capítulo quarto

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Anastácia

Alguém contou a esta autora que Jack Hyde foi visto na Joalheria Moreton’s comprando um solitário de diamante

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Alguém contou a esta autora que Jack Hyde foi visto na Joalheria Moreton’s comprando um solitário de diamante. Será que a nova Sra. Hyde está prestes a surgir?
CRÔNICAS DA SOCIEDADE DE LADY WHISTLEDOWN,
05 DE Julho DE 1813

Anastácia pensou que a noite não poderia ficar muito pior. Primeiro, vira-se forçada a passar o tempo inteiro no canto mais escuro do salão de baile – o que não foi muito fácil, já que Lady Danbury era claramente uma apreciadora tanto da beleza quanto da iluminação das velas. Depois, conseguira tropeçar no pé de Elena Lincon enquanto tentava escapar, o que fez Elena, que nunca é a senhora mais discreta do salão, gritar “Anastácia Steele! Você se machucou?”, o que deve ter chamado a atenção de Jack, porque ele virou a cabeça como um pássaro assustado e imediatamente começou a atravessar o salão correndo.  Anastácia esperara – não, rezara para – conseguir ser mais rápida que Jack e chegar ao toalete feminino antes que ele a alcançasse, mas o rapaz a encurralara no corredor e começara a declarar seu amor.
Como se tudo isso já não fosse constrangedor o suficiente, agora aparecera aquele homem – aquele estranho lindo e elegante de uma forma quase perturbadora – e testemunhara tudo. E pior, ele estava rindo!
Anastácia o fuzilou enquanto ele se divertia às suas custas. Como nunca o vira antes, ele devia ser novo em Londres. A mãe havia garantido que ela fosse apresentada a todos os cavalheiros qualificados da cidade – ou ao menos que eles soubessem de sua existência. Claro que aquele homem podia ser casado e, portanto, não constar da lista de vítimas potenciais de Carla, mas, instintivamente, Anastácia sabia que ele não poderia estar há muito tempo em Londres sem que todos estivessem cochichando a seu respeito.
O rosto dele era simplesmente perfeito. Anastácia levou apenas um instante para se dar conta de que todas as estátuas de Michelangelo não chegavam a seus pés. Os olhos eram curiosamente intensos – tão cinzas que quase brilhavam por conta própria. Os cabelos eram espessos e escuros, e ele era alto – tão alto como o irmão dela, o que era raro.
Ali estava um homem, Anastácia pensou com sarcasmo, que possivelmente poderia livrar para sempre o rapaze Steele do assédio das moças risonhas. Por que isso a incomodava tanto, não sabia. Talvez porque tivesse consciência de que um homem como ele jamais se interessaria por uma mulher como ela. Ou então porque ela se sentia como a última das criaturas sentada no chão diante da esplêndida presença dele. Ou, ainda, simplesmente porque ele estava ali parado, rindo, como se ela fosse alguma espécie de atração circense.
Mas, qualquer que fosse o caso, Anastácia  foi tomada pela rabugice e franziu a testa quando perguntou: – Quem é você?

Christian não sabia por que não tinha respondido à pergunta dela de maneira direta, mas algum diabinho fez com que dissesse:
– Minha intenção era ser seu salvador, mas é claro que você não precisa dos meus serviços.
– Ah – exclamou a garota, parecendo mais tranquila. Ela apertou os lábios, torcendo-os levemente enquanto pensava em como continuar. – Bem, muito obrigada, então, eu acho. É uma pena que não tenha se manifestado dez segundos antes. Eu preferiria não ter tido que bater nele.
Christian olhou para o homem no chão. Uma marca roxa já aparecia em seu queixo e ele gemia.
– Laffy. Ah, Laffy. Eu amo você, Laffy.
– Suponho que você seja Laffy, certo? – sussurrou Christian, olhando para ela. Era de fato uma jovenzinha bastante atraente, e daquele ângulo o corpete de seu vestido parecia baixo de uma maneira quase indecente.
Ela franziu a testa, demonstrando insatisfação com a tentativa de humor sutil – e também sem perceber que aquele olhar semicerrado estava direcionado a partes de seu corpo que não o rosto.
– O que nós vamos fazer com ele? – perguntou ela.
– Nós? – indagou Christian.
Ela franziu ainda mais a testa.
– Você disse que queria me salvar, não disse?
– Sim, eu disse. – Christian pôs as mãos nos quadris e avaliou a situação. – Devo arrastá-lo até a rua?
– É claro que não! – exclamou ela. – Pelo amor de Deus, está chovendo, não está?
– Minha cara Srta. Laffy – falou Christian, sem nenhuma preocupação com o tom condescendente de sua voz –, você não considera sua preocupação um tanto inadequada? Esse homem tentou atacá-la.
– Ele não tentou me atacar – respondeu ela. – Ele apenas... apenas... ah, tudo bem, ele tentou me atacar. Mas jamais teria me feito algum mal de fato.
Christian ergueu uma sobrancelha. Realmente as mulheres eram as criaturas mais paradoxais do mundo.
– E como a senhorita pode ter certeza disso?
Ele observou enquanto ela escolhia as palavras com cuidado.
– Jack não é capaz de nenhuma maldade – afirmou ela. – Seu crime é apenas a falta de bom senso.
– A senhorita é uma alma mais generosa que eu – comentou Christian, baixinho.
A garota soltou outro suspiro, um som suave que ele de alguma forma sentiu atravessar todo o seu corpo.
– Jack não é má pessoa – disse ela, cheia de dignidade. – O problema é que nem sempre é muito inteligente, e talvez tenha interpretado mal minha gentileza.

The viscount's secrets  [C O N C L U Í D A  ]Onde histórias criam vida. Descubra agora