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POV. Gabriel Ulric

Uma expressão desgostosa tomava conta do meu rosto e a senhorita Smith tentava compensar o meu mau humor exibindo um grande sorriso que era obviamente falso e completamente desesperado.

Eu não conseguia sorrir, eu não conseguia nem ao menos deixar minha expressão menos azeda diante tanta baboseira que saía da boca do governador, que era o anfitrião da festa em que eu e minha assistente estávamos. Tudo a trabalho é claro. Eu nunca viria a um evento desse se não fosse obrigado pelo trabalho que nesses últimos anos vem sendo a minha maior prioridade.

— Então, Gabriel, o que acha? — A esposa do governador pergunta tocando sugestivamente em meu braço assim como fez a noite inteira. O governador não parecia reprovar a atitude da esposa, pelo contrário, ele parecia aprovar o que a mulher fazia. Pelo que soube ele gostava de vê-la com outros parceiros. Então eu sempre fazia questão de ser o mais profissional possível. Sem brechas para propostas indecorosas.

Hoje era um dia em que não me sentia paciente o suficiente para aturar seus toques e olhares sugestivos. Faltava pouco, muito pouco, para eu mandar ambos para o inferno.

Felizmente sinto meu celular vibrar em meu bolso e me livro de responder a pergunta que nem ao menos havia ouvido.

— Com licença. — Digo ignorando a cara de desespero da minha assistente ao me ver afastar o mais depressa que consigo. Um sorriso ameaça escapar dos meus lábios ao ver o nome de Malu brilhando na tela juntamente com uma foto dela abraçada ao seu gato, que estranhamente tinha o mesmo nome de um dos personagens da Trilogia Senhor dos Anéis.

Ainda bem que coloquei o telefone no silencioso, caso contrário todos ouviriam o maravilhoso — segundo Malu — som de Avril Lavigne, o toque que a garota selecionou pessoalmente para seu número.

— Seu timer realmente é perfeito. — Digo ao atender, mas o que escuto não é o melodioso som da voz de Malu e sim uma voz que parece ser de uma mulher mais velha.

— Olá? Eu gostaria de falar com o Gabriel.

— Pois não, é ele. — Minha voz se torna mais dura. Todo o sentimento de relaxamento que me tomava, — sempre que interagia com a garota que, inacreditávelmente, havia desenvolvido um sentimento de amizade — haviam sumido.

— Boa noite. Me chamo Rose, trabalho em uma lanchonete no Queens e sua amiga, Malu, chegou aqui e não parece muito bem... Acho que... Ela está passando mal? — Diz meio incerta e instintivamente me sinto ficar rígido.

— Ela está ferida? — É a primeira coisa que pergunto.

— Não. Pelo menos nada visível. Acho que ela está tendo uma crise ou algo assim. Isso já aconteceu antes?

— Qual o endereço para eu ir busca-la? — Ignoro a pergunta da mulher. Eu não discutiria com uma desconhecida algo tão pessoal que Malu nem ao menos falava para mim.

O que não significava que eu não soubesse.

— Ah... Claro, eu ia pedir exatamente isso. — A mulher parece perceber o meu corte brusco no assunto e passa o endereço de modo rápido.

Desligo o celular e logo me encaminho para a entrada, preocupado com a garota que conseguia a grande proeza de me fazer quebrar cada uma das promessas que fazia a mim mesmo.

Malu nunca me ligaria se não estivesse realmente mau.

Ela não parecia se importar em aparecer em minha casa tarde da noite, roubar minhas camisetas, fazer piadinhas irritantes, me deixar surdo com suas músicas horríveis. Mas quando se tratava de ajuda ela não gostava de incomodar.

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⏰ Última atualização: Feb 23, 2020 ⏰

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