Capítulo 5 - dois meses

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Depois de toda a cena de sexta e sábado, no domingo todo mundo acaba saindo junto. Fico perto de Daniel e da Sofia, Matt nem olha pra mim. Ele nunca me tratou assim antes, sinto que estou ficando invisível. E cada vez que ouço ele falar com alguém, me sinto menor. Eu tenho certeza que ele vai cumprir com a palavra de não ficar mais por perto. Ele sempre foi determinado em todas suas estúpidas decisões da vida. Eu só não achei que iria fazer parte de uma delas dessa maneira. Quando voltamos pra casa, o silêncio é ensurdecedor. Nem quando saio do carro e dou tchau, ouço uma resposta dele. Pego a minha mochila e caminho até a porta de casa. Observo o carro preto ir embora, parece a porra da cena de um filme triste, mas é só minha vida. 

A última semana de provas passam voando. Começo a almoçar em casa nesses dias, Sofi me acompanha em todos eles, de vez em quando traz o Dani junto. Quando eles me convencem, vamos no restaurante da Dona Gi, Matt sempre está lá, mas agora com Bruna, uns caras do direito, e às vezes até Luísa está sentada a mesa com eles. Quando nossos olhos se cruzam ele sempre vira o rosto. Parece que a gente nunca se conheceu, cinco anos de amizade jogadas no lixo. E ele nem chegou a transar comigo pra ter me jogado pra escanteio desse jeito. 

Depois das provas e mais umas semanas de aula, as férias de verão finalmente chegam. Com elas, várias festas começam a aparecer, não vou a nenhuma, por um lado porque desde que comecei a beber comecei a fazer merda, por outro porque quero evitar Matt.

 Duas semanas depois que já fiquei o suficiente de pijama, dentro de casa, sem nem ver um raio de sol e terminei todos meus livros, decido procurar um curso extensivo da faculdade pra ganhar horas extracurriculares. Pego o notebook e começo a rolar a página, todos eles parecem chatos, mas tem um que é meio fora do que estudo, apesar de continuar sendo uma forma de arte, fotografia. Penso um pouco sobre o assunto e decido que parece ser divertido sair um pouco da minha área de conforto, posso tentar. Confiro meus horários e tenho que colocar ele para os sábados pela manhã. Mando uma mensagem pra Sofi. 

"Me cadastrei no curso de foto, e você?"

"Foto? Aiii não escolhi ainda"

"Faz comigo por favor, não quero ser a única perdida"

"Tá, vou colocar"

Afinal, amigas são pra essas coisas não é mesmo? Sinto um aperto no coração quando penso em que curso o Matt vai escolher esse semestre, se é que vai escolher algum. É estranho saber que nossa amizade mudou da água pro vinho. Mas também, se relações românticas que vem do Ensino Médio não duram, talvez seja a mesma coisa com as amizades. O problema é que dói muito mais do que se fosse um rolo. Ele não seria a pessoa que me conhece do dedinho do pé até o último fio de cabelo. Me sinto impotente durante essa situação, e até meio burra as vezes. Se eu fosse corajosa o suficiente, iria até a casa dele e o forçaria a voltar a falar comigo. Como sou a maior covarde do mundo, continuo meus dias fingindo que a falta dele não me afeta mais.

Quando o sábado chega, me preparo para o curso de foto. Acordo cedo e almoço com minha mãe, que parece estar de bom humor, até ovos mexidos ela fez pra gente. Coloco uma calça preta e uma blusinha branca, prendo o cabelo num coque e escolho meus óculos escuros redondos. Sofia vem me buscar e vamos juntas no carro dos pais dela. 

 – Até que enfim saiu da toca hein.  – começa ela, me cutucando. 

 – Eu precisava de um tempo, Sofi.

 – É, eu sei. Mas como sua amiga decido que já te dei espaço o suficiente, tá? Agora parou. Como você tá? 

 – Não sei... Eu sinto a falta dele, meio que o tempo inteiro.  – confesso, sabendo que ela é a única pessoa pra quem posso compartilhar essas coisas. 

Antes do Amanhecer *COMPLETO* sem ediçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora