MATTAna estava de cabeça baixa enquanto saia de casa, o sol estava queimando. Na minha mão, duas limonadas geladas pingavam pelo calor. Respirei fundo e caminhei em direção a ela. Seu rosto não demonstrou nenhuma reação quando me viu.
– Pra você. – eu disse, entregando a limonada.
Ela pegou de minha mão e tomou um gole, mas não agradeceu.
– Eu te dou uma carona para a aula de fotografia, se você quiser. – eu disse.
Ela me encarou por alguns segundos e seguiu em direção ao carro, quando entrou ela bateu a porta mais forte que o normal. Me perguntei por quanto tempo esse comportamento ia continuar. Entrei no carro e larguei a limonada no porta copos. Peguei minha mochila no banco de trás para entregar o convite do casamento de Bernardo pra ela.
Quando ela pegou o papel, nossos dedos encostaram um no outro, e ela tirou a mão rapidamente de perto da minha.
– Desculpa. – falei, sem esperar resposta.
Ficamos em silêncio o caminho inteiro. Quando chegamos, tomei coragem e encostei minha mão em seu braço.
– Você vai? – eu disse, a esperança na minha voz, como se eu tivesse quase implorado, fez um relance de brilho passarem pelos seus olhos. Se ela começasse a chorar agora, provavelmente eu choraria junto.
– Acho que sim. Obrigada pela carona. – ela disse. E foram as palavras mais geladas que a maldita limonada que estava em suas mãos. Ana me deu as costas, e eu fiquei encarando enquanto ela entrava no prédio de tijolos. O que eu não daria para ter essa garota de volta.
*** . ***
MATT
O casamento de meu irmão ia ser no quintal da nossa casa. Fiquei feliz que pela primeira vez, aquele quintal enorme seria usado para algo. A casa estava cheia de gente trazendo flores, cadeiras e mesas. Quatro tendas brancas estavam espalhadas pelo jardim. Luzinhas brancas estavam sendo penduradas nelas. Minha mãe pediu ajuda com a organização enquanto Bernardo e Fernanda estavam em seu dia de SPA. O casamento ia ser no dia seguinte, começando pela manhã, ia ter almoço, café da tarde, e a tardinha a cerimônia de casamento, seguido de uma festa para os recém casados e óbvio, para os convidados também.
Enquanto eu ajudava a colocar luzinhas nas tendas, Ana estava pra lá e pra cá com minha mãe, organizando onde cada flor branca iria. De vez em quando Ana sorria para Jujuba e fazia um carinho em seus pelos pretos, a gata por sua vez não saia de seus pés. Era o único momento que eu podia ver um pedaço da Ana que deixei pra trás. Fora esses raros momentos, ela mantinha sua cara séria, principalmente quando nossos olhos se encontravam. Ela não estava usando o colar que eu dei de presente no Natal, quando vi ela com ele no Ano Novo, tive esperanças, mas elas foram por água abaixo.
Quando terminei com as tendas, fui para perto de minha mãe e Ana. Elas estavam passando as flores uma para a outra enquanto os funcionários faziam um arco com elas.
– Pode deixar comigo. – eu disse para minha mãe, enquanto pegava um balde cheio de rosas para entregar para Ana.
– Ok, vou lá ver o buffet. – Dona Lúcia disse, entrando dentro de casa.
Enfiei a minha mão no balde enquanto Ana me encarava, esperando as próximas flores. Quando peguei em seus galhos, senti espinhos por toda palma da minha mão.
– Droga! – falei, tirando a mão do balde. Um pouco de sangue escorria de alguns espinhos.
Quando olhei para Ana, seus olhos estavam arregalados, ela me agarrou pelo pulso e me levou para dentro de casa. Ela abriu a porta do meu quarto e me levou até o banheiro. Sua mão continuava no meu pulso. Fiquei quieto para não quebrar o contato que estava tendo com ela. Ela abriu a torneira e colocou minha mão embaixo, tirando com cuidado os espinhos.
– Tá doendo? – ela perguntou, sua voz estava baixa e suave. Seus olhos encaravam minha mão com preocupação.
– Ardendo um pouco. – falei.
– Você não deveria ter pego com tanta convicção. – ela disse, um sorriso estava querendo escapar de seus lábios.
– Você está rindo de mim, Ana? – perguntei. Ana começou a rir alto, ela estava tendo um ataque de riso, eu podia perceber. Seus olhos lacrimejaram, e ela colocou a mão em seu estômago. Se eu soubesse que ia conseguir a atenção dela assim teria me espetado antes.
– Desculpe. – ela disse, enquanto tapava a boca.
– Não, tudo bem. Ao menos meu sofrimento está servindo de alguma coisa. – eu disse.
Ana secou minha mão com papel, pegou uma faixa e enrolou minha palma nela. Seu rosto estava sério e concentrado de novo. Depois desse momento, ela sumiu do meu quarto e não se aproximou novamente. Achei que tivessemos tido um momento, mas eu estava errado pelo visto.
Topei com ela na beira da escada quando estava indo embora, com sua mochila nas costas. Seu cabelo que estava preso estava todo bagunçado, e seu rosto corado pelo calor. Ela estava maravilhosa.
– Você já vai?
– Sim.
– Quer uma carona?
– Não precisa, obrigada.
– Ah, tudo bem. Obrigada pelo curativo. – eu disse, levantando a mão atada para ela.
– Não foi nada, eu sei que você só fez isso porque não queria mais ajudar – ela disse, sorrindo.
Fiquei parado sem conseguir responder. Agora ela estava brincando comigo de novo? Enquanto ela saia pela porta, pensei o quanto seria difícil não criar esperanças.
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Antes do Amanhecer *COMPLETO* sem edição
Roman d'amourAna Ricci sempre foi do tipo de menina que nunca chamou muita atenção, diferente do seu melhor amigo, Matt Conti, que arrancava suspiros de qualquer pessoa que passasse. Os dois já se conheciam a 5 anos, e entraram ao mesmo tempo na faculdade. Ana...