10 - JÚLIA PROVA KATATONES

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Júlia não se lembra da última vez que ficara tão linda quanto agora. Um vestido de princesa rosa chá pendia de seus ombros, em um decote canoa, justo até a cintura, ia soltando-se em uma larga saia brilhante. Várias rosas de seda estavam espalhadas irregularmente sobre o vestido, e pérolas circulavam sua cintura, ombros e luvas. Seu cabelo estava preso em uma trança embutida, volumosa e bagunçada, no qual as rosas de seda também se espalhavam, combinando com as joias douradas com detalhes de pérola. Ela usava uma sapatilha perolada simples e confortável.

Júlia queria ter uma máquina fotográfica ali, para mostrar a Luísa e a sua mãe como estava deslumbrante. Seria uma das fotos, em porta-retratos, expostos orgulhosamente num móvel na sala. Queria também que Dom a visse assim. Ainda olhando-se no enorme espelho, fazia caras e bocas, e poses para uma foto imaginária. Era automático. Quando ela se olhava no espelho, a consciência dela gritava "Vamos, faça uma pose, mulher!". E ela tinha que obedecer a sua consciência.

Júlia conseguia até se imaginar como uma princesa de verdade, num castelo de verdade, dando ordens e seguindo protocolos chatos e regras chatas de etiquetas. Sendo restringida a fazer coisas legais, que pessoas comuns podiam fazer. Pensando assim, ela não queria mais ser princesa. Estava bem confortável sendo Apenas Júlia.

Amelina entrou no quarto, justo quando Júlia fazia uma de suas caras e bocas, e mais uma vez Amelina riu. Ela só aparecia em momentos constrangedores, deveria pensar que Júlia era estranha.

— A senhorita está magnífica!

— Eu sei, obrigada. — Júlia sorriu orgulhosa. O constrangimento passou rapidamente.

Amelina guiou Júlia por entre os longos corredores e salas até que, por fim, chegaram a um enorme salão. Júlia percebeu na hora que era ali o salão de festas. O lugar estava todo enfeitado com tecidos finos e rosas. Várias velas pendiam de candelabros pendurados no teto. As mesas redondas estavam dispostas regularmente, com lugares para oito pessoas, e as comidas já estavam sendo postas.

Várias pessoas em trajes finos conversavam em pé ou sentados. Eram mais pessoas do que Júlia imaginara. De repente, um nervosismo tomou conta de seu corpo, só de pensar que teria que falar na frente de toda aquela gente. Calma, Júlia. Você só vai ter que se passar por alguém que não é, e lançar um tratado de paz. Nada demais! Júlia decidiu que teria uma conversa séria com sua consciência quando chegasse em casa.

Levou os dedos à boca, com seu vício de roer as unhas, mas foi impedida por suas luvas. Então teve que se contentar em massagear as mãos, para tentar acalmar seu corpo.

Amelina percebeu sua agitação e ofereceu-lhe um copo de uma bebida gelada cor de rosa. Júlia cheirou para ter certeza que não haveria álcool. Seu paladar era muito teimoso e ela simplesmente não conseguia gostar de bebidas alcoólicas. A bebida tinha apenas um leve aroma adocicado, e Júlia decidiu que não tinha problema em tomá-la. Tomou toda de uma vez, e sentiu seu estômago esquentar.

Seu corpo relaxou. Não suava mais e os tremores nas pernas cessaram. Era como entrar debaixo de um chuveiro com água quente, extremamente relaxante. De repente, nenhuma daquelas pessoas a aterrorizava mais. Júlia queria mais daquela bebida.

— Amelina? Qual o nome dessa bebida? — Júlia disse sentindo os olhos pesados.

Júlia não tinha certeza, mas ouviu Amelina dizer "Katatone". Então ficou dizendo:

— Katatone, Katatone, Katatone! Quero Katatone! — Mas Amelina negou seu pedido e levou Júlia para longe da incrível mesa cheia de incríveis Katatones.

— Nada de Katatones. Venha, tem alguém que quer ver você.

Amelina levou Júlia por entre as várias pessoas. Ela sentiu muitos olhos a seguindo e sorriu para todos. Pararam perto da grande mesa principal, onde o Dono do Castelo estava sentado, e Júlia percebeu que não sabia o nome dele. Antes que ele pudesse falar algo, Júlia perguntou:

A Dona do Castelo 1- O Duque de Tão LongeOnde histórias criam vida. Descubra agora