Coragem Verdadeira

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L O U I S

Há um motivo pelo qual se fala que alguém “caiu de amores”. É por causa da forma como o amor nos vira de cabeça para baixo e sacode a nossa vida, com força. Não há nada parecido. Não existe droga melhor. Nenhuma aventura é mais fantástica. O amor muda as coisas. Muda a gente. Harry voltou para mim naquele mês de novembro e eu me apaixonei de novo.

Era como aquele brinquedo de parque de diversões em que ficamos de pé contra uma parede e nos giram e giram até ficarmos presos pela força centrífuga. Nunca consegui deixar de rir nesse brinquedo. Eu fazia um esforço tremendo para estender a mão, levantar o braço, acenar para as minhas irmãs do outro lado. Minha irmã mais velha, Charlotte, sempre tentava coisas diferentes, como levantar os pés, parecendo meio tonta. Felicité ficava branca, apavorada. Eu ria até sentir dor nas bochechas, destruído pela hilaridade do meu próprio desamparo.

Nevou cedo e bastante naquele inverno. Harry e eu demos muita risada. Conversamos muito. Trepamos o tempo todo, em todo lugar, absolutamente impotentes diante da necessidade de botarmos as mãos um no outro. Aulas. Sono. Comida. Sexo. Harry. Eu não tinha força para mais nada. Eu estava caindo, girando, vagando, rodopiando. Rindo. Quando finalmente atingi o chão, não havia me preparado para o impacto, mas estava zonzo demais, rindo demais para me importar. Eu não mudaria o que aconteceu por nada. O celular toca e estou no sofá de Harry. Um livro da biblioteca em uma das mãos e a cabeça de Gemma no colo.

– Pode pegar para mim? – pergunto.

Ela olha para a tela e me passa o aparelho.

– É o seu pai.

– Ah...

Sinto o meu estômago afundar. Estou passando o polegar no botão para atender a ligação quando me ocorre que estou condicionado a essa reação. Quando meu pai me liga é porque quer conversar sobre o processo, e falar sobre isso me deixa nauseado.

– Oi, pai.

– Oi, querido. Liguei para alertá-lo. Você vai receber uma ligação em um ou dois dias de um integrante da equipe do senador estadual Carlisle. Eles estão interessados...

– Querem pedir comida chinesa para o jantar? – pergunta Harry da cozinha.

– Achei que você ia fazer carne refogada – retruca Gemma.

– Estamos sem ketchup.

– Eu detesto comida chinesa.

– Você gosta daquelas coisas crocantes. Aqueles pasteizinhos.

– Nããão.

– Você gostou na semana passada.

Meu pai ainda está falando.

– ... pode sair uma lei disso e ela achou...

– E então, o que você quer? – pergunta Harry.

– Eu quero carne refogada.

– Eu já disse que não temos ketchup.

– Então vá comprar.

– Quando eu voltar do mercado, já vai ser...

– Pode esperar um segundinho?

Levanto do sofá e levo a minha ligação para o quarto. Quando passo por Harry, ele finalmente nota o celular na minha mão e pede desculpas. Balanço a cabeça para indicar que não é problema algum. Quando entro no quarto, posso escutar Gemma e ele voltando a discutir.

– ... disse que ele estava no telefone?

– Achei que você tivesse visto.

– Eu não vi. Com quem ele está falando?

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