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A cela resultou não ser tão deprimente quanto eu pensava.

Se não fosse pela porta trancada e o fato de que era um sótão sem janelas, eu quase poderia ter me convencido que estava em um pequeno e pitoresco B&B3.

( Bed And Breakfast 3. Refere-se à uma casa em que o morador aluga o quarto e serve o café da manhã já incluso na diária.)

A cama era pequena, mas macia e convidativa. O banheiro tinha uma banheira e um aquecedor a gás que acrescentava calor instantâneo.

O melhor de tudo, minha mala e minha mochila jaziam em um canto.Suponho que alguém as havia levado para lá, mas eu teria apostado meu dinheiro que era algum tipo de magia. Não podia imaginar Grace trazendo minhas coisas, inclusive se ela tivesse que lançá-los aqui.

Apesar do quão agradável era o quarto, não podia esquecer o barulho do bar dentro do lugar.

Isto era realmente uma cela inclusive se o carcereiro era um pouco agradável; a guardiã, tia Grace, era outro assunto.

Pasei pela cela por cerca de meia hora, tentando conseguir um plano de fuga.

Claro que eu não sabia para onde eu poderia ir, inclusive se milagrosamente saísse desse quarto.Uma busca em minha mala e minha mochila mostrou que meu passaporte, meu cartão de crédito e todo meu dinheiro tinham desaparecido. Se eu quisesse sair teria que recuperá-los. Ou encontrar um cúmplice.

Meus planos – se eu pudesse chamá-los assim – foram interrompidos pelos sons abafados do bar. Dois segundos mais tarde, Lachlan entrou na habitação. Em uma mão maciça sujeitava uma bandeja, no qual continha uma chaleira e xícaras.

Quando fechou a porta e baixou sua mão, vi um prato adornado com uma seleção de bolos.

Meu estômago fez um barulho ruidoso, o qual Lachlan foi bastante bom em ignorar.

Colocou a bandeja em uma pequena mesa com duas cadeiras.Lachlan afastou uma das cadeiras para mim como um cavalheiro.

Estava tão faminta que deixei passar a oportunidade, assim, comi os deliciosos e quentes bolos em tempo recorde. Lachlan rondava enquanto eu comia, e cada vez que eu lhe dava uma olhada furtiva, estava sorrindo com o que parecia ser orgulho.

— Você que fez? — perguntei.

Assentiu com a cabeça e levanta seu dedo polegar.

— Esta é a minha melhor confeitaria.

— Estavam deliciosos. — lhe disse, embora estivesse certa que ele já tinha recebido a mensagem.

A comida havia me feito sentir temporariamente melhor, mas meu estado de ânimo voltou quando Lachlan levantou a bandeja para sair. Pronto, estaria só em minha cela outra vez.

Lachlan me deu um sorriso compassivo.

— Sua tia Grace tem boas intenções. — disse. — Sei que ela está sendo pouco diplomática.

Não pude evitar um resfôlego de risada. Sim, essa era um forma de descrever.

Lachlan parecia ferido por causa de minha risada. Acho que ele realmente gostava de tia Grace, considerando que fez o possível para defendê-la.

— Ela estava sob uma grande quantidade de estresse ultimamente. — explicou.

— E sua chegada para... —

Franziu cenho e não terminou a frase.

— Minha chegada para o quê?

— Digamos que é uma complicação a mais para uma vida já complicada.

— Por quê? — perguntei elevando minhas mãos com frustração. — Só por que vim visitar meu pai? Por que todo mundo está fazendo um grande assunto sobre isso?

Está bem, eu tinha a ilusão de viver aqui com meu pai, mas depois de menos de um dia, havia renunciado a essa idéia. Lachlan olhou para seus pés, com os cantos da boca apertados em desgosto.

— Não é meu dever explicar para você.

Mas percebi que ele queria fazer isso.

— Por favor, Lachlan — digo, tentando soar desesperada e patética. Está bem, isso não seria difícil de conseguir, mas não estava tentando ocultar. — Por favor, me diga o que está acontecendo.

Por meio segundo, pensei que ele ia cair. Mas então a linha de sua boca ficou firme e ele agitou sua cabeça.

— Desculpe, não é meu dever.

Por favor, deixe que meu pai venha até mim, amanhã, rezei.

— Deveria dormir um pouco. — Lachlan disse, levantando-se e recolhendo a bandeja. Nesse mesmo momento, um grande bocejo brotou de cima do meu peito. Ele sorriu.

-Estarei do outro lado da porta. - ele disse - Se precisar de algo, é só gritar.

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