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POV. Gabriel Ulric

O hospital estava quieto, silencioso, com corredores vazios, sem o menor sinal de qualquer emergência que perturbasse os enfermeiros e pacientes ali internados.

Eu já havia recebido ordens explícitas para não me aproximar de Malu novamente, já que não era muito bem visto, depois do que fiz.

Mas não conseguia simplesmente deixar isso para lá. Há, exatos, três dias eu havia cruzado uma linha muito perigosa de meu relacionamento com Campbell e já me encontrava longe demais para retornar à um campo seguro.

Já havia chegado aqui e iria até o final.

Aaliyah Campbell, sempre saía do quarto assim que Malu pegava no sono. Ela rumava até a lanchonete do restaurante e ficava conversando com uma das garçonetes até que o estabelecimento fechasse, o que normalmente durava pouco menos de uma hora no total.

Não me orgulho de dizer que consegui essa informação através de um enfermeiro, que me contou, — tudo e mais um pouco — em troca de alguns trocados.

Assim que a mãe sai do quarto, eu caminho até lá. Abrindo a porta com cautela e tendo o cuidado de deixa-la bem fechada depois.

— Mãe? É a senhora? — Ouço a garota murmurar de costas para mim. — Pode me trazer chocolate? — Murmura parecendo sonolenta. — Mãe? — Chama quando não recebe resposta.

— Não é sua mãe. — Digo e vejo a garota se sobressaltar e voltar-se na minha direção.

— Gabriel? — Me olha com surpresa e diria até... Medo? — O que você está fazendo aqui? Quem te deixou entrar? — Se arrasta, para a beirada oposta da cama, quando eu dou um passo em sua direção.

Definitivamente, Malu estava com medo de mim.

Certamente pelo o que fiz. Ela sempre via a parte controlada em mim e não a culpo por, agora que viu o meu pior lado, estar temerosa.

Fico parado, aperto minhas mãos em punho e observo a garota que estava bem melhor, se comparado a última vez que a vi.

— Acho melhor você ir embora. — Malu oscila seu olhar entre mim e a porta, como se estivesse a maquinar um plano de fuga, caso eu me recusasse a sair.

— Isso não vai acontecer. — Afirmo categórico e vejo a garota engolir seco.

— Eu vou gritar. — Ameaça e eu franzo as sombrancelhas em confusão.

— E porque você faria algo assim?

— Minha mãe disse que te proibiu de me visitar. Que não queria você perto de mim depois do que você fez...

— E o que eu fiz? — Finjo confusão.

— Tentou me matar?! — Malu olha para mim com mágoa e raiva.

— Realmente. — Me aproximo ainda mais dela e a vejo se retrair. — Você quase foi morta. Mas não foi por mim. — A garota me olha como se eu estivesse mentindo.

— Então porque me lembro de você coberto de sangue, com uma arma na mão, me olhando com uma cara nada boa? — Pergunta na defensiva.

— Eu estava lá para te ajudar. — Estreito os olhos em sua direção. — Você só se lembra disso?

— Não. — Me olha estranho. — Eu me lembro de tudo. — Mente.

— No seu prontuário não menciona sobre uma amnésia.

— Não estou com amnésia. Só tem umas coisas que não me lembro. — Fala na defensiva.

— Amnésia nada mais é que uma condição médica de quem apresenta ausência, diminuição ou perda completa da memória. — Informo.

Livro 1: ME AMEOnde histórias criam vida. Descubra agora