Parte 3-3 • Interlúdio • Minhyuk

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Minhyuk

Hyungwon confia mais em Hyunwoo do que eu, embora eu tenha me rendido às memórias que apenas Hyunwoo possui. Talvez eu tenha sede pelas lembranças, uma vontade imensa de ganhar o que me foi tirado, por isso, acho que estar junto de Hyunwoo pode me ajudar com tudo isso. Eu me sinto bem ao lado dele, mas não sei dizer se parece tão certo quanto ele me garantiu que é. Os anos em que moramos juntos e todo esse sentimento que um dia nutrimos um pelo outro, nada daquilo havia retornado à mim. Ainda. Eu estou esperançosa de que repentinamente eu possa voltar a ser o Minhyuk de Soul que, assim eu acho, era muito mais feliz.

Hyungwon e Hyunwoo saem juntos para buscar mantimentos, medicamentos e outras coisas que se fazem necessárias. Há uma espécie de grupo organizado mais ao leste, onde as pessoas criaram um espaço um pouco mais tranquilo, longe o suficiente dos locais marcados como descarga de sacrifícios. Mas nem todos podem ir para lá para ficar, segundo o depoimento de Hyungwon, o medo de acolherem um criminoso que destruiria a pequena harmonia que eles ainda tentam fazer crescer os impede de abrir as portas a desconhecidos. Mas é lá que os mantimentos estão e eles não são negados a ninguém.

Sozinho, tudo o que eu faço é ir até o andar superior e ler alguns livros, mas nesse dia eu decido que ficarei no quarto esperando até que os dois estejam de volta. Há uma parte minha que vez ou outra me faz sentir-me maluco. Ela é desperta quando eu abro a segunda gaveta do armário e meus olhos se concentram na camiseta branca e na toalha que ali estão guardadas. Ambas estão manchadas de sangue, então eu evito tocá-las, mas fico olhando para os objetos enquanto minha cabeça é tomada por pensamentos ruins.

No dia em que Kihyun morreu, eu encontrei aquela toalha jogada num canto do quarto dele. Imagino se ele havia sentido dor durante toda a noite e por isso demorou para se levantar da cama. Por isso veio diretamente a mim na cozinha para se despedir... Talvez? Ele sabia que havia algo errado com seu corpo.

A camiseta dele não me deixa esquecer que drásticas mudanças acontecem de um instante a outro.

Fecho a gaveta e me deito na cama, me punindo mentalmente por não conseguir controlar o que eu sinto da maneira que eu julgo ser correta. Se eu fecho os olhos, posso me lembrar de como Hyunwoo está me tratando bem e de como ele se entrega a mim quando estamos sozinhos, mas também sei que eu não me deixo ser levado por seus sentimentos porque ainda estou preso a Kihyun. É Kihyun quem eu quero comigo, mas ele é o único a quem eu não posso ter nunca mais.

Sinto meus olhos ficarem marejados e não quero ter uma crise de choro, como há muito não acontece, então me levanto e caminho até a cozinha, passando antes pelo laboratório, o que é um erro.

Há um rapaz alto e forte que logo me alcança quando me vê e, rindo, me puxa pelo braço porta à fora. Não tenho forças para me desvencilhar e meus gritos ecoam para o nada. Ele me arrasta escada abaixo, murmurando coisas a respeito da sorte que está tendo neste dia, mas eu presto atenção apenas aos meus passos, tentando não cair em meio aos tropeços. Quando finalmente o faço parar, ele gargalha e me empurra contra o chão, erguendo-me pelos braços em seguida, ameaçando me matar ali mesmo se eu não o obedecer. Continuo a tentar lutar contra ele, mesmo sabendo que é inútil. Concentro-me em ganhar tempo. Talvez Hyungwon e Hyunwoo estejam voltando, mas sou levado novamente. O homem dobra duas esquinas e me puxa por uma rua estreita e escura até uma construção abandonada cheia de pilares. Guardo aqueles locais, confiando que eu poderei voltar mais cedo ou mais tarde, mas sou arrancado de meus fracos planos quando sou jogado contra um dos pilares e minha cabeça bate com força contra o concreto. A tontura me faz achar que eu já estou morto, pois nem a dor é perceptível. Àquela altura eu grito por instinto e não sei mais o que está acontecendo. Sinto minha pele em atrito com o ambiente e com as mãos daquele homem, mas não entendo se ele está me tocando ou me mutilando. Não entendo se eu estou morrendo ou se já me desprendi de meu corpo. Então uma nova sombra entra em jogo e eu apenas recobro os sentidos quando noto que o homem que me machucava está agora caído por ter sido ferido por um outro rapaz que me fita, mas parece não conseguir dizer nada. Em seus olhos, porém, sei que quer se certificar de que eu estou bem, mas não tenho tempo de continuar a analisar a situação. Ouço risos e isso é perigoso. O garoto então me agarra pela mão e nós corremos até um lugar momentaneamente seguro e, para minha surpresa, ele me puxa para um abraço.

Assustado, eu o empurro.

- Minhyuk, o quê...?

- Como sabe meu nome?

- Você... não se lembra...?

Algo nele me faz sentir impaciência. Eu quero deixá-lo e correr de volta ao prédio, mas não posso. Não quando ele sabe meu nome, quando havia me salvado.

Quando de dentro de mim ele fez algo ser despertado.

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