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POV. Malu Campbell

Minha consciência me atinge lentamente. Me recuso a abrir os olhos, mas a secura em minha boca me faz desistir de voltar a dormir. Rolando na cama eu encaro o relógio na mesa de cabeceira.

Os números marcam 2h40min. Tomo coragem e saio da cama arrastando os pés.

Chego a cozinha e pego um copo, me virando para ir até a geladeira em busca de água, mas quando me viro, parado bem ali, no meio da minha cozinha está ele, o Sr. Backer, sorrindo amavelmente, o mesmo sorriso que me dava quando...

— O que está fazendo aqui? Como entrou? — Pergunto sentindo meus joelhos fracos e trêmulos.

— Ah pequena Malu... Não adianta fugir de mim, eu sempre irei te encontrar. — Dá um passo para perto e eu me afasto até bater com as costas no balcão.

— Vá embora. Vá embora daqui! — Grito tentando parecer forte. — Não se aproxime! — Esbravejo quando vejo que seus passos não param de trazer ele mais para perto. — Não! — Taco o copo em sua direção e tento correr para longe, mas meus pés parecem chumbo, pesam toneladas e me deixam muito lenta.

Ele logo consegue me jogar no chão e pairar sobre o meu mim, perigosamente perto, com o seu corpo imundo roçando no meu.

— Não, não, não, não, não,não, não... Me solte, por favor. Por favor... - Suplico sentindo as lágrimas escorrerem por meu rosto.

Ele faria aquilo, faria de novo e não havia ninguém que poderia me salvar.

- Shh... Quietinha pequena, vai ser rápido e você vai gostar. - Sorri e eu tenho vontade de vomitar.

- Não! Por favor, me solta. Me solta... - Começo a me debater, mas ele me segura com ainda mais violência, preciona seu corpo ainda mais no meu e eu consigo sentir cada pedacinho dele, o que faz com que meu estômago se revire, e a bile ameace subir pela garganta. - Socorro! - Berro para alguém, para qualquer um. Mas ninguém vem, ninguém aparece.

Eu estava só e o Sr. Backer estava aqui, me machucando novamente, como ele prometeu que um dia faria, quando fosse solto.

Desta vez eu acordo de verdade, sentindo o suor frio ensopando minhas roupas e lençóis.

Olho para o relógio alarmada, mas ele marca 5h59min, e quando o segundo restantes daquele um minuto passam, o relógio desperta, marcando 6 horas da manhã, me fazendo deixa-lo tocar enquanto eu me acalmo e digo para mim mesma que tudo não passou de um sonho, ou melhor, de um pesadelo.

Ontem havia recebido um telefonema da polícia. Eles avisaram que depois de 15 anos de prisão, o Sr. Backer seria solto.

A justiça havia alegado que ele não oferecia mais risco à sociedade e havia mostrado tão bom comportamento nesse tempo preso que era desnecessário mante-lo preso.

Meu pai havia tentando de todo jeito fazer com que isso não acontecesse, mas por fim ele não teve êxito.

Ele me escondeu durante um ano que havia a possibilidade de meu abusador ser solto e creio que se não fosse por aquela ligação eu não saberia que o homem estava agora solto, livre para cumprir a promessa que me fez assim que foi preso, de que: Não importa quanto tempo se passasse, ele me encontraria.

Uma maldita ligação foi capaz de fazer com que eu tivesse os pesadelos que já haviam sumido a anos.

Eu não queria deixar que ele me afetasse. Queria mesmo acreditar que a justiça estava certa e ele havia mudado, mas não conseguia deixar de me sentir paranóica, temerosa e em pânico.

Livro 1: ME AMEOnde histórias criam vida. Descubra agora