial. — Manuel falou isso apontando para o homem baleado.

— Vamos levar o culpado. — Disse o mascarado.

O policial foi levado para o interior do carro,Daniel, Léo e Manuel somaram forças para colocar o corpo de Verena no veiculo, apesar de tudo ela era digna de um funeral. Com o resgate concluído o automóvel sai disparado para a sede da facção, deixando para trás diversas vidas que se perderam naquele embate.

Retrocognição (HP) (XP)Onde histórias criam vida. Descubra agora