Júlia estava de volta no trem. Seus olhos ainda estavam fechados e seu corpo inerte. Mas ela podia sentir o movimento e o barulho inconfundível. Aquilo ali parecia real. Diferente do sonho que teve com sua família. Ali a visão estava nítida e ela sentia-se totalmente presente. Mas era impossível. Não fazia sentido. A Sr. Ket teria que explicar muita coisa.
Aos poucos seu corpo foi ganhando energia e agora ela conseguia abrir os olhos. Estava na sua cama no vagão das camas. Júlia sentiu cheiro de manga e sentou-se. Ao seu lado Dom estava sentado enquanto comia a manga.
Ele parou de comer quando viu que ela havia acordado. Estava com os cabelos bagunçados e sua face visivelmente preocupada se desfez ao vê-la.
— Posso saber por que você está comendo minha manga? — Júlia colocou o olhar mais desafiador que tinha em seu inventário de olhares.
— Desculpe. — Ele riu e ofereceu o caroço da manga. — Você ainda quer?
— Argh.
Eles riram, e depois de uns segundos de silêncio, Dom falou:
— Fiquei muito preocupado com você. Te procurei por toda parte, durante a manhã inteira. Estava preparando uma surpresa para você, mas você sumiu.
Júlia se perguntou por quanto tempo havia dormido, e onde estaria a Sr. Ket. Depois lembrou-se que tinha que conversar com ela urgentemente.
— Onde você me achou?
— Aqui. Quer dizer, procurei você aqui antes, mas não estava. Então fui procurar em outras partes do trem, mas também não estava. Então voltei para cá. E você estava dormindo. Onde você esteve esse tempo todo?
— Eu não sei. — Júlia mentiu, em parte.
— Que estranho.
— Dom, com licença. Eu preciso ir ao banheiro.
— Claro, estarei na sala de estar, se precisar. — Ele parecia triste.
— Certo.
Júlia saiu do vagão, e Dom seguiu a direção oposta. Ela sentia-se culpada por ter que mentir para ele, mas não havia como explicar o que se passava. Apenas a Sr. Ket entendia o que estava acontecendo.
Passou alguns vagões tentando lembrar qual era o vagão da Sra. Ket. Depois de passar alguns, ela encontrou. Estava vazio, e, na cama, onde antes tinha sacolas com folhas, agora não havia nada. Droga, ela foi embora! Ou acordou.
Cansada, sentou-se na cama e suspirou. Temeu que nunca mais fosse sair daquele lugar. Temeu que ficasse ali por tanto tempo que esqueceria de seus pais e Luisa. Se esqueceria de sua antiga vida.
Ainda assim, ela estava confortável ali. Como se ela se encaixasse naquele local. Gostava do estilo de vida das pessoas e de estar na companhia de Dom. Talvez tenha sido isso que a fez ficar nesse mundo. Imediatamente um sentimento de culpa se fez em seu coração.
A Sr. Ket entrou no vagão, e, quando avistou Júlia, seu rosto assumiu um ar de assombro, como se tivesse visto um fantasma.
— Não é possível! O que você ainda está fazendo aqui?
— É exatamente o que eu queria saber.
A Sr. Ket estava muito preocupada, o que fez Júlia temer o pior. Parecia que sua situação não estava nada boa. Ela sentou-se ao lado de Júlia na cama. Suspirou e franziu a boca numa linha tão fina que parecia que ela não tinha lábios. Ela estava tentando juntar as palavras, de um modo que não ferisse tanto Júlia.
— Certo. Para começar, não era para você estar aqui. Aquele chá que eu te dei era para fazê-la acordar.
— Mas não acordei.
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A Dona do Castelo 1- O Duque de Tão Longe
FantasyJúlia Rodrigues sofre um acidente e acorda em uma casa desconhecida em um mundo estranho. Sem saber se está sonhando ou apenas enlouqueceu de vez, ela anda sem rumo até conhecer Dom. Por ser incrivelmente parecida com a Dona do Castelo (nome popular...