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Para registro: desmaiar é nojento. Sempre pensei que desmaiar era somente a perca de consciência durante alguns segundos. Não havia dado conta que implicava náuseas, calafrios e pele úmida e fria.

Fui me sentar na calçada coberta de grama, com minhas costas contra algo duro e quente enquanto Kimber batia rapidamente em minhas bochechas. Pisquei, mas ela não parou imediatamente. Minhas bochechas ardiam e meus olhos lacrimejavam pelos golpes, e eu já descrevi como maravilhosamente não me sentia.

- Para! - espetei. Abaixei a cabeça e tentei bloquear seu braço com o meu, mas seus reflexos são mais rápidos e logo me dá um tapinha mais gentil.

- Você está de volta à terra dos vivos? - pergunta.

Fico olhando-a. A parede de minhas costas se agita, e com um sobressalto, percebo que estava apoiada contra Ethan, e ele estava rindo. Com um grunhido, me afasto dele e salto pondo- me de pé.

Muito rápido. Pode dizer hipotensão ortostática? (A hipotensão ortostática é uma redução excessiva da pressão arterial ao adaptar-se a posição vertical, o que provoca uma diminuição do fluxo sanguíneo ao cérebro e o conseqüente desmaio) Balanço e agito os braços para manter o equilíbrio. Mal levantei, Ethan já estava ali, com suas mãos em meus ombros, estabilizando-me.

- Com calma. - diz. - A menos que você goste tanto de desmaiar que queira fazer novamente.

- Não, obrigada. - murmuro, e deixo-lhe suportar meu peso enquanto o mundo deixava de girar.

Os pequenos sinais de chuva tinham ficado mais agressivos e quase se qualificava como uma garoa constante. E a parte de trás das minhas calças estava empapada. Deus, por favor, deixe ser porque o solo estava molhado. Havia tidosuficiente humilhação por um dia, obrigada.

- Vamos te levar para dentro, para fora da chuva. - diz Ethan. - E aposto que você gostaria de tomar uma xícara quente de chá.

Tento não brincar com a idéia.

- Na verdade, eu gostaria de tomar uma xícara de café agora mesmo. - digo, mas nem Ethan nem Kimber pareciam muito interessados no que eu queria.

Novamente, Ethan pôs seus braços ao redor de meus ombros, só que desta vez Kimber não se incomodou em discutir. Estava tentando não pensar no que havia visto e o que podia significar, e inclusive mais firmemente no fato de que na verdade eu tinha desmaiado, mas não estava concentrada no calor do corpo de Ethan junto ao meu. Quando saí do meu atordoamento temporal, foi para me dar conta de que meu braço de alguma forma tinha encontrado seu caminho ao redor de sua cintura, e que agora estava igualando seu passo. Não mais golpes torpes de quadris.

Quando voltamos ao pátio, nós três fomos ao apartamento de Kimber. Kimber me deu roupas secas, e eu me meti no banheiro para me trocar. Ocorreu-me que minha vida poderia ser muito mais fácil se eu tivesse mentido e houvesse dito que não vi nada incomum quando olhei ao longe. Era uma boa mentirosa, mamãe tinha me dado milhares de ocasiões para treinar... Mas duvido que possa ser capaz de fingir que nada ia mal com a cara enjoada e nauseada.

Olhei meu rosto no espelho do banheiro quando terminei de me trocar, e dificilmente reconheceria a mim mesma. Meus olhos estavam muito abertos, meu rosto muito pálido. Inclinei-me para frente e inspecionei as raízes do meu cabelo, meio esperando que elas tivessem se tornado branco, mas ainda pareciam normais.

Joguei água quente no rosto, e isso devolveu um pouco de cor para minhas bochechas. Logo, respirei fundo e fui me juntar a Kimber e Ethan na sala. Neste ponto, eu estava começando a suspeitar que não queria uma explicação para o que eu tinha visto, mas soube que eu ia ouvir, de qualquer forma.

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