Parte 4-4 • Changkyun

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Changkyun

Acariciar seu rosto no escuro é como sonhar com ele quando ele havia partido e eu permaneci sozinho no apartamento em Soul. A diferença é que Minhyuk está realmente aqui e, mesmo sem suas memórias, eu não havia sido apagado por completo. Repito seu nome várias e várias vezes para que o sentimento do qual ele fala se intensifique. Eu o faço até achar que logo serei capaz de trazer-lhe de volta algo que lhe pertence. De trazê-lo de volta para mim.

Eu quero tê-lo comigo por completo, mas é cedo demais. Seria precipitado e egoísta, então me contento em ficar ao seu lado. Ele adormece com a cabeça em meu colo, nostalgia servida a mim.

- Eu te amo - eu digo quando o vejo perdido em seus próprios sonhos e tenho convicção de que ele sente o mesmo, ainda que não perceba.

Quando Minhyuk me perguntou sobre Hyunwoo, eu não pude entregá-lo por completo. Tudo o que disse foi que nós dois o amamos e seríamos capazes de dar nossas vidas por ele. Eu lhe contei que, na verdade, o colar havia sido um presente meu e que ele não mantinha qualquer tipo de relacionamento amoroso com ninguém.

Não sei por que menti, talvez por ter medo de que ele se irritasse com Hyunwoo a ponto de se colocar em risco. Daquela forma parecia melhor, uma mentira amena do garoto que havia chegado e o alcançado primeiro.

- Então Hyunwoo fez isso porque ele realmente gosta de mim? - ele pergunta e eu concordo. - E você também gosta de mim?

- Muito.

As roupas de Kihyun estão ao lado dele e seus olhos fitam os objetos com receio.

- Eu não vou mentir pra você, eu ainda amo Kihyun, mesmo ele tendo partido...

- Fiquei meses longe de você e o que eu sinto nunca mudou. Eu te entendo - eu lhe digo e ele aprova minha sinceridade com um sorriso fraco - Eu não queria te contar para evitar que você ficasse mais confuso do que já está...

- Mas eu precisava saber - ele diz. - Obrigado, Changkyun.

Com isso, ele se aproxima o suficiente para roçar seu nariz no meu. Ele quer provar algo para si mesmo e o faz quando permite que nossos lábios se toquem. É breve, mas é o suficiente para ascender dentro de mim a coragem de que preciso.

- Nós podemos esperar até que as coisas se resolvam - eu falo quando ele se afasta. - Podemos conversar com Hyunwoo e esclarecer tudo...

- Sim, nós vamos fazer isso.

-x-

Eu me sinto muito melhor física e mentalmente. Retornamos ao apartamento e fazemos outra refeição - os horários parecem bagunçados por conta do tempo que passamos no quarto de livros. Minhyuk dorme um pouco enquanto eu mexo em algumas coisas no laboratório de Hyungwon por pura curiosidade. Eu não sou como Hyunwoo e não entendo nada sobre máquinas ou ferramentas médicas. Também não sei nada sobre certas nomenclaturas em vidros de ensaio ou livros. Tento não tirar nada do lugar, mas chego a abrir gavetas e armários sem interesse pelas coisas que encontro ali dentro. Porém, numa das gavetas, algo me chama a atenção: uma câmera fotográfica antiga.

Todo o tipo de lixo e materiais é despejado em locais como a área 20785, então imagino que não é difícil encontrar peças como aquela. Dadas às habilidades de Hyungwon, também não me surpreendo ao descobrir que a câmera ainda funciona. Eu a devolvo ao local onde a encontrei e pego as duas fotos que estão sob ela. Numa delas, há um homem e uma mulher junto a um menino que deve ter uns dez anos de idade. É Hyungwon, com seus traços mais do que reconhecíveis. A segunda foto mostrava Hyungwon, já com a aparência atual, ao lado de um outro rapaz que imagino ser Kihyun. Ele é diferente de como eu o havia imaginado e sorri, ao contrário de Hyungwon. Penso em levar a fotografia e mostrá-la a Minhyuk, para que ele tenha uma recordação menos chocante do que uma camisa coberta de sangue, mas ouço um barulho alto vindo dos primeiros andares do prédio e me assusto.

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