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Não precisa de muito tempo para que você perceba que o dia não será bom. Para mim, basta que abra meus olhos e lamente o fato de ter, infelizmente, sobrevivido a mais uma noite.

Eu venho lutando contra a depressão desde o meu abuso. Há dias bons e dias ruins e hoje, com certeza, é um dia ruim.

Meus pais já haviam me levado a vários psicólogos, eu cheguei a tomar remédios, mas nada era capaz de tampar o buraco que carregava no peito. Com o tempo fingi para todos e para mim mesma que estava melhor, mas no fundo, soterrado debaixo de toda a minha negação, a ferida ainda estava aberta e sangrava constantemente.

Nos dias ruins eu não queria nem ao menos me levantar da cama, porque isso significa que eu teria que fingir o dia inteiro e a cada sorriso fingido parecia que eu ia morrendo por dentro. Eu não queria que ninguém visse minha fragilidade, mas ao mesmo tempo ansiava tão fortemente que alguém a percebesse e pudesse de fato me ajudar, simplesmente arrancar esse amontoado de merdas que me faziam sentir tão indigna.

O que me motivou a levantar da cama foi o fato de hoje ser sexta-feira e amanhã ter a oportunidade de não levantar da cama para nada.

O dia hoje estava chuvoso e apesar de amar o frio e a chuva, isso só me deixou ainda mais desanimada.

Desistindo de ir de carro e passar ainda mais estresse no trânsito caótico da cidade de Nova Iorque, eu ando debaixo de chuva até o metrô e de lá me encaminho ao trabalho.

— Está atrasada! — Thomas reclama assim que o elevador se abre e eu entro no meu andar.

— Sim, estou atrasada cinco minuto, tenho certeza que nesse período em que fiquei fora o prédio entrou em colapso já que meu trabalho aqui é tão significativo. — Sou irônica e mantenho um sorrisinho sarcástico no rosto, quando na verdade minha vontade era de pular no pescoço do Thomas e o socar até a morte.

— Já lhe avisei Campbell, sem ironia ou te mando para o olho da rua.

— Você diz isso todo o maldito dia, umas quinhentas vezes. Sabe o que eu acho? Que você não pode me mandar embora, caso contrário já teria feito isso. — O desafio e vejo sua cara branquela ficando vermelho.

— Não me teste garota! Estou por um fio com a sua insubordinação! — Seus punhos se fecham e por um momento penso que ele irá avançar sobre mim, mas eu não me intimido. Estava cansada de tudo. Desse trabalho, do meu chefe, da minha vida. De repente ir para a cadeia não me parece tão ruim, desde que eu possa mandar esse trabalho e principalmente Thomas para o inferno.

— Insubordinação? Eu venho fazendo tudo o que você me manda, como você manda, por mais ridículo e abusivo que seja, mas não pense que eu sou uma dessas coitadas que você trata que nem lixo e não tem a coragem de responder a altura. Se você quiser e puder me mande embora, mas eu não vou me calar quando você for o babaca escroto que é na maior parte do tempo! — Neste momento as pessoas já olhavam curiosos a discussão acalorada entre mim e Thomas. Ele percebendo isso fica cada vez mais vermelho e sua pálpebra esquerda começa a tremer me fazendo ter receio que ele tivesse um ataque cardíaco bem ali na minha frente.

— Sua insolente! — Ele avança sobre mim e pega me braço de uma maneira brusca. — Passe no RH e pegue sua folha de demissão. — Me chacoalha em todo o tempo que aperta insistentemente o botão para chamar o elevador. — Eu não quero nunca mais ver a sua cara maldita por aqui. Está me ouvindo? — Me balança violentamente fazendo alguns fios se desprender do meu coque.

— Me solta. — Esperneio. — Você está me machucando. — Tento me soltar, mas seu aperto em meu braço aumenta. Em um ato desesperado de me soltar acabo pisando em seu pé com toda a minha força. Ele grita de dor e me empurra para longe me fazendo cair de bunda no chão.

Livro 1: ME AMEOnde histórias criam vida. Descubra agora