Capítulo Doze

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Os portões se abrem e os convidados... Não estão lá. Gareth encara a situação com uma certa surpresa. Como assim, os convidados da rainha não compareceram? Leia demonstrava estar meio devastada. Ela se abaixa e senta no degrau da escada, era notório que a rainha estava segurando o choro. Gareth senta ao seu lado e apoia a cabeça da moça em seu ombro. Embora, curioso, ele respeita o espaço dela, porém permanece calado, mas Leia percebe que o rapaz queria dizer algo e logo seus lábios começam a mexer.
-Eles me odeiam, Gareth.
-Não, eles não te odeiam. Eles devem ter... Esquecido. É isso.
-Obrigada por tentar, mas eu sou realista. As pessoas desse reino desaprovam meu poder.
-Mas por quê?! Você sempre foi tão amada e admirada por todos.
-Parece que era tudo faxada. As pessoas são hipócritas, Gareth. Entenda isso.
-Eu não consigo aceitar que as pessoas simplesmente desgostem de você agora. Você era o símbolo de alegria desse povo!
-As coisas mudam, meu caro servo. - Leia se levanta, ajeitando o vestido, e sobe para o seu quarto. Do topo da escada ela grita - Arrumem tudo, por favor. Eu não quero ver vestígios dessa festa quando acordar amanhã.

Gareth ainda não aceitava aquela situação, não compreendia o que poderia ter acontecido para que todos mudassem a visão daquela princesa perfeita. Ele sai do castelo em busca de resposta, passando em algumas casas a fim de ouvir o que todos pensavam a respeito da princesa.

O servo fazia questão de não se identificar como servo da rainha, mas como um viajante recém-chegado.

Nessa jornada ele ouviu coisas como "Ela não sabe administrar", "Vivemos em situação ruim", mas o que realmente o deixou assustado e confuso foi "Ela é má". Gareth tentou obter mais respostas sobre, isso, mas a pessoa não quis mais falar sobre, tudo que ele disse foi "Fale com o senhor que mora na rua de baixo."

Gareth decidiu não incomodar mais aquele rapaz e seguiu seu conselho. Desceu a rua e localizou uma casa isolada. Gareth bate à porta e um senhor, em boas condições físicas, o atende. Ele parecia era mal encarado, parecia estar sempre irritado, infeliz com a vida.

-O que você quer, rapaz? Sabe que horas são? - Pergunta uma voz grossa enquanto coça sua pequena barba branca.
-Peço perdão pelo incômodo... Eu sou Gareth. Eu sou um viajante e--
-Não hospedo ninguém em minha casa, vá procurar outro lugar. - Ele corta a fala de Gareth e tenta fechar a porta, mas o garoto a segura.
-Não, não é isso! Eu quero saber sobre a rainha!

O senhor arregala brevemente os olhos, mas logo retorna àquela expressão:
-Vamos. Entre logo antes que eu mude de ideia.
-S-Sim senhor. - Dizia Gareth um pouco nervoso enquanto adentrava o recinto.
-Então me diga, - O senhor dizia enquanto sentava numa poltrona - o que você quer saber?
-Bem, eu estava fazendo uma pesquisa sobre a rainha e não ouvi respostas muito boas, o que é estranho já que desde minha última vez aqui ela era adorada e amada por todos. Era um símbolo!
-Ah... A rainha Leia... - Ele puxa um pouco da fumaça de seu cachimbo e logo a solta - Sabe rapaz? Ela é uma garota maravilhosa, mas uma mulher terrível. Pode não acreditar, mas a miséria instalada no reino é proposital. Todos sabem disso, embora ela se negue a afirmar. Ela teve uma mudança drástica de comportamento desde a morte dos pais.
-Então o senhor acha que a morte dos pais desencadeou uma confusão em sua mente?
-O quê? Não. Não não não. Eu quero dizer que ela enfim se mostrou.
-Mas-- Espere, está me dizendo que a Leia sempre foi assim?
-Exatamente o que estou falando. E digo mais... - O senhor puxa a fumaça de seu cachimbo mais uma vez, dessa vez a segurando por mais tempo, para enfim soltá-la, a fim de criar suspense para Gareth - Ela matou os próprios pais.
-O quê?! - O garoto arregala os olhos durante esse grito espontâneo e um pouco desesperador. Gareth encara o senhor sorrir e sorri junto - Já entendi... Isso é uma brincadeira não é? Diga-me a verdade.
-Não. Não é.
-Então que expressão é esta?!
-Eu só gostei da reação que vi.
-Então está querendo me dizer que aquela garota matou os próprios pais? Não, eu não vou crer nisso. - Gareth, enfurecido, caminha em direção a porta.
-Tudo bem, garoto... Você não precisa acreditar em mim... Mas saiba que ela é uma mulher perigosa, gananciosa e fará de tudo para conseguir o que quer. Aquela mulher beneficia a nobreza e somente eles gostam dela.
-O quê? - Gareth para naquele mesmo instante e olha confuso para o senhor. - Mas... A nobreza... Todos a odeiam. Até mesmo rejeitaram o convite para o baile que ocorreria hoje.
-Baile? Mas... Não havia baile.
-Por favor, sem mais brincadeiras comigo.
-Não, isso não é brincadeira. Ninguém recebeu convite para qualquer baile que seja.
-Mas...
-Você não me parece um viajante comum... É bastante próximo da rainha, não é?
-Err... Sim. Aquele foi um mero disfarce para não se sentirem intimidados e mentirem pensando que fosse uma pesquisa a mando dela mesma.
-Eu entendo... Agora que estamos falando sobre... Eu lembro de ti, rapaz.
-Lembra?
-Você vivia com Iná, não é? Você estava na primeira dança da princesa naquele baile...
-Err... Como me conhece?
-Eu fazia parte do exercito da antiga rainha. Todos sentimos falta de Helena.
-Sim... Ela era ótima...
-Bom, rapaz... Está ficando tarde. É melhor voltar para o seu castelo.
-Tudo bem. Muito obrigado por me responder essas perguntas.
-Não tem problema, há tempos não recebo uma visita. Mas eu vou ficar de olho em você, rapaz. Seja cuidadoso. Torno a dizer que a rainha é perigosa.
-Obrigado, senhor. Eu ficarei atento. Aliás... O senhor não me disse o seu nome.
-É Ulisses, rapaz.
-Ulisses... Bem, o meu é--
-Você não precisa me dizer, jovem.
-Huh... Tudo bem então. - O rapaz então saía da casa e se afastava enquanto Ulisses o observava de sua porta.
-Se cuida, Gareth... Não seja uma vítima da rainha...

E assim Gareth caminhava pela noite, olhando ao redor, tendo algumas lembranças e, ao mesmo tempo, ideias. Gareth precisava entender melhor o que acontecia naquele lugar e mais importante, na cabeça da rainha. Tinha de haver alguma explicação para que tudo voltasse ao normal. Estava bem calmo ali, mal sabia ele o que o aguardava...

Servo do MalOnde histórias criam vida. Descubra agora