Capítulo 4

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Durante os dois dias que se passaram tentei fugir de Susana, mas não durou muito tempo, já que precisava levar para ela o livro de pré-publicação, como tinha prometido. Se pudesse delegar essa tarefa a alguém, eu o faria, mas o conteúdo não podia ser visto por ninguém, além do editor-chefe e o presidente, que daria ou não o aval para que a publicação fosse feita.
— Boa tarde! — Cumprimento abrindo a porta da sala dela.
— Boa tarde, Gustavo, entre — respondeu apontando a cadeira para que eu me sentasse.
— Obrigado. Vim trazer o livro para que você veja antes da reunião de amanhã — expliquei entregando em suas mãos.
— Pelo visto você faz tudo com esmero. Pelo que meu pai diz sobre você, não me surpreendo com isso — observou folheando as páginas com vários post-tits que demarcavam as correções e modificações que precisariam ser feitas, até que parou em uma página, franziu a testa e, entortando a boca, acrescentou — Não creio que essa matéria será boa para essa edição.
— Qual matéria? — Indago sem ter ideia de qual ela falava.
— Essa, sobre tendências de maquiagem usando base e pó certo para a pele — indicou batendo o dedo na revista.
— Por quê? — Reforcei a pergunta.
— Estamos entrando no verão, pó e base são camadas que escorrem, o certo é indicar produtos que segure o suor. O melhor é nem colocar essa matéria agora, deixar para outra estação, e falar sobre maquiagens suaves para o verão, sem ousar na base e pó — expôs com uma certeza inabalável.
— Você está certa, são exatamente esses os pontos que discutimos nas reuniões — expliquei a ela, que me olhava de uma maneira diferente agora.
— Isso é bom. Se quiser, Gustavo, pode me ajudar a ver essas pequenas mudanças toda quinta-feira, para chegarmos nas reuniões de sexta com tudo certo, o que acha? — Sugeriu com a caneta entre os dentes.
— Sem problemas, Susana. Se você acha melhor, eu concordo — respondi observando seu sorriso se abrir.
— Podemos começar hoje? — Perguntou com certo brilho nos olhos.
— Podemos, sim. Como quer fazer? — Eu quis saber.
— Façamos o seguinte, vamos lá pra casa e podemos ver com calma, ou melhor, deixa pra semana que vem. Estou vendo um apartamento para comprar, aí não teremos ninguém tirando nossa atenção, porque lá em casa meu pai e minha mãe estarão sempre perguntando algo e vai nos tirar o foco.
— Se quiser, tenho um apartamento aqui perto que uso muito esporadicamente, podemos ficar tranquilos lá, até que providencie o seu — ofereci, mesmo sabendo que poderia ser um erro.
— Que ótimo! Então, vamos para o seu apê assim que eu terminar de ver algumas fotos da última sessão, já aproveito para separar algumas para ver o que acha, pode ser? — Perguntou colocando os óculos e voltando seus olhos para a tela do computador.
— Sem problema, enquanto isso vou terminar algumas coisas na minha sala. Quando terminar, me ligue e nos encontramos na garagem — respondi saindo em seguida.
Eu tinha certeza de que essa de ficarmos sozinhos não seria nada bom, se bem que ela me tratou como profissional, sem mencionar nada do que tinha acontecido em sua casa dois dias atrás.
É muito difícil ficar do lado dela, mas precisava me acostumar com essa proximidade, já que trabalharíamos juntos e todos os dias. Sei que é muito cliché essa de ser afim do chefe, mas não quero ser só mais um na vida de ninguém.
Leandra e Patrícia sempre dizem que sou uma mulher no corpo de um homem gostoso, que príncipe encantado só é lindo em conto de fadas e que no mundo real nenhuma mulher vai acreditar no que eu digo. Sempre retruco, dizendo que não sou um príncipe encantado, apenas fui educado de maneira diferente.
Desde pequeno, minha mãe me ensinou a respeitar uma mulher, a não usar ninguém para benefício próprio, e sempre me contava a história de minha tia, que se matou por causa de um homem que a usou.
