Beijos.

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Grande parte da minha amizade com Mark tinha haver com a minha mãe. Ela quase nunca esteve em casa, desde que eu me entendia por gente. E Mark sempre cuidou de mim no lugar dela.

A culpa de eu ser uma monstra era toda dele, crescemos juntos e soltos na vida, o que refletia na maneira que agiamos um com o outro.

Eu sabia tudo sobre ele, e ele sabia tudo sobre mim. Tínhamos liberdade para falar o que quiséssemos e para agir como quiséssemos um com o outro. Já tinha visto Mark até sem roupa. Admito. Mas como eu era envergonhada, no máximo ele tinha me visto de biquíni, com shorts. E foi no mesmo dia que uma coisa muito importante pra nós aconteceu.

Por sermos melhores amigos, ambos tínhamos o mesmo receio à respeito de crescer, na época. E por algum motivo besta do universo, prometemos que a primeira pessoa que beijariamos seria um ao outro.

Sim, daríamos o primeiro beijo juntos.

E certa tarde estávamos curtindo as férias, Mark tinha 15 anos e eu 14, brincávamos na piscina como se fossemos crianças ainda.

Eu me cansei e saí da água, me sentando na beirada. Estava começando a ventar gelado, e Mark saiu também. E ficamos sentados ali por um tempo, e estava mesmo frio, então Mark me abraçou.

  Ele era um menino engraçado, meio gordinho e cheio de idéias mirabolantes. Em certo momento ele me olhou e disse: "Você é minha princesa pra sempre, Hae", e o respondi: "Você também é meu príncipe pra sempre, Mark".

  Talvez fosse o sinal de que estávamos virando adolescentes, mas, depois daquilo Mark se inclinou e me deu um beijo. Delicado e nada nojento como eu achei que seria. Foi no mesmo instante que me dei conta que estava apaixonada pelo meu melhor amigo.

Nada mudou na minha amizade com ele, mas que a partir daquele mero beijo de criança eu passei a me sentir atraída pelo Mark, eu me senti. E o acompanhar crescendo só me atrapalhou mais.

Vi ele ficar mais alto, perder suas gordurinhas e ganhar musculatura, o rosto de garoto aos poucos foi ficando um charmoso rosto de homem, os trejeitos de sua personalidade foram deixando de serem infantis, e um novo Mark surgiu.

Um Mark que falava coisas coisas que nenhuma criança deveria pronunciar, um garoto carinhoso e sedutor, que, mesmo nós sendo amigos, brincava de maneira quente, claro pra ele era brincadeira. Mas pra mim era mais que isso.

– Quando foi que ganhou essas coxas tão fofas, Hae? – Mark perguntou brincando, e acariciava minha perna.

Ele estava deitado no meu colo na sacada da janela do quarto dele, tínhamos chegado da aula mortos de cansaço, ele pelo futebol e eu por sedentarismo mesmo.

– Você que nunca notou. – eu disse nada mais que a verdade.

– Jinyoung é um sortudo. – ele disse olhando para o céu, sabia que disfarçava a provocação.

– O quê? – eu falei em reprovação à aquela ideia absurda.

– Não precisa ficar envergonhada, eu sei que você gostou dele.

E mais uma vez Mark insistia em me arrumar outro garoto pra eu gostar. Mal sabia que eu nunca iria gostar de ninguém que não fosse ele.

– Eu o conheci ontem, isso não faz sentido, Mark! – eu ri.

– Mas devia tentar dar uma chance ao cara, ele me disse que você é... uma graça. – Mark me encarou sorridente – Ele está tão na sua!

– Não vou discutir isso com você. Não mesmo. – eu revirei os olhos, aquilo era um absurdo.

– Qual o problema? – meu amigo cruzou os braços bravo – O que custa tentar?

– Eu já tenho meu príncipe pra cuidar, não preciso de mais nada.

Acariciei os cabelos de Mark e mesmo já garoto, ainda me lembra uma criatura frágil deitado assim em meu colo.

E afaguei em seguida sua bochecha, segurando a vontade de tocar em seus lábios rosados, que se abriram em meu sorriso favorito.

– Mas não pode cuidar de mim pra sempre. – Mark disse sem a intenção de magoar, mas senti uma pontada no coração ao ouvir aquilo.

– Tem razão. – eu disse mantendo-me séria, eu sentia que ia chorar se não me controlasse.

– Precisa beijar alguém que... não seja eu. – Mark apelou, me fazendo rir.

– Você não conta. – eu disse sem querer.

– Como é? – ele gritou e se sentou me encarando, fingindo estar bravo.

– Isso mesmo. – eu repeti – Você não conta.

Mark sorriu malicioso, me empurrou contra o batente da porta, claro, brincando, e se aproximou de mim tão perto que eu sentia seu coração batendo ali com ele colado ao meu peito.

Seu rosto também estava muito perto do meu, de modo ao seu nariz estar junto do meu. Eu olhava pra ele sem reação, era demais pra mim, Mark mexia muito com meus sentimentos.

– Retire o que disse. – Mark disse baixinho, senti seu hálito de chiclete que me enlouqueceu – Ou vou ser obrigado a te beijar de novo. E isso vai ou não acabar com a nossa amizade.

– Mark... – eu tentei falar algo mas na proximidade que estávamos era difícil – Me solte...

– Hae... não brinque assim comigo, você sabe que eu não me controlo, baby.

Mark se afastou um pouco, mas segurou em minha cintura e me deu um beijo demorado na bochecha. Torcia pra aqueles instantes de ilusão nunca acabarem.

– Pare de se fazer de difícil, e deixe alguém te tratar como merece. – ele sorriu, me soltando.

– Mas...

– Sem mas! – Mark disse me interrompendo – Isso é legal, não é?

– Que chantagem mais besta. – eu ri e me levantei, era hora de ir pra casa e surtar longe dali.

– Jinyoung tem cara de que adora ser agarrado. – meu melhor amigo disse gargalhando.

– Que seja. – eu revirei os olhos e peguei meu celular já abrindo o twitter para reclamar, após fazer o mesmo peguei minhas coisas e me levantei para ir embora. Não estava sendo bom eu ficar ali ou eu iria surtar.

Teardrops & Pizza - Mark TuanOnde histórias criam vida. Descubra agora