•6•

514 72 16
                                    

Eu conhecia por alto como Gabriel agia.

Ele era o tipo de homem que odiava perder tempo e não havia perca de tempo maior para ele do que dormir até mais tarde, ou seja, dormir como uma pessoa normal e saudável. Por isso sabia que se quisesse o pegar ainda na cama teria que despertar ainda de madrugada, o que para mim — que achava o ato de dormir um presente do próprio Deus — era quase uma tortura.

As três horas da manhã em ponto eu estava em frente ao prédio de Gabriel.

O porteiro não queria me deixar entrar, mas quando trouxe a tona o meu lado atriz e disse que era a nova assistente do Senhor Ulric e perderia o emprego caso não chegasse ao seu triplex na hora certa, ele me deixou subir.

Talvez eu tenha deixado a entender que Gabriel havia avisado sobre a minha vinda hoje. E talvez eu tenha deixado nas entre linhas que ninguém havia lhe passado tal informação e que o senhor Ulric ficaria furioso ao saber que fui barrada na portaria. E ninguém, em sã consciência, queria ver o senhor Ulric furioso, não é mesmo?

Bom... Talvez eu queira, mas não me julgue. Depois de conhecer Gabriel por tanto tempo é impossível não ansiar por uma reação, que não seja frieza total, vindo dele.

Por sorte a fama de Gabriel corria por aqui também e foi fácil amedrontar o porteiro que era novo no emprego e parecia temer Gabriel, o que só piorou quando viu meu choro fingido.

Arthur era legal, espero que ele não tenha problemas por causa da minha mentira.

Subo para o triplex de Gabriel, feliz por meu plano ter dado certo até aqui.

Lá em cima uma empregada me atende. Ela era uma senhora de meia idade, já estava vestida e o cheiro de café mostrava que ela estava trabalhando. As três da manhã... Realmente devia ser um inferno ser empregada de Gabriel.

— Pois não? Em que posso ajudá-la? — Pergunta educada, mas desconfiada. Como se a cena de uma mulher estranha batendo na porta de Gabriel de madrugada fosse comum.

— Eu sou a nova assistente do senhor Ulric. — Me finjo de tímida, no interior, adorando toda essa adrenalina.

— Certo. — Me olha com olhos semicerrados. — E o que faz aqui? — Pergunta desconfiada e esse é o momento que eu arregalo os olhos e finjo estar assustada.

— O s-senhor Ulric não falou? Ele disse que era melhor eu estar aqui antes que ele acordasse, caso contrário eu estaria no olho da rua... — Me movo de lugar constantemente e aperto com mais força a pasta que carregava, no intuito de parecer mais profissional. Tudo em meu corpo demonstrava que eu era uma garota nervosa, temendo perder o emprego que acabou de ganhar.

— Ele não me avisou de nada sobre isso. Até onde sei a senhorita Smith é sua assistente. — A mulher não parece abalada e eu resolvo apelar mais um pouco.

— M-Mas ela vai entrar de férias. Esses dias são uma experiência, se eu fizer tudo certa posso conseguir essa vaga e eu realmente preciso desse emprego. — Meus olhos se enchem de lágrimas e mentalmente eu dou tapinhas em minha própria costas.

Eu deveria investir em uma carreira como atriz. Tenho certeza que me sairia muito bem.

— Sinto muito, mas não posso autorizar a sua entrada.

— M-Mas... Por favor. — Me agarro a seu braço. — Eu não posso perder essa oportunidade, eu passei tanto tempo atrás de algo assim, eu sei que o senhor Ulric irá ficar furioso caso eu não apareça... Ele não gosta de incompetência... — Fungo e pareço derrota ao ver que a mulher estava tão firme quanto antes. — Tudo bem... Mas você pode dizer que eu vim aqui? Que só não entrei por um mal entendido? D-Diga a ele que estarei esperando na portaria. — Pareço afoita. Como uma pessoa realmente desesperada em manter o seu emprego. — Por favor.

Livro 1: ME AMEOnde histórias criam vida. Descubra agora