4 - PEIXES LARANJAS

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A primeira coisa que Júlia pensou nesse caos todo era que sentia falta de Luisa. Descendo a escada íngreme que havia dentro da árvore, percebeu que quanto mais descia, mais arejado ficava o túnel, e não abafado como deveria ser. Sua irmã teria adorado essa aventura.

O túnel era largo. Ela e Dom caminhavam lado a lado. Olhando para cima, via raízes soltas nas frestas de pedras grandes, e pequenos vaga-lumes iluminavam o caminho. Sem eles, haveria escuridão total, e Júlia provavelmente tropeçaria num degrau e escorregaria ali até não ter mais nádegas.

Ela tentou várias vezes pegar algum dos vaga-lumes. O problema era que eles sumiam quando conseguia alcançá-los. Desapareciam por completo. Júlia chegou até a pensar que não fossem vaga-lumes, e sim faíscas verdes, saídas de lugar algum.

O túnel finalmente terminou, um pouco depois de os degraus acabarem. Júlia pensou que para descer fora fácil. A saída do túnel era a abertura de uma grande árvore. Suas raízes se espalhavam como dedos agarrando-se ao solo. Vários cipós pendiam da enorme árvore, com folhas e outras espécies de vegetais parasitas.

O mais incrível ficava depois daquela árvore: um belíssimo jardim tropical, com variadas espécies combinadas formando uma paisagem tranquila e misteriosa. Júlia teve vontade de se aventurar por todos os caminhos e descobrir o que havia depois de cada curva. Ela seguiu Dom, que atravessou o jardim sem olhar para nada, e viu que ele sabia exatamente para onde estavam indo.

Encantada com todas as espécies diferentes de flores e lagos naturais, não viu quando chegaram a uma casa grande, em estilo colonial. Nem de perto imaginava que aquela seria a casa de Dom. Então tudo foi se encaixando no seu cocuruto.

Aquela casa grande com jardim... um atalho para uma floresta... talvez estivesse na propriedade de algum milionário no Amazonas ou Pará. Dom seria o filho do dono? Ou algum empregado? Então pegou-se examinando o rapaz para saber.

Vestia-se com roupas normais, mas de um jeito bagunçado. Júlia não entendia de roupas de marca, mas conseguia notar a postura dele ao abrir a porta, e sua confiança dizia que mandava ali. Ainda curiosa, entrou.

— Uau, Dom. Sua casa é incrível.

— Não é minha. É de Caltam.

— Ah, e onde ele está?

— Deve estar na cozinha. Fique aqui. Vou chamá-lo.

Júlia queria dizer a quem fosse Caltam que a casa era muito bonita, ao contrário do nome dele, e ficou ali observando os detalhes do cômodo enquanto esfregava as mãos e assobiava.

Caltam veio pulando do que certamente deveria ser a cozinha. Ele tinha apenas uma perna, mas conseguia se locomover com facilidade.

— Olá, meu nome é Caltam.

E estendeu a mão.

Júlia a apertou.

— Prazer em conhecer, Caltam. Meu nome é Júlia.

— O brazer é todo meu!

Júlia pensou ter ouvido mal, ou talvez tivesse falado errado de propósito. Caltam se virou para Dom, e cochichou algo no seu ouvido, enquanto olhava para Júlia. Ela ficou constrangida, pois estava óbvio que estavam falando sobre ela. Então só ouviu Dom dizer calmamente:

— Não, não é ela. Eu perguntei.

— Ah, como se ela fosse dizer sua real identidade — Caltam falou alto.

— E por que não diria?

— Borque não quer que saibamos! — um Caltam exaltado disse, enquanto se virava e andava até um aparador no canto da sala. — Veja esta bintura. Eu fiz há alguns anos, quando ela ainda abarecia.

A Dona do Castelo 1- O Duque de Tão LongeOnde histórias criam vida. Descubra agora