Capítulo Seis

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[...] O dia houvera iniciado. Galos cantavam, passarinhos piavam e o sol nascia ao fundo. Gareth abre seus olhos e, pela primeira vez, se depara com os primeiros raios de sol. O garoto nunca vira o nascer do sol antes. Aquela teria sido um lindo momento, se sua avó não estivesse ao seu lado, morta.

O rapaz coça seus olhos e se espreguiça, bocejando paralelamente, e olhando o rosto da avó. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, afinal, chorara até adormecer, era comum esta reação. Gareth se levanta e logo pega uma pá. Gareth para em frente a sua avó e finca a ferramente no chão, dizendo enquanto olhava para Iná:
-Espera um pouco, vó Iná. Eu não irei largá-la aqui.

Gareth começa a escavar um pouco mais distante de onde sua avó teria morrido, porém, ainda era uma criança, não tinha tamanha força e habilidade, mas seu desejo dominava. Preferia passar seu dia todo alí, sem beber, sem comer, apenas para que sua avó não ficasse largada em qualquer lugar, jogada aos cantos e morta.

[...] O dia estava quase dando lugar a noite e um buraco não muito grande agora estava aberto em sua frente. Gareth, aproveitando seu sangue quente, decide enterrar sua vó primeiro, para depois parar para um descanso. Ele puxa Iná até a cova, não tinha forças para a carregar, mas põe sua mão na nuca da senhora, abaixando-a devagar para deitá-la no chão. Após isso, algumas lágrimas caem e então ele começa a fechar a cova.

Após selada, ele vai até um cultivo próximo e tira um punhado de terra com uma flor, pondo na cobertura da senhora. Era uma orquídea amarela, a cor preferida de sua avó. Gareth estava cansado, suado, com fome e com sede, mas certamente não era bom ficar largado em qualquer canto, afinal, ainda era um alvo do rei.
-Leon... Por isso ele teve uma reação tão negativa de minha presença no baile... Pensar que essa escória é meu pai... Não! Não! Ele não é o meu pai! Eu não vou aceitar uma informação como essas! Mas isso quer dizer que... - Gareth posiciona os dedos indicador e polegar direitos em seu queixo, pensativo - A Helena é minha mãe... Err, não posso dizer que não iria gostar disso, ela cuida tão bem das pessoas. Bem, já estou começando a procrastinar. Hora de partir para a cidade, arranjar condimentos e um abrigo, certamente não posso ir ao castelo em qualquer momento.

Gareth verifica se há presença de mais alguém ao redor e ao confirmar a ausência de outros, ele se dirige ao baú escondido de Iná e recolhe uma boa quantia. Já pronto para partir, ele segue em direção a cidade. Não fazia ideia de onde ir, portanto estava vagando sem rumo, rezando para achar qualquer "pousada" disponível. O rapaz caminha pelas ruas movimentadas da cidade, era um Sábado a noite, um dia de farra para muitos, principalmente aos bebuns trabalhadores da classe média.

Gareth vê um local um pouco longe do barulho, parecia não estar muito cheio, e quando ele abre a porta, parecia que um banquete estava a ser servido. As mesas estavam preenchidas com carnes, frutas, pães... Uma grande diversidade que ele mesmo nunca se dera ao luxo de ter. Logo ao entrar, todos o olham. "O que uma criança faz aqui sozinha" é o que pensam. O jovem caminha vagarosamente até o balcão, sendo seguido pelos olhos de todos à mesa, e então chega ao recepcionista. O homem, alto, porém bem magro, o encara com um olhar de menosprezo e, enquanto mexe em seu bigode, ele diz:
-Sinto muito, rapaz, mas para ficar aqui é necessário dinheiro. Entende? Moedas de ouro.
-Eu tenho o que precisa. - Gareth diz baixo, olhando para baixo.
-Hum... É meio comum que crianças tenham uma ou outra moeda de ouro. Depois de anos juntando, é claro. Mas para ficar aqui você precisa de três dessas belezinhas.
-Ah, é isso? Tudo bem. - Gareth põe a mão em um saco e retira três moedas de ouro, pondo-as no balcão em seguida - Está aí, a quantia necessária. - Ele diz com um pequeno sorriso no rosto.

O dono do local recolhe as moedas, feliz pelo ganho, porém, seu orgulho estava ferido. Ele se apoia no balcão e diz:
-Você pode se sentar alí para comer enquanto preparamos seu quarto. Se quiser tomar um banho também, é logo alí ao lado. - Ele diz pontando para a direção.

Gareth agradece, acenando sua cabeça para o dono do estabelecimento e se dirige para o banho. Sua primeira parada. Após um bom banho quente, ele está renovado e então vai, enfim, se alimentar.

[...] Uma hora se passou, Gareth já estava caindo sobre a mesa de tanto sono, mas enfim seu quarto estava pronto. Ele sobe para o quarto e se joga logo na cama, apagando antes que pudesse se dar conta.

Durante a noite, imagens de Iná sendo pega por pessoas estranhas e levada para uma casa, em uma carroça, o assombraram. Foi um sonho muito estranho o qual ele não podia se mover ou mesmo gritá-la, apenas acompanhar o que acontecia. Iná estava sendo levada para uma mansão, onde foi obrigada a trabalhar de empregada. Uma noite, Iná enfim tem um tempo livre. Ela olha o céu, uma estrela específica, e então diz "acorde!" e é quando Gareth acorda. Sem conseguir se mover, sem conseguir falar, ele sente o local o qual está apoiado tremendo sob si. O som dos cavalos pode ser ouvido. Os cavalos param e então uma passagem de luz enfim parece, Gareth ia ser retirado de onde estava. Dois homens o ajudam a tirar de lá e o põem de frente a uma mansão e a família que reside alí.
-Esta é sua nova vida, rapaz!

Servo do MalOnde histórias criam vida. Descubra agora