Parte 4-6 • Hyunwoo

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Hyunwoo

- Você mentiu pra mim - Minhyuk diz e eu não tenho palavras para me defender.

- Nós podemos resolver isso, mas eu preciso que você se esconda - eu estou muito nervoso. - Eu não posso te perder de novo, Minhyuk, não posso...

Não temos tempo de terminar. Hyungwon puxa Minhyuk e a empurra na direção de Changkyun.

- Vão!

Minhyuk ainda fica um tempo parado, mas o barulho do motor do carro que Hoseok usa chama a atenção de todos e então o vejo sumir pela escadaria ao lado de meu melhor amigo.

Hyungwon e eu não temos um plano, apenas sabemos que deter Hoseok é a prioridade. Com isso, adentramos o apartamento em busca de qualquer coisa que possa nos servir como arma. A bagunça e a evidente falta de materiais nos prejudica. A invasão citada por Changkyun praticamente desvastou o laboratório e os demais cômodos. Há apenas uma faca caída no chão da cozinha e Hyungwon a pega, jogando uma barra de ferro para mim, a mesma que eu trouxe quando cheguei ali meses antes.

Pelo som nos andares inferiores, Hoseok está vasculhando os apartamentos e só há uma passagem por onde ele alcançaria o nosso andar. Hyungwon e eu nos posicionamos um de cada lado da abertura da escadaria e eu estou tremendo muito, porque não tenho certeza de ter força suficiente para acertar Hoseok e causar-lhe algum estrago. Penso em todos os anos de trabalho com máquinas em Soul e em todos os pontos fracos de uma máquina que eu poderia acertar, e coloco na cabeça que Hoseok também é humano, portanto, há ainda mais pontos fracos dos quais podemos nos aproveitar.

Ele está se aproximando porque seus passos são pesados e o som que produzem parece ser proposital. Está nos avisando.

Olho para Hyungwon e ele respira fundo. Hoseok vai aparecer a qualquer momento. Forço a barra de ferro, me preparo e, no momento em que o vejo aparecer, o ataco com um golpe no peito. O barulho oco é tão forte que acho que Hoseok iria cair para trás, mas ele não sente nem um pingo de dor. Ergo a barra e a miro em direção a seu rosto, notando que Hyungwon está prestes a golpeá-lo também.

- Hyungwon! No estômago! - eu grito e imediatamente baixo a barra, acertando o ombro de Hoseok, que se preocupou em deter Hyungwon e a faca que, por pouco, não se cravo em seu tronco.

Hyungwon dá um grito e Hoseok o joga contra a parede. Ele é tão rápido que não noto o que pretende e continuo tentando acertá-lo quantas vezes puder. Ele se curva quando a barra lhe atinge a lateral do estômago e eu sei que ali há algum conector que lhe proporciona um resquício de dor e o acerto novamente no mesmo lugar.

- Não é tão fácil, Hyunwoo! - ele grita, expondo um sorriso debochado no rosto. Assim que posiciono a barra novamente, ouço Hyungwon me pedir para tomar cuidado, mas não há tempo para prestar atenção nisso.

Uma dor intensa invade o meu corpo e a barra de ferro cai no chão no momento em que minhas mãos se movem para cobrir o ferimento em minha barriga. Eu caio de joelhos, pressionando minha pele e ouvindo a risada de Hoseok ecoando pelo corredor. Ele aponta a faca manchada com meu sangue para Hyungwon e acho que a lançaria, mas não o faz.

- Changkyun deveria ter matado você - Hoseok diz, ainda ameaçando Hyungwon, que está paralisado com as costas na parede encardida. - Era o combinado, mas aquele filho da mãe não tem palavra...

Eu não consigo dizer nada, estou tentando me concentrar em agarrar a barra de ferro de novo, mas minhas mãos não me obedecem. Hoseok vai nos matar com facilidade e eu só estou rezando para que Minhyuk e Changkyun se salvem.

- Acho que não vou precisar disso - Hoseok diz e arremessa a faca na direção de Hyungwon que grita quando ela passa de raspão por seu rosto.

Do cós da calça, Hoseok retira uma arma e, sem mais delongas, corre para a escadaria, tendo certeza de que quem ele procura tinha seguido nessa direção.

- Ya! Hoseok! Hoseok!! - eu grito, tentando chamar-lhe a atenção, mas ele já havia desaparecido.

Caio de lado, apertando os olhos com força e Hyungwon finalmente se move, vindo me socorrer.

- Vá atrás dele, mate-o - eu peço, mas ele não é capaz. - Mate aquele desgraçado, por favor, mate-o...

- Preciso dar um jeito nisso - ele se refere ao corte em meu corpo e chego a bater em seu braço para que ele pare de se preocupar comigo e ajude Minyuk, mas nada surte efeito. Hyungwon está em choque, seu rosto exibe um corte na lateral esquerda e sangra bastante. - Você vai ficar bem, Hyunwoo...

Não, isso não iria acontecer.

-x-

Nós escutamos o barulho das escadas externas - ao menos eu escuto, pois Hyungwon demonstra tamanha concentração que chega a me assustar. Talvez ele tivesse ficado maluco - o ferro batendo sempre que um passo é dado. Imagino meus amigos pendurados na estrutura e meu corpo todo gela. O ferimento causado pela facada ainda dói muito, mas meus ouvidos estão atentos e, quando Minhyuk grita, eu sei que Hoseok vence.

Me desespero. Tento sair do apartamento, mas Hyungwon me impede, assim como a dor que volta aflitivamente. Torno a me deitar, as lágrimas de ódio escorrendo por meu rosto. Respiro fundo uma, duas, três vezes e então consigo suportar as pontadas agudas do ferimento e empurro Hyungwon antes que ele me pare mais uma vez.

- Hyunwoo! - ele grita, e vem atrás de mim enquanto eu corro até a janela. O som do motor invade o ambiente e eu me apresso até a escadaria. A cada passo, parece que eu estou recebendo uma nova facada no mesmo lugar. Quando enfim alcanço o térreo, a porta escancarada e a luz exterior, vejo o carro de Hoseok se distanciando e vejo Changkyun caído no chão.

- Ah, meu deus - exclamo e vou até ele, pegando em sua mão ao notar que ele ainda está vivo.

- Hyunwoo... - ele diz bem baixinho e eu peço para que cale a boca e poupe suas forças, mas ele é um idiota teimoso. - Encontre-a... Hyunwoo...

Sinto o aperto de sua mão diminuir.

- Changkyun, por favor, não faz isso comigo - eu peço, mas está ficando claro que não há mais o que ser feito. - Changkyun, é tudo culpa minha, me desculpe, me desculpe...

- Está... tudo bem...

Seus olhos se fecham e, por um momento, me esqueço de tudo o que havia acontecido. Não há Soul, nem nenhuma área como a 20785, nem máquinas ou sentenças de morte... Há Changkyun, meu melhor amigo, e Minhyuk, a quem eu sempre amaria. As duas pessoas que realmente importavam e que eu tinha perdido de uma só vez. Fito o caminho por onde o carro desapareceu. Volto os olhos a Changkyun. Torno a dar atenção ao ferimento em minha barriga, deixando a dor me consumir de todas as formas.

Eu também perco a vida nesse momento.

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