Vida Selvagem

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L O U I S

Todo ano eu me surpreendo com a chegada do inverno. O outono é um amigo aguardado que alivia o calor do verão. Então, quando estou pronto para viver uma época dourada de maravilhosa perfeição, zás. Do dia para a noite, tudo fica frio. Quando eu era pequeno, negava o que isso significava. Não, ainda não. Ainda não está na hora. Deixava a minha lanterna de abóbora na varanda até muito depois do Dia das Bruxas, até ela começar a apodrecer e ficar murcha. Depois da primeira geada, meu pai me obrigava a tirá-la de lá. Adeus, outono. No outono do meu penúltimo ano em Putnam, eu estava pronto para os dias ficarem mais curtos e as temperaturas caírem. Eu me preparei para o frio, para enfrentar uma vida sem Harry. Seria solitário, mas eu sou um garoto de Iowa. Estou acostumado com o frio. Sei como me abrigar, respirar através de uma echarpe, abafar minhas necessidades para suportar o longo inverno.

Meu pai terminou de incomodar o advogado e minha queixa contra Nate foi apresentada na metade de setembro. Sessenta dias para a resposta. Sem a identificação da reclamante. A data do julgamento foi marcada para o fim do próximo ano. Eu teria o tempo das quatro estações para elaborar estratégias, intimações, depoimentos e petições.

Achava que estava com tudo sob controle, até receber três mensagens de texto no meu celular. Eram de Harry. Na primeira, ele contava que estava voltando para a faculdade. Outra dizia que traria Gemma. A última me informava que eu não deveria me preocupar, porque ele manteria distância. Teria sido mais fácil se eu tivesse lido as mensagens e aceitado as condições de Harry. Mas eu estava cansado de fingir. Em vez disso, senti a mais pura e profunda alegria, tão real como qualquer coisa que havia sentido com ele. Eu me senti vingado, porque sabia que a vinda de Harry era o início de um novo capítulo. Harry havia retomado o futuro que interrompera. Talvez o nosso futuro fosse incerto. Talvez a nossa história estivesse marcada, mas eu não podia fingir que não o queria. Estava exultante depois de receber a notícia, imaginando quando e onde eu o veria novamente, como seria, qual seria a sensação.

Meu pai costumava explicar que uma lanterna de abóbora na varanda só é uma lanterna até a meia-noite do dia 31 de outubro. Um minuto depois, ela se tornava uma abóbora apodrecendo. Mas era a mesma abóbora, certo? A abóbora que compramos, levamos para casa, elaboramos e cortamos cuidadosamente. A abóbora que escavamos e colocamos orgulhosamente em exibição. A mesma porra de abóbora!

No outono em que Harry voltou para Putnam, eu estava cansado das pessoas tentando me dizer como deveria me sentir e quem deveria amar. Essa decisão é só minha. Você precisa ter muito amor-próprio e muita confiança no que quer nesta vida, principalmente quando há fotos suas muito íntimas na internet e estranhos mandam e-mails dizendo com detalhes que querem ejacular no seu rosto. Eu dividia uma casa fora do campus com sete amigos, inclusive Liam e Zayn, o antigo colega de quarto de Harry. Os dois não paravam de pegar no meu pé: "Você pode falar conosco. Nós precisamos saber." Todo mundo queria conversar sobre o que tinha acontecido em Silt. Sobre como eu me senti. Sobre o que eu ia fazer quando Harry voltasse para Iowa. Até Niall, que estava estudando em Florença naquele semestre, me incomodou por e-mail. Fiquei sabendo que você foi ver o Harry. Preciso de detalhes. Estava no meu limite com o fato de que todos os meus amigos achavam que eu havia reagido do jeito errado ao que Harry fizera. Estava "em negação, confuso, perdido". Nada disso! Eu sentia o que eu sentia. Lá fora, o tempo ficou frio. Eu via Harry em todo lugar, e ardia com isso.

Estou voltando para o campus quando o vejo descendo da caminhonete. Confiro se a pista contrária está livre e dou meia-volta com o carro, parando do outro lado da rua. Minhas mãos tremem enquanto observo Harry entrando na loja de conveniência. Ele usa uma camisa por cima de uma camiseta de manga longa. Eu o devoro com os olhos: aquelas costas, aquelas pernas compridas... Estou excitado só de olhar. Guloso. Cheia de ansiedade, precisando de contato. Quero ir ao encontro dele, bater nele, trepar com ele. Dar um encontrão nele e descobrir o que acontece depois. Alguma coisa. Qualquer coisa. A vitrine de acrílico da loja está quase completamente preenchida de placas e pôsteres coloridos, mas consigo ver o topo da cabeça de Harry no balcão. Eu me aproximo do para-brisa. Estou com a garganta seca e os mamilos intumescidos. Deixei Silt seis semanas antes. Harry está de volta a Putnam há quinze dias. Todas as vezes que o vejo, a sensação fica um pouco mais forte.

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