Parte 2-2 • Interlúdio • Minhyuk

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Minhyuk

"Love is not over, over, over"

Minhas mãos ardem quando eu tento segurar um simples copo d'água e meu ombro dói quando eu levanto o objeto para que possa saciar a minha sede. A garganta arranhando é o próximo item da lista e, em contato com a água, me faz espremer os olhos. Além disso, eu não consigo evitar fitar meu reflexo nos utensílios da cozinha sem me espantar com os cortes e arranhões que agora enfeitam o meu rosto.

Na noite anterior, enquanto eu voltava para o prédio, um cara me perseguiu e causou todo esse estrago. Se eu não estivesse com Kihyun, certamente estaria morto ou teria sido levado para alguma ala do outro lado da cidade para servir de escravo ou qualquer coisa do tipo. Ao mesmo tempo em que sou grato por Kihyun ter salvado a minha vida, eu me preocupo por ele ainda não ter acordado.

Hyungwon está no outro apartamento, em seu consultório improvisado, talvez catalogando os medicamentos. Ele me disse que está esperando por uma oportunidade para se deslocar para o sul e buscar mais remédios. Puxou conversa enquanto limpava meus ferimentos e observava Kihyun que se deitara no sofá com as mãos sobre a barriga, alegando ainda estar sentindo um pouco de dor e assim fora a nossa noite, não muito diferente do convencional.

Eu estou neste lugar há pouco mais de quatro meses. Esta é a área 20785, o endereço para onde todas as pessoas com defeitos são mandadas. Ao menos foi assim que Hyungwon havia me explicado.

Eu me lembro de ter acordado em meio ao nada e de logo ter sido encontrado por uma dupla de rapazes que, obviamente, vislumbraram a possível diversão diante de um garoto recém chegado. Tive tempo de correr, arremessando coisas para tentar atrasá-los, mas estava ciente de que aquilo não tinha como acabar bem. Foi assim que Kihyun entrou em minha vida, comprando briga com os dois rapazes, me protegendo deles, e sabe-se-lá como, nós dois conseguimos sair do confronto com apenas alguns ferimentos.

Ele é muito mais novo do que eu, talvez uns cinco anos. Eu posso notar por conta de sua personalidade e trejeitos, uma vez que eu não fazia ideia de qual era a minha idade. Quando enfim pude respirar e ser invadido pelas dores em todo o meu corpo, me dei conta de que eu não sabia nada além do meu próprio nome - que estava escrito na palma de minha mão -, e de que todo o meu passado estava em branco.

Portanto Kihyun, dadas estas condições, não foi apenas a primeira pessoa que eu havia conhecido naquela cidade, mas também na minha vida inteira.

Ele me apresentou a Hyungwon, e mesmo que eu não confiasse em ambos no começo, logo aprendi que estaria seguro se ali permanecesse.

Hyungwon e Kihyun rapidamente souberam que eu não era como eles e a melhor suposição era a de que eu viera de Soul, uma das cidades que eles chamavam de modelo. Os dois haviam nascido e crescido na área 20785, e só estavam vivos porque os pais de Hyungwon eram médicos - e doutores eram respeitados porque as pessoas precisam deles. A única ligação de Kihyun com Hyungwon é o fato de que sua mãe havia falecido enquanto era tratada pelos pais do mais alto e estes não permitiram que o garoto ficasse sozinho.

Desde o meu primeiro dia neste lugar, eu tenho a sorte de não me sentir assim também.

Um barulho me tira de meus devaneios e eu me coloco a separar alguns ingredientes para cozinhar qualquer coisa. Kihyun deve finalmente ter acordado, eu penso, aliviado de não ter de ir até o quarto dele para chamá-lo. Embora tivéssemos agido normalmente na noite anterior, sob a preocupação vigente de Hyungwon que cuidou de nossos recentes ferimentos como podia, ao despertar, senti que não conseguiria olhá-lo da mesma maneira. Porque se não tivéssemos sido atacados, certamente eu teria de fitá-lo ao meu lado, desvencilhar-me de seus braços que estariam em volta do meu corpo me aquecendo e teria de não pensar na maneira como tudo havia acontecido tão depressa.

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