•10•

488 66 9
                                    

Desempregada.

Na rua da amargura.

Vagando pelas ruas de Manhattan sem um propósito fixo.

O que farei agora que não tenho mais um emprego?

Trabalhar na loja em que você é DONA?! — Meu subconsciente sensato diz, mas eu o ignoro.

Queria muito estar afundada no sentimento depressivo que tomava o meu ser.

O trabalho pouco me importava. Ele era um tremendo porre! O laudo que decidia meu futuro como uma presidiária ou mulher livre já havia sido me dado por meu adorável chefe, —mesmo não tendo cumprido os 2 meses de trabalho — tamanha era sua vontade de não me ver nunca mais.

Eu deveria estar feliz. Deveria estar radiante! Mas só conseguia me sentir perdida e depressiva.

O problema não era o emprego, ou o laudo, ou o fato de ter sido demitida depois da vergonhosa noite de bebedeira. O problema era saber que nunca mais veria Gabriel.

Nunca mais me forçaria a acordar cedo para levar o café em sua cama. Nunca mais fingiria que me exercitava quando na verdade só observava os músculos saltados de Gabriel enquanto ele levantava peso. Nunca mais acordaria com a cabeça deitada em seu ombro no trajeto de seu triplex à empresa. Nunca mais ajeitaria sua gravata segundos antes de uma reunião, nem o veria me lançar um olhar sério quando eu falava, com uma pitada de humor, o quanto ele estava bonito, mesmo no fundo eu estar sendo sincera sobre isso.

Meu Deus! O que aconteceu comigo?! Acho que os anos tem me amolecido. Estou mais derretida que manteiga.

Quando dou por mim percebo que estou na Wall Street. Mais alguns quarteirões e estaria em frente à empresa de Gabriel. Mas decido que isso já ultrapassava os limites do ridículo.

Se Gabriel não queria me ver de novo o problema era dele.

Eu não correria atrás. Não imploraria sua atenção, nem sua amizade.

Com a raiva substituindo a depressão eu dou as costas e rumo até o metrô, seguindo para o Brooklyn, direto para minha loja de instrumentos.

Encontro a loja aberta. A fachada, uma mistura de preto e roxo, exibia grandes vitrais transparentes que deixavam à mostra os instrumentos mais sofisticados e chamativos da loja. 

Derek e eu havíamos investido cada centavo que tínhamos nessa loja. Felizmente havia dado certo, apesar de haver meses que não eram nada fáceis.

A loja tinha poucos clientes aquela hora do dia, alguns funcionários me cumprimentam e eu, ainda irritada, caminho para o fundo da loja.

Encontro Derek no balcão, entretido com uma loira que parecia deslocada no meio da loja.

Ela não parecia nem de longe uma pessoa interessada por instrumentos musicais. A loira se vestia como uma dondoca, cheia da grana, com roupas de grife e um cabelo tão brilhante que fazia o meu parecer palha.

Pessoas como ela não apareciam aqui, mas eu estava entretida demais com meus próprios problemas para ir até lá investigar.

Depois eu tiro isso a limpo com Derek.

Tomando caminho para o escritório vejo que Derek me nota e acena, fala algo para a loira que se vira para mim e sorri, animada demais, para uma desconhecida que ela nunca viu na vida.

A loira vem até mim em passos rápidos e confiantes, mesmo estando em cima de um salto alto que eu não conseguiria manter o equilíbrio nem em sonhos.

Eu sempre tive um certo preconceito com loiras. Sempre eram elas que me esnobavam e ridicularizavam na escola. Por isso não fui com a cara da garota que mesmo sorrindo ainda me parecia antipática.

— Olá, você deve ser a Malu. — Para em minha frente me olhando com expectativa. — Eu sou Chloe. É um prazer conhece-la. — Diz tudo rápido, com um sotaque inglês e um entusiamo que não compreendo. Por fim ela se aproxima e me dá um abraço que eu trato logo de quebrar dando um passo para trás.

— Eu te conheço? — Pergunto meio rude e vejo a garota vacilar o sorriso.

— Ah... Não. É claro que você não me conhece. — Murmura a outra parte para si mesma e depois se volta para mim com o mesmo sorriso entusiasmado de antes. — Ainda não. Mas já sei que seremos ótimas amigas. — Me lança um olhar esperançoso, esperando que eu concorde com sua afirmação.

Concluo que essa garota deve ser umas das 'peguetes' de Derek. Ele tinha a capacidade de atrair todo o tipo de garota louca e essa parecia ser uma filhinha de papai que caiu na teia de Derek. Provavelmente estava apaixonada por ele e queria usar todos os meios para o prender a ela, inclusive tentar ser minha amiga. Outras já tentaram essa abordagem, e todas elas falharam.

— Olha, garota. Eu não te conheço, não tenho interesse em ser sua amiga. Agora se você me der licença eu tenho mais o que fazer. — Digo sem o mínimo de vontade de ser educada. A garota parece chocada, mas eu não fico muito tempo para ver sua reação. Dou as costas e caminho rumo ao escritório.

— O Matthew disse que você era um doce... — Ouço a loira murmurar e paro, me virando para ela.

— Matthew? — Estreito os olhos em sua direção.

— Sim, o Matthew Johnson, ele disse onde te encontrar. — A garota parece um pouco sem jeito, agora que viu que eu não sou tão amigável quanto ela pensou.

— Você não é uma das ficantes do Derek?

— O que? — A garota parece engasgar. — Derek? O seu sócio? Não, não. Eu tenho um noivo. — Me mostra sua aliança que me custaria os dois rins. — Eu amo ele, nunca ficaria com ninguém além dele. — Explica afoita, temerosa de que alguém duvide de seu amor pelo noivo.

— E olha que eu tentei. — Diz Derek, observando a cena com diversão.

— Okay. — Cruzo meus braços analisando a garota com mais atenção. Alta, loira, rica, olhos azuis, maquiagem perfeita, corpo torneado... Não há nenhuma pista nela que me indique nada, a não ser que ela era rica. — Quem é você e porque está aqui? — Resolvo ir direto ao ponto.

— Como disse, meu nome é Chloe. Eu sou irmã do Gabriel e preciso da sua ajuda.

Livro 1: ME AMEOnde histórias criam vida. Descubra agora