Sinto o meu corpo doer, cada minúscula parte dele. Abro os olhos devagar, percebo com alívio que Matt não tá no quarto. A última pessoa que eu queria ver quando acordasse era ele. Sinto um gosto amargo na boca. Parece que uns cinco caminhões passaram por cima de mim. Tento levantar e percebo que estou meio tonta. Caminho até o banheiro e sento no chão, encarando a privada. É isso, se eu vomitar vai ser agora. Encaro a camisa de Matt que vai até minhas coxas e faço uma careta, não quero pensar em sujar ela de vomito. Amarro meu cabelo como dá e vomito um pouco. Quase nada sai, mas o barulho é horrível, tanto quanto o cheiro. Ouço a porta abrir, droga, droga droga.
– Ana?
– Sai daqui Matt. – digo, enquanto viro pro vaso novamente. Antes de eu começar a vomitar tudo que existe dentro de mim, Matt se aproxima e faz movimentos circulares nas minhas costas. Quando termino, levanto cambaleando e limpo o rosto. Tento não olhar pra ele, que me segue tão de perto que consigo sentir seu cheiro, seu maldito cheiro que também ta na droga dessa camisa e seu calor que me faz lembrar de ontem a noite. A noite em que ele não quis nada comigo.
Caminho até a cama e me atiro nela de novo, sinto o colchão afundar do meu lado. Tenho certeza que vamos ficar nessa guerra fria, então cedo.
– Eu só quero dormir mais um pouco, você poderia deixar?
– Não tô fazendo nada. – ele diz, me encarando com aqueles olhos azuis. Viro pro outro lado e suspiro. Sei que não vou conseguir dormir agora. Principalmente agora que me dei conta que ele está aqui. Um arrepio atravessa meu corpo e eu puxo a coberta. Matt levanta de seu lugar e se ajoelha na minha frente, colocando a mão na minha testa.
– Você ta fervendo em febre, porra. – ele diz, mais pra ele mesmo do que pra mim. Fico quieta. Estou muito envergonhada pra dizer qualquer coisa, ou tocar no assunto da noite passada, por mais que seja só isso que passa pela minha cabeça no momento. Matt revira uma gaveta e me entrega dois comprimidos e um copo de água, tomo sem reclamar e fecho os olhos.
...
Quando acordo de novo sinto cheiro de café, já deve ser de tarde. Me sinto bem melhor, estou sozinha no quarto, então levanto, pego um caderno na mochila e começo a fazer algumas anotações, afinal, ainda tenho provas pra fazer durante a semana. Duas horas depois percebo que o sol está se pondo, então decido sair do quarto. Esbarro com Sofi no corredor que sorri, puxo ela pra dentro do banheiro mais próximo e despejo tudo que aconteceu. Sobre o beijo, sobre a rejeição, sobre como me senti, sobre estar sentindo coisas que eu nunca achei que fossem possíveis, ao menos, não por ele.
– EU. NÃO. ACREDITO. – ela diz, um pouco mais alto que o necessário. E então eu começo a chorar.
– Meu deus Ana, calma.
– Eu não sei porque fiz isso, Sofi. Eu tô tão arrependida! Só queria voltar pro momento em que eu não me atirei pra ele. Eu nem sei porque essas coisas estão passando pela minha cabeça agora. – falo entre soluços.
A porta se abre quando termino a frase e encaro músculos, tatuagens e olhos azuis bravos. Muito bravos.
– Você o que? Você se arrepende? – Matt diz, com a cara fechada.
– Vou deixar vocês conversarem. – Sofi sussurra, saindo do banheiro e fechando a porta.
Engraçado que agora a gente só se encontra em banheiros. Mas eu ainda preferia a cena de ontem a noite do que a que está acontecendo nesse exato momento. Tento limpar as lágrimas do jeito que dá, mas elas insistem em continuar saindo.
– Eu não devia ter feito nada daquilo, Matt.
– Então é isso que você pensa? Depois de tudo que já aconteceu, passamos de amigos pra um erro?
– Eu não sei, droga! Como eu vou saber? Até ontem nós éramos inseparáveis, será que a gente não pode fingir que nada aconteceu?
– Droga, Ana! – Matt xinga, me puxando pra perto dele. Abraço ele e sinto uma calma quase instantânea. É disso que eu preciso agora. Ele sempre foi minha paz, meu lugar tranquilo, onde eu tinha risadas e alguém pra conversar. Isso é familiar pra mim.
As mãos dele me seguram forte, um arrepio passa pelas minhas costas quando ele encosta os lábios na minha orelha. Fico quente na hora, como se meu corpo tivesse ligado algum forno por dentro. As próximas palavras partem meu coração em cem mil pedaços.
– Não posso mais ficar perto de você, linda. – ele sussurra, enquanto quebra nosso contato. Fico olhando pra ele sem entender nada. Que história é essa de não poder ficar perto de mim? Eu sou a droga da sua melhor amiga!
Ao invés de gritar tudo que tenho vontade na cara dele, observo ele abrir a porta e sair, me deixando sozinha no banheiro. Encaro o espelho, estou um caco. Com olheiras por causa da noite mal dormida, inchada pelo choro, meus cabelos estão sobre os ombros desarrumados e minhas bochechas estão coradas pela proximidade de Matt a poucos minutos atrás. Suspiro fundo antes de segurar a maçaneta gelada e sair do banheiro, algo dentro de mim tem certeza, eu acabei de perder o meu melhor amigo.
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Antes do Amanhecer *COMPLETO* sem edição
RomansaAna Ricci sempre foi do tipo de menina que nunca chamou muita atenção, diferente do seu melhor amigo, Matt Conti, que arrancava suspiros de qualquer pessoa que passasse. Os dois já se conheciam a 5 anos, e entraram ao mesmo tempo na faculdade. Ana...