11- A CURIOSIDADE DÁ AS CARTAS

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DIÁRIO DE DENTRO

Publicado em 28 de dezembro de 752, por Miguel de Araruna.

Onde está a Dona do Castelo? Por onde anda? É o que todos estão se perguntando esses dias. Está correndo um boato de que ela andou pela Cidade de Dentro disfarçada de plebeia. Testemunhas a viram pelas ruas com um jovem de roupas simples. Foi vista com esse mesmo plebeu no trem que descarrilhou. De aparência jovem e animada, parece recuperada do luto e os cidadãos anseiam pelo romance proibido entre o jovem e a Princesa. O boato não pôde ser confirmado pela Dona do Castelo.

Após muito tempo, ela finalmente foi vista formalmente com suas roupas reais, num baile dado pelo Duque de Tão Longe. E depois de tantas especulações sobre reatar as relações entre o Duque e a Rainha, a Princesa sumiu novamente. Os senhores que estavam presentes no baile dizem ter visto a Dona, que estava realmente mais nova e com olhos alegres, mas que num segundo depois ela desaparecera. O baile terminou com os sentimentos preocupados do Duque e de todos, pois especulavam que ela havia sido raptada pelo plebeu. A Rainha nega todas essas informações e diz que a Dona está a salvo no castelo. É realmente uma história intrigante para todos. Tem alguém se passando pela Princesa? Quem é essa pessoa e por que a Dona mantém-se isolada?

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— Você vem sempre aqui? — Dom perguntou.

— Andar em paredões à beira de precipícios é tipo um hobbie para mim. — Ela riu nervosa.

Ainda estava parada no meio do paredão, sem conseguir reunir coragem para subir no dragão. Dom viu o medo no rosto de Júlia, e pediu para o dragão chegasse mais perto da parede. Júlia recuou mais.

— Venha, eu te ajudo a subir.

Ele se inclinou o máximo que pode e ofereceu a mão à Júlia. Ela aceitou, ainda trêmula e cautelosa, e andou até a beira do paredão, tentando não olhar para baixo.

— Quando eu disser já, você pula e eu te puxo.

Eu vou morrer! Júlia choramingava por dentro, mas fez o que Dom pediu. No "já", ela pulou com todas as suas forças. E Dom puxou seu braço para junto de si. Em segundos, ela estava de joelhos aninhada no peito de Dom, arfando. Júlia ouviu o coração de Dom bater forte, e o calor que emanava dele. Era tão real. Como ela podia estar sonhando? O cheiro, o calor e os batimentos cardíacos a confortaram, enquanto os braços de Dom a envolviam carinhosamente.

Ela aproveitou aqueles poucos segundos, mas logo o dragão, que batia as asas incansavelmente para manter-se pairando àquela altura, movimentou-se para o lado e desceu numa inclinação perigosa. Júlia sentou-se rapidamente atrás de Dom e agarrou sua cintura. Dom segurava-se numa protuberância abaixo do pescoço do dragão.

Ficaram ali, em silêncio, enquanto desciam no vento gelado, desviando de picos e outras aves menores. Ele estava fazendo uma curva leve e Júlia viu que ele seguia em direção à Cidade de Fora.

A hipótese dela foi confirmada quando o dragão pousou numa colina sem árvores ou casas, e deixou os dois ali, sozinhos, voando para longe em direção ao castelo.

— Por que ele nos ajudou? — Até onde Júlia sabia, ele seguia ordens do Dono do Castelo.

— Ela é de um amigo de Caltam. Ele me emprestou para te buscar. — Ele disse sem olhar para Júlia.

Então Dom começou a descer a colina, em direção às casas. Júlia apressou-se em segui-lo, da forma que pode com aquele vestido. Viu que Dom não havia se machucado no acidente, e agradeceu mentalmente à Tupi.

A Dona do Castelo 1- O Duque de Tão LongeOnde histórias criam vida. Descubra agora