1 - O CHAMADO E A QUEDA

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Júlia estava na loja com a tarefa árdua de achar umpresente perfeito para sua irmã Luisa. Um presentebarato, mas especial. Algo que só podia ser achado naloja escura e empoeirada, com prateleiras lotadas debrinquedos velhos e artigos de colecionador. 

Uma câmera muito antiga, apesar de ser umarelíquia, era vendida a preço de banana ali. Júlia riu ao seimaginar dando uma banana em troca da máquinafotográfica. Seria muito bom se funcionasse assim. Euplantaria centenas de bananas e poderia comprar tantosdoces que não caberiam no meu quarto. 

Ela pegou a máquina e a levou até o balcão, ondeuma senhora enrugada dormia tranquilamente. Sentiu-seconstrangida em ter de acordá-la. Parecia estar tendo umsonho muito bom, pois esboçava um leve sorriso. Haviaum sino no balcão, e Júlia decidiu tocá-lo. O som agudofez tanto a senhora quanto ela darem um pulo. 

A garota colocou desajeitadamente a máquina sobreo balcão e entregou o dinheiro. A velha a olhou de modorabugento quando lhe entregou o troco, mas parou,colocou a cabeça de lado num modo pensativo.

— Eu conheço você?

Júlia puxava o troco, mas a mulher não o soltava.

— Não. Você deve estar me confundindo com outrapessoa. 

A velha a olhou desconfiada e, por fim, liberou otroco. Esperou por uma sacola, mas a idosa já estavadormindo de novo. Ela pegou uma sacola no balcão e saiuda loja. 

As calçadas estavam cheias de pessoas, e Júlia tevedificuldade de andar, com pessoas se esbarrando evendedores ambulantes bloqueando ainda mais apassagem. Como se não bastasse, deixou cair sua chave.Rapidamente, ativou seu modo ninja e a apanhou antesde causar algum acidente. 

Sentindo-se muito esperta,andou até o ponto de ônibus.Enquanto esperava, observou as pessoas quepassavam ali. Umas apressadas, outras só caminhando na praça. Um senhor, que também esperava o ônibus, parouao seu lado, esboçou um sorriso quase sem dentes e faloualgo tão baixo que Júlia teve de pedir para ele repetir. Ovelhinho fez uma cara feia, claramente aborrecido,dizendo:

— Eu não entendo essas pessoas de hoje. Se não têmcafé, então não me ofereçam! 

Assim que o veículo parou diante de si, deu graças aDeus; o velho louco entrava pela porta de trás. Era muitocomum pessoas assim em sua cidade. Ela achava tudomuito engraçado.Júlia entrou e se acomodou no banco ao lado dajanela. Percebeu que estava com fome quando umacriança que comia um salgadinho se sentou ao seu lado.Ela olhou para o salgadinho, depois para a criança, depoispara a comida de novo. Involuntariamente desejou seraquela criança comendo aquele salgado. Deve estar tãodelicioso. 

Olhou pela janela e viu que já estavam passando pelaMata do Buraquinho. Ela se imaginou se aventurandocomo Alice no país das maravilhas, floresta adentro. Certo dia, andando por ali, percebera que umaiguana, em cima da cerca, olhava para ela. Pensando queestava com sorte por achar um animal ali, aproximara-separa bater um papo com a nova amiga. Mas, para suatristeza, o animal fora embora antes que ela pudesse falar.Talvez eu deva segui-la! Mas não estava com sapatosadequados para uma caminhada na floresta fechada,então decidira deixar para a próxima. 

Júlia entrou em casa com o presente e correu diretopara o quarto de Luisa, mas, no meio do caminho, sentiuuma dor forte na cabeça, como sentira várias vezes antes,desde que tinha caído no banheiro e batido a cabeça nochão.Ela parou e fechou os olhos, como se isso pudessealiviar a dor. "Júlia!", ouviu. Quem está me chamando? 

Olhando para todos os lados, sabia que aquela voz nãoera de ninguém que conhecia. Nem sequer podia dizer seera masculina ou feminina.Foi para a janela, a fim de ver se era alguém no ladode fora da casa, mas não era. Bom, se for a dona Morteme chamando, é melhor esperar! 

A Dona do Castelo 1- O Duque de Tão LongeOnde histórias criam vida. Descubra agora