Parte 3-1 • Changkyun

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Changkyun

"I have a long way to go but why am I running in place?

I hope tomorrow will be different from today"

Ao acordar, a primeira coisa que eu faço logo depois de abrir os olhos é tocar em meu pescoço, confirmando que o cordão não está comigo e, como consequência, provando que eu ainda estou preso nesse pesadelo. Já passa de meio dia e, além das garrafas vazias, tudo o que eu posso encontrar em cada espaço do apartamento é lixo. Apenas o banheiro está parcialmente em ordem, afinal, eu tive certo trabalho depois do implante maluco ao qual Hoseok havia me submetido. A cicatriz em minha cintura é pequena, mas dela havia escapado tanto sangue que alguns azulejos brancos acabaram ganhando tintura. Agora estão brancos novamente, mas eu estou marcado para sempre - e mesmo um chip quase imperceptível alojado em algum lugar dentro de mim me faz sentir-me menos humano.

Convicto de que este será mais um dia sem grandes surpresas, acabo passando reto pela correspondência e só me dou conta sobre o que há de importante ali horas depois.

Ela finalmente está aqui, a carta de intimação, e quando meus olhos a encontram em meio a outros papéis é impossível me conter: o esperado dia finalmente chegou.

-x-

Já terminei o meu café quando Hoseok finalmente aparece. Desviando de algumas pessoas que se levantam para ir embora, ele logo alcança a mesa onde eu estou e puxa a cadeira da frente para sentar-se. Está visivelmente animado, de certo ansioso agora que tudo realmente começa a andar conforme o planejado meses antes. Diria que está até mesmo mais inquieto do que eu.

- Por que está com essa cara? - ele me pergunta e eu dou de ombros.

- Vai ser uma semana longa - reclamo e ele rola os olhos. Digo isso porque não quero esperar sete dias como acontece com quem é sentenciado.

- Olha, não vou ser uma piada como Hyunwoo e apressar as coisas correndo o risco de ser descoberto - ele explica, mas não está nem um pouco nervoso. - Está tudo acontecendo como deve ser. Vai falar com seus pais hoje à noite?

- Amanhã de manhã - respondo. Havia pensado muito em como noticiá-los sobre a minha "morte" e, se isso tudo fosse me levar a um lugar sem saída, eu esperaria até o último dia para contar a eles sobre a carta de intimação. Mas não é e, mesmo que eles não possam saber, eu continuarei vivo. A coisa certa é dizer o quanto antes que eu preciso partir. - Só preciso juntar um pouco mais de coragem.

Hoseok ri e pergunta se eu já paguei a conta e eu digo que sim, mas que posso esperá-lo caso queira se servir de algo. Porém, como sempre, ele nega.

Dou uma olhada rápida pelo balcão de atendimento, estranhando o fato de que há outro robô ali que não é Rainbow. O fato de eu ter deixado meu olhar preso nessa nova máquina por mais tempo do que o necessário chama a atenção de Hoseok.

- Interessado? - ele pergunta em tom de zombaria. - Tem quem ache que todos os robôs conhecem certos assuntos na teoria e na prática...

- Só estou tentando entender por que trocaram as atendentes - eu digo, ignorando a piadinha que ele formulou, porque eu não achei graça. Hoseok suspira, como se esse fosse um assunto cansativo.

- Eles substituíram alguns modelos nas últimas semanas - ele diz. - Descartaram alguns modelos, devo dizer...

Olho pra ele como se isso fosse um absurdo.

- São máquinas - ele balança a mão no ar de um jeito esquisito, como se espantasse algum inseto. - Uma hora elas acabam quebrando.

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