Cresci com essa história, e as palavras de minha mãe ecoavam em minha mente sempre que me envolvia com alguém. "Lembre-se de sua tia, meu filho, e não faça ninguém de objeto. Mulheres são sensíveis, ame ou não se aproxime, joguinhos podem levar alguém a tirar a própria vida. Não vai querer esse karma para você, vai?". O pior é que sempre achei que o sensível da história fosse eu, não as mulheres com quem me envolvi. 
Namorei por anos a mesma pessoa. Conheci Julia no ensino médio e o primeiro beijo, a primeira vez em tudo, foi um com o outro. Ela era linda, cheia de vida e muito falante, tinha gênio forte e uma personalidade marcante, com ela não tinha meio termo, ou a amavam ou a odiavam, e eu a amava muito.
No final de minha segunda faculdade, ela foi até mim e disse que queria terminar, justamente na noite em que a pedi em casamento e justificou que queria conhecer outros homens, que não podia casar sem ter vivido outras experiências, que me amava, mas que isso já não bastava, não era suficiente para ela.
Nunca mais falei sobre Julia com ninguém, nem tive outras namoradas, e toda vez que tentava me envolver com alguém, era deixado de lado por outro cara que não levava a vida tão a sério. O mais engraçado é que vejo mulheres dizerem nas redes sociais que querem casar, mas quando conhecem alguém que realmente quer construir uma vida, simplesmente trocam o certo pela aventura.
Após alguns minutos Susana ligou.
— Estou indo para a garagem, está pronto? — Perguntou.
— Estou descendo — respondi desligando meu notebook e o colocando dentro da pasta.
Entrei no elevador e me deparei com Ana Paula dentro dele, olhei para ela e recebi seu sorriso meigo. Sempre a observei porque era uma pessoa com quem eu namoraria, com certeza – bonita, discreta e meiga, tudo que eu gostava em uma mulher –, mas ela tinha namorado e respeitei isso.
— Boa tarde, Ana! — Cumprimento sorrindo.
— Boa tarde, senhor Gustavo! — Respondeu envergonhada, e eu quase podia sentir o calor de seu rosto quente e vermelho.
Ana Paula trabalhava no RH da revista, sempre muito solícita e atenciosa com todos, porém, muito fechada e polida com sua vida pessoal, ninguém sabia nada sobre ela, a não ser que namorava, pois usava aliança na mão direita e de vez em quando víamos o namorado buscá-la na empresa.
Muito bonita, tinha olhos cor de mel bem claro, pele bem branquinha, a boca desenhada e vermelha, cabelos castanhos e enrolados até o meio das costas, na maioria das vezes, presos em um rabo de cavalo, não era alta, ao contrário, delicada até no tamanho, sempre com saltos altos para disfarçar seu um metro e cinquenta e oito de altura.
Quando chegamos na garagem, onde Susana já me aguardava, Ana Paula seguiu para fora do prédio e eu para meu carro.
— Demorou, hein! — Susana disse impaciente.
— Demorei? Nem percebi — respondi sorrindo.
— Vou pegar meu carro e te sigo — ela disse apontando o alarme para seu carro e destravando-o.
Dez minutos depois, dei seta e entrei na garagem do meu prédio, dando sinal para que o porteiro soubesse que Susana estava comigo. Estaciono e ela faz o mesmo na vaga ao lado.
— Vamos? — Perguntei apertando o alarme de meu carro.
— É só mostrar o caminho, estou na sua cola — respondeu sorrindo com a gíria.
Chamei o elevador e subimos até o décimo sexto andar, abri a porta e dei espaço para que ela entrasse antes de mim.
— Nossa! Seu apartamento é lindo, luxuoso e de muito bom gosto, hein? — Disse, deslumbrada com a decoração, observando tudo ao redor.
— Obrigado! — Respondi sorrindo enquanto fechava a porta e jogava a chave no barzinho.
— Por que você não mora aqui? — Ela perguntou sentando-se na sala de jantar.
— Por causa de meus pais — respondi.
— Sei como é, somos filhos únicos, complicado sair de casa assim — ela respondeu como se realmente me entendesse.
Abri um vinho para degustar e ficamos ali, revendo pontos do livro e matérias que colocaríamos ou não na edição do mês.
Duas horas depois, Susana recebeu um telefonema, se desculpou e saiu apressada. Eu continuei ali, repassando todos os pontos que já havíamos modificado nas matérias.

O Jogo do Amor  - Tudo pra Conquistar minha ChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora