3 - AS PARCAS

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FOLHA DE FORA

Publicado em 01 de janeiro de 752, por Eduardo Rosas.

O Festival de Tupi foi marcado por muita alegria e música, trazendo energias positivas e prosperidade para o ano de 752. No entanto, mais uma vez a Dona não se fez presente. Em seu lugar, a duquesa Moema, de Tão Perto, sentou-se ao lado da rainha e saudou o povo com suas belas palavras. Ela tem substituído a princesa em outros eventos, como no Baile de Jaci, em setembro, e nos outros festivais dados pela Coroa.

Ainda assim, o povo quer saber: por onde anda a Dona? E por que abandonou seu povo?

***

Júlia estava furiosa. Ele havia a assustado de propósito. Fez ela cair no chão e se machucar, achando graça na situação. Mas estava também curiosa para saber quem era esse jovem e por que a estava seguindo. Queria perguntar onde estava e pedir ajuda para chegar a algum local e contatar sua família, porém, na caixinha dos sentimentos, trancou a curiosidade e ficou com a raiva.

Alguma coisa nele a irritava profundamente. Junto do susto e da perseguição, ele ainda esboçava um sorriso presunçoso, cheio de confiança. Ele não poderia sair impune.

Ela se levantou e andou quase marchando para longe dali. Não ousou nem o responder. Não adiantou muita coisa, pois continuou a andar atrás dela, cantarolando irritantemente. O rapaz usava uma camiseta de algodão verde-musgo de mangas longas e uma calça de algodão preta. O tecido era parecido com o de Júlia, mas ela usava um vestido branco com bordados no decote canoa. Depois de alguns minutos de perseguição silenciosa, ele falou:

— Ora, menina sem nome, por acaso você é muda? Você fala minha língua? Poderia pelo menos dar um sinal com as mãos.

Júlia fez um sinal feio com os dedos. Se ele viu, não fez menção. Ainda andando rápido e à frente dele, seguiu sem rumo. Perguntou-se se ele sabia para onde ir ou para onde estavam indo. Se sabia, não disse nada e continuou a segui-la.

— Acho que sei quem você é, mas não faz sentido você ir por aí sozinha. — Depois de um segundo de silêncio, acrescentou: — Eu poderia acompanhar você, sabe. O caminho até o Castelo de Dentro é longo.

Novamente essa história. Max havia falado que ela era a Dona do Castelo. Agora esse sujeito estava sugerindo que ela estaria indo para o Castelo de Dentro. Eles deveriam estar confundindo-a com outra pessoa. Se pensasse bem, ela não sabia que existia um castelo com aquele nome no Nordeste. Nem que uma pessoa jovem como ela poderia ser dona de um. Logo se imaginou tendo de cuidar de um castelo enorme. À noite deveria ser assustador.

— Não sei do que está falando. Você deve estar me confundindo com outra pessoa.

— Bom, não me disse o seu nome, então como poderei saber se você é você mesmo?

— Porque eu sou eu, ora. Eu sei quem sou, e isso basta.

— Ah, já sei — Dom disse, com um triunfo no rosto. — Você não tem um nome.

Júlia achou isso tão absurdo que riu. Como alguém não tinha um nome? Esse sujeito era tão esquisito quanto a velha e o Max. Ou ela estava mesmo louca, ou eles eram todos loucos. Agora, na sua caixinha, a curiosidade estava começando a tomar o lugar da raiva.

— Eu posso arranjar um nome para você. — Ele se colocou num modo pensativo. — Que tal: Antália?

— Não. E o certo não seria: Natália?

— Não. Nossa, que nome esquisito. — Ele a olhou de modo incrédulo. Estava começando a achar que ela era maluca. — Vou escolher outro, então. Acho que você tem cara de Caltam.

A Dona do Castelo 1- O Duque de Tão LongeOnde histórias criam vida. Descubra agora