L O U I S
Retiro a minha mala da esteira de bagagem, saio do aeroporto e vejo Harry apoiado em uma caminhonete suja. A primeira coisa que penso é: Ele cortou o cabelo. A segunda coisa que penso é: Talvez tenha feito isso por alguém. Se é que há alguém. Nunca acreditei naquela história. Se alguém existe mesmo, não está ali. Eu estou. Harry está assustador. Com a barba por fazer, uma sombra parece emoldurar sua fisionomia: maçãs do rosto, globos oculares, testa saliente, queixo bem desenhado, boca tensa. Os músculos em seus braços cruzados estão mais definidos.
O Harry que me deixou em Des Moines há quatro meses era um rapaz, às vezes um menino, mas aquela pessoa me esperando é um homem grande, duro e com jeito de mau.
Quando olha na minha direção, eu congelo. Estou usando um cardigã branco sobre uma blusa verde nova que custou caro demais. Jeans de grife. Tênis desconfortáveis mas bons de aparência. Roupas ridículas para agosto, porque sempre faz frio nessa época. Eu queria ficar bonito, mas me atrapalhei. Tenho o dom de fazer coisas erradas. Ainda assim, acho que nada que eu possa fazer pode ser comparado com o que está acontecendo na vida de Harry.
Ele se endireita e dá um passo à frente.
– Oi – digo, quando nos encontramos a poucos metros da caminhonete preta dele. Tento sorrir. – Você veio.
Ele não sorri em resposta.
– Você também.
– Desculpe pelo trabalho.
Eu havia mandado uma mensagem para ele pouco antes de embarcar. Como não queria dar chance de ele dizer não, apenas informei o número do voo e quando chegaria. Quando o avião aterrissou em Minneapolis, havia três mensagens de texto e uma mensagem de voz dele, todas variações do mesmo tema: “Dê meia-volta e vá para casa.”
Esperei até estar embarcando para Portland para mandar outra mensagem: Vou alugar um carro. Saindo da ponte de embarque, recebi a resposta dele: Vou pegar você. Como era o que eu estava esperando, respondi: Tudo bem.
Mas nada parece bem. Nem perto disso. Harry está de bermuda cargo e
camisa polo vermelha com o logotipo de uma empresa de paisagismo. Está bronzeado. Não reconheço seu perfume, um cheiro fresco e resinoso, como a parte interna de um armário de cedro depois de ser lixado.– Você veio do trabalho? – pergunto.
– Sim. Precisei sair mais cedo.
– Desculpe. Você devia ter me deixado alugar um carro.
Harry estende a mão. Por um instante, acho que vai me puxar para si, mas ele apenas pega a alça da minha mala.
Recomponha-se, Louis. Você não pode
pirar toda vez que ele se aproxima.Ele abre a porta do lado do carona para colocar minha bagagem atrás do banco. A caminhonete é imensa, com a lateral dianteira violentamente amassada. Tomara que ele não estivesse dirigindo quando aquilo aconteceu.
Quando Harry volta, estou avaliando a musculatura de suas costas, lembrando a sensação de ter os ombros dele sob as minhas mãos na última vez que o vi. Ele é Harry e não é Harry. Ele dá um passo para o lado para me deixar entrar. O interior do veículo tem cheiro de tabaco e, embora eu esteja com muito calor, opto por continuar de casaco. Eu me sentiria estranho em relação a me despir, de qualquer forma. Viro para fechar a porta e nossos olhos se cruzam. É quando me dou conta. Ele não está diferente por causa do cabelo, do bronzeado ou dos músculos. São os olhos. A expressão dele está civilizada, mas seus olhos estão mais selvagens, como se quisesse rasgar o mundo e arrancar suas entranhas.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Intenso
Romance{Sequência da obra "Profundo"; adaptação disponível em meu perfil} A vida de Harry Styles foi do céu ao inferno em poucos meses. Ele achava que era possível ter um futuro melhor, mas acabou retornando para os dramas diários de sua família. Agora, em...