Capítulo 2: Me parece familiar

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[Sarah]

A preguiça de ler esses documentos me domina... Hoje parece que a hora não passa de jeito nenhum aqui no escritório, eu só queria chegar em casa e me deitar, é pedir demais por acaso? Porém fico aqui, analisando diversos processos que provavelmente não vão dar em nada na grande e protetora justiça de Los Angeles. Recebo algumas ligações de advogados e pegando café várias vezes, a ponto de acabar derrubando em minha blusa em uma das vezes. Inferno.

— Sarah, sua blusa está suja. — Julie, a advogada que auxilio chega de repente, me pegando de surpresa.

— Tão perspicaz, Ju. Tenho até medo.

— Chata. Vamos sair hoje?

— Ai, to sem saco pra sair, morrendo de dor de cabeça.

— Você só inventa desculpa Sarah.  — realmente — Mas entendo, quando quiser sair dessa bad é só chamar, já sabe.

Ela sai da sala, me deixando sozinha. Acabo olhando a foto na minha mesa e lembro que já faz quase 1 ano que larguei a Polícia de LA. A foto mostra a minha despedida da central, com todos os meus colegas reunidos, logo após eu dizer que iria abandonar o cargo. Eu na época precisava pensar, estava enlouquecendo com toda aquela rotina conturbada, tudo que mais queria era voltar a ter uma vida normal, coisa que não aconteceria comigo lá e eu claramente não me arrependo de ter saído. Agora eu estou aqui trabalhando como assistente jurídica que a polícia me ofereceu assim que completei três meses de "férias" sem emprego nenhum e me pergunto se era realmente isso que eu queria para a minha vida.

O expediente acaba e graças a Deus eu posso ir pra casa, apesar de lembrar que a Nicole também me chamou pra sair hoje. Ela vai ficar puta da vida quando eu ligar pra ela já na minha cama avisando que não vai rolar. Enfrento um trânsito horrível de 40 minutos por causa de um acidente de carro na frente e tudo que eu faço é aguardar, morrendo de fome. Quando chego finalmente em casa, sou recebida por Bogart, meu terrier incrivelmente danado, animado e claramente com fome. Assim que coloco a ração e brinco um pouco com ele, vou na cozinha preparar o meu jantar não saudável no microondas e como se eu tivesse adivinhando, recebo uma ligação da Nicole. Oh céus.

— Oi Nicole.

Sarah? — escuto um barulho abafado — Cadê você? Tô te procurando no rolê e você não aparece.

— Por que eu tô em casa, amada.

Porra, Sarah. — ela diz, gritando — Você deveria ir comigo pros rolês, sabe?

— Mas eu não quero, não tô muito afim sabe?

Ai, Sarah... Toda vez a mesma coisa, você borocochô em casa sem fazer nada, eu fico preocupada... — escuto as broncas da Nicole revirando os olhos, quando de repente escuto algo quebrando no banheiro, como se fosse vidro.

— Bogart, porra! Eu acabei de colocar a merda dessa prateleira! — grito, zangada.

Sarah Orzerchowski, não grite com o cachorro. — Nicole me repreende e assim que vou responder, vejo Bogart saindo... Da cozinha? Fico gelada na hora.

— Nicole.

O que?

— Acho que tem alguém na minha casa.

Sarah, caralho. — ela se desespera e pego a minha glock que fica escondida na cozinha — Pega a glock, meu Deus...

— Calma, porra. Eu já tô com ela.

Eu vou aí.

— Mas nem pensar, Nicole.

Sarah...

— Nicole, não. Fica comigo aqui no telefone.

Tá. — Diz, apreensiva. Subo as escadas tentando fazer o máximo de silêncio e vou até a porta do banheiro, que continua fechada do jeito que deixei. Me pergunto se realmente esqueci a luz acesa ou coisa do tipo. Resolvo agir, sentindo a respiração pesada de Nicole pelo telefone.

— Tem alguém aí? — espero alguém responder, mas tudo que recebo é silêncio — Eu tô armada, se você não sair agora eu vou atirar.

Mais silêncio. Que porra está acontecendo aqui? Espero alguns segundos e abro a porta devagar. Assim que entro, a primeira coisa que faço é gritar assim que vejo um homem desmaiado no chão do meu banheiro.

Sarah? — Nicole grita no meu ouvido, enquanto ainda grito junto com ela — Sarah! O que está acontecendo?

— Nicloe... — embolo nas palavras — Tem um homem... Desmaiado no meu banheiro!

Sarah do céu. — ela fala, desesperada.

— Nicole o que eu faço?

Sei lá, Sarah... Joga ele da janela!

— Nicole, porra!

Chama a polícia!

— Nada de polícia.

Vejo que estou mais calma e analiso toda a situação. Minha prateleira de vidro está toda quebrada, e vejo sangue pelo chão. Chego próxima a ele, que está apagado e vejo que sua cabeça sangra moderadamente. Pego uma toalha e com cuidado a coloco embaixo da cabeça. Como ele pôde ser tão burro a esse ponto de bater a cabeça contra a minha própria prateleira? Assim que o viro para que a toalha fique logo abaixo da cabeça dele, eu vejo o seu rosto. Muito bonito. Muito bonito mesmo. Meu Deus, no que eu estou pensando?

Sarah? — Percebo que ainda estou na linha com Nicole.

— Nicole, ele bateu a cabeça na minha prateleira.

Meu Deus, Sarah... Você vai chamar a polícia, né?

— Eu já disse, nada de polícia. Vou esperar ele acordar.

Você está louca?

— Nicole eu sei me cuidar. E eu preciso entender por que ele está aqui. Ele me parece familiar demais.

Tem certeza né, Sarah?

— Mais tarde te ligo.

Me despeço dela à força e resolvo que vou descer e pegar o resto de vinho na geladeira. Preciso beber algo. Aproveito e puxo uma cadeira, levando até a porta do banheiro onde simplesmente me sento, ainda com as roupas do escritório com o vinho na mão e a glock na outra, enquanto espero o bonitão deitado à minha frente dar algum sinal de vida.

Partners in Crime [The Uries]Where stories live. Discover now