Servo do Mal

Capítulo Dez

-Isso mesmo que eu disse, caro Gareth. Seja. Meu. Servo. - Ela diz pausada e calmamente para o rapaz assustado. - O que me diz?
-Mas do que você está falando, Leia?! - Ele pergunta meio afobado, se afastando um pouco.
-Isso? - Leia se afasta do rapaz, encostando-se na cabeceira da cama e começando a rir histéricamente. Gareth não sabia o que havia de tão engraçado ali, por isso a olhava confuso. Após cessar sua crise de gargalhada, a garota torna a falar - Eu estava apenas brincando contigo, não se preocupe. - Mas então seu tom ameaçador volta - Mas sinta-se a vontade para vir caso mude de ideia.

Gareth não sabia como encarar aquela situação, mas vira uma oportunidade naquela oferta. Sua mente começa a processar aquelas informações rapidamente e suas ideias começam a se produzir. Gareth sorri enquanto seu ego aumenta, se sentindo um completo gênio por ter pensado em um plano tão genial. Ele então volta sua atenção à rainha, mirando seus olhos.
-O que você pretende com um "servo"? Como eu deveria lhe servir?
-Ah, você seria apenas... O meu servo. Teria de me acompanhar e me servir, viver comigo aqui no castelo, me ouvir... Você será meu!
-Então eu seria como o seu melhor amigo.
-Não não, Gareth... Você seria o meu servo!
-Não sei bem qual a diferença, mas eu não tenho opção, preciso ter onde ficar e preciso estar ao lado da Leia. - Gareth pensava enquanto ainda olhava a moça - Tudo bem. Eu aceito a sua oferta. - Embora relutante, ele por fim concorda.
-Que estranho... Até poucos minutos você estava mais resistente...
-Talvez eu tenha meus próprios motivos para não contar.
-E eu poderia saber que segredo é esse, meu caro servo?
-Peço perdão, minha senhora, mas isto é algo próprio meu.
-O quê?! - Ela pergunta decepcionada - Mas por quê? Eu quero saber!
-Desculpa, rainha, mas eu não posso dizer.
-Eu ainda não concordo com isso, mas vou lhe respeitar. Prometo que um dia eu arranco essa verdade de ti.
-E eu prometo que um dia lhe contarei.
-Então é uma promessa. - Leia levanta seu braço direito, com o dedo mindinho erguido e meio curvo.
-É uma promessa, minha senhora. - Gareth repete a mesma ação e ambos os dedos de cruzam, dando um maior peso a promessa de ambos.

Leia levanta da cama e estende sua mão a Gareth, que logo a segura e levanta.
-Bem, nós temos que achar uma roupa nova pra você trajar. A propósito, temos que arranjar roupas novas pra mim também. Como rainha tenho que realizar a cerimônia de abertura do baile de primavera.
-Parando pra pensar... Agora que percebi isso, o que houve com seus pais? Não os vi mais e... Bem, a senhora já--
-Não me chame de senhora! - Ela o corta rapidamente.
-Tudo bem... Perdão. Mas como eu ia dizendo... A senh-- Você! - Ele acaba falando essa última parte um pouco mais alto - Assumiu agora o trono... Eu achei um pouco estranho, já que ainda é meio nova para atuar como rainha.
-Bem, eles estão... - Leia muda completamente sua postura - Eles estão mortos.
-Mas como assim? Como isso aconteceu?
-Ninguém sabe ainda. Eles estavam indo à cidade vizinha e, ao que tudo indica, a carruagem foi sabotada. Eles caíram de um planalto próximo daqui e não sabemos por quanto tempo ficaram lá, mas o suficiente para não suportarem.
-Eu... E-eu sinto muito. - O tom melancólico se instala no ar e na voz de Gareth.
-Não, tudo bem. - Leia limpa uma lágrima que estava a escorrer por sua bochecha direita e muda completamente o clima do local com um enorme sorriso - Mas isso não pode nos abalar, não é mesmo? Vamos! Eu tenho hora pra voltar, portanto temos de comprar essas roupas o mais rápido possível!
-Tudo bem então, rainha. Que seja feita a sua vontade. - Gareth diz com um sorriso no rosto, apenas para seguir a linha de bom sentimento de Leia. - Bem. Vamos lá! Eu irei coordenar o pessoal do castelo, ou ao menos tentar.
-Então vai, estarei indo logo após trocar de roupa.
-Tudo bem.

Gareth destranca a porta e sai do quarto. Ele a fecha logo em seguida e então suspira, falando baixinho:

-Ai, irmã... Eu queria ter toda essa sua força...

E então o rapaz segue para cumprir com o que houvera dito à rainha.