Teardrops & Pizza - Mark Tuan

Nerd.

Acordei tão feliz aquele dia, tinha sonhado comigo e Mark num unicórnio, indo para o nosso castelo de nuvens para vivermos felizes, mas ao que parecia o universo apenas me sacaneou.

Quando entrei no chuveiro, a maldita água estava gelada, minha mãe já tinha ido trabalhar e não tinha deixado o café pronto pra mim. O cachorro do vizinho pulou a cerca e fez sujeira na porta da garagem outra vez, perdi meu tênis pelo quinto dia consecutivo por conta da minha mãe insistir em tira-lo de onde eu deixava ao chegar em casa, queimei minha mão tentando fritar ovos antes de desistir do café da manhã, e minha chapinha pifou quando me arrumava pra sair pra aula. E tudo isso aconteceu em questão de uma hora, considerando que levantei às 07:00 horas para sair às 08:30.

Arrumei aquela confusão toda antes que me atrasasse, e então ouvi a campainha tocar. Devia ser o Mark, para irmos juntos à aula.

Atendi com a minha melhor cara de "meu dia está ótimo".

– Bom dia. – ele disse animado, me abraçando.

– Só se for pra você. – respondi suspirando, nada contente como ele.

– O que houve? – ele me encarou assustado, eu não era assim.

– Só estou com muito azar hoje. Vamos logo. – disse andando rápido enquanto colocava a mochila direito nas costas.

Mark se apressou em me acompanhar, andando do meu lado sem parar de me encarar.

– Tem algo diferente em você. – ele disse sincero, mas achei que ele estava me zoando.

– Claro, olha o estado do meu cabelo! Está péssimo! – eu reclamei mantendo-me carrancuda, eu odiava meu cabelo.

Eu já era a estranha da turma, e não queria parece ainda mais estranha. Minha mãe era coreana, mas meu pai era de algum país na Europa. Nunca o conheci, mas segundo o que ela me contou quando criança, seus cabelos eram enrolados e ruivos.

E a ele eu puxei para ter os cabelos mais claros que o natural das garotas coreanas, e eles eram meio enrolados como os de meu pai. Não era um cabelo feio, era o que toda garota fazia depois de pegar uma certa idade, mas eu detestava. Insistia em ser normal, e em ter um cabelo normal.

Ninguém tinha visto meu cabelo natural no ensino médio inteiro, aquela seria a primeira vez.

– Qual o problema? Está bonito assim, Hae. – Mark elogiou, me pegando de surpresa – Mas já sei o que falta. Seus óculos.

– Droga, Mark! – eu disse parando no meio da rua e levando as mãos ao rosto – Eu vou voltar.

– Não, não dá pra voltar agora. – ele disse me puxando pra calçada.

– Só falta eu morrer hoje! – reclamei batendo o pé, igual uma criança.

O dia não poderia ficar pior, poderia?

Chegamos no colégio e cada um foi para sua turma, por mais triste que me fosse, Mark não era da mesma classe que eu. Ele era da turma normal e eu da avançada.

Deixei minhas coisas no armário, peguei meus livros de química e meu celular, logo seguindo para a sala.

E lá estava meu maior pesadelo, um aluno transferido. Um garoto moreno de topete, bonito mas com ar de arrogância. Bem no meu lugar. Sabia que era um transferido pois me lembrava de seu rosto na turma do Mark.

Se meu amigo não fosse tão tapado, poderia ser ele ali.

– Ei, garoto, esse lugar está ocupado, sabia? – eu disse autoritária, minha turma me conhecia como uma ditadora.