Explorador - part 2

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H A R R Y

– Louis?

– É melhor ela contar a você.

Gemma está olhando fixamente para os próprios pés, como se alguém os tivesse pregado no chão. Ando para a frente e para trás, atrás das cadeiras. Os ombros de Gemma estão tensos. Ela parece estar com medo que eu vá machucá-la, mas sou eu quem a abraça quando ela acorda de pesadelos. Ela não tem motivo para sentir medo de mim, nenhum.

– Comece a falar – disparo.

Gemma leva a cadeira para longe de onde eu estou, enterrando o rosto na
axila de Louis.

– Harry... – diz Louis.

– O que foi?

– Acalme-se.

– Como?

É uma porra de uma pergunta sincera. Queria que ele me dissesse onde está o manual para isso. Eu decoraria a coisa toda se achasse que poderia me ajudar ali. Eu me agacho ao lado de Gemma. Falo o mais baixo que posso, o mais calmamente que consigo.

– Em poucos minutos, aquele conselheiro vai voltar aqui. Ele vai me
perguntar o que aconteceu. O que devo dizer? Que você ficou catatônica? Acha que isso vai acabar bem?

– Eu não sei o que isso quer dizer – murmura ela.

– Quer dizer que você está praticamente em coma.

– Não estou catatônica. Só não quero conversar com você.

– Bem, com quem você quer conversar, hein? Com os assistentes sociais que aparecerão no apartamento quando decidirem que eu não tenho condições de cuidar da minha irmã que está batendo em garotos na escola? A menos que eu
tenha perdido alguma coisa, nós estamos do mesmo lado, Gems.

Ela não diz nada. Olho para Louis e ele está tranquilo. Com uma fé em mim que alivia um pouco a minha irritação. Ponho a mão na perna de Gemma etento de novo. Tento manter o nível da minha voz, tento evitar parecer meu pai, ser como ele.

– Precisamos ficar juntos. Não posso ajudá-la se você não falar comigo. O
que está acontecendo agora... é perigoso. Eu posso perder você.

Gemma está tremendo.

– Você está assustando ela – comenta Louis.

– Sinto muito, mas é uma situação assustadora. Acho que mais assustadora do que você pode compreender.

Gemma começa a chorar. Cerro os punhos, apertando com uma força que não fará bem algum ali. Não em uma escola, não em Putnam. Não posso sair dessa brigando. Não posso encontrar uma solução berrando.

– Você tem alguma sugestão? – pergunto a Louis.

Ele baixa a cabeça e sussurra uma pergunta a Gemma. Gemma sussurra algo de volta. Os dois continuam assim por alguns segundos, e então Louis diz:

– Ela quer que eu conte por ela. Tudo bem assim?

– Sim.

– Venha aqui.

Ele me leva até o outro lado da sala, o mais distante possível de Gemma, e se
recusa a começar a falar até que eu me sente. Por que ele está fazendo tanto esforço para me preparar para isso?

Então ela conta e é pior do que qualquer coisa que eu poderia ter imaginado. Eu pensei que Gemma estivesse com saudade das amigas, com vergonha dos seios ou desconfortável com o próprio corpo... mas o que Louis me conta é que há um garoto, um escrotinho cretino chamado Clint, que vem perturbando
Gemma no ônibus todas as manhãs e todas as tardes. Ele vem dizendo coisas pervertidas sobre a aparência dela, o corpo dela, coisas de conotação sexual que nenhuma menina de 10 anos de idade deveria ouvir. No Dia das Bruxas, a professora mudou a configuração das mesas dos alunos
para grupos de quatro mesas reunidas, e agora Clint está bem ao lado de Gemma. Assim, ela tem passado o dia inteiro ouvindo esse tipo de coisa. Ela aguentou e aguentou, até não conseguir mais. Limpo as minhas mãos suadas nas calças.

